Um blog do Ministério Fiel
“Eu estava esgotado e não me afastei”
“Porque não conhecem as palavras.”
Essa foi a resposta inexpressiva do nosso presidente da diaconia quando alguém em nossa reunião trimestral de membros perguntou por que o ventilador no porão da igreja estava zumbindo.
Uma chegada feliz
Cheguei à minha igreja atual em julho de 1992 e, por uma década estável, nossas reuniões de negócios foram marcadas pelo amor, a união, simplicidade e o bom humor. A igreja não era uma utopia, nós éramos pecadores, e como tal, às vezes machucávamos e ofendíamos uns aos outros. Os problemas surgiam como em qualquer outro lugar, mas geralmente resolvíamos nossas diferenças rapidamente e fazíamos com alegria as atividades do Senhor. Durante os primeiros dez anos que servi na nossa igreja, nos concentramos em crescer na graça através do evangelismo e discipulado. A igreja era, e permanece, de um tamanho modesto, e os membros, em sua maioria, desfrutavam pacificamente do Senhor e um dos outros.
Olhando para trás, lamento a minha falta de apreço por essa época pacífica da vida. Mesmo tendo trabalhado no ministério por muitos anos antes de 1992, eu ainda tinha uma visão ingênua e idealista de como a unidade da igreja pode ser temporária e frágil. Muitas vezes ouvia meus colegas pastores falarem sobre a tensão constante que sentiam em suas congregações, o constante desânimo que sentiam em seus corações. Eu tentava ser solidário a eles, mas eu simplesmente não conseguia entender seus sentimentos.
Um tempo de guerra
“Porque eles não conheciam a Palavra” é a resposta curta de como passamos de pessoas que amam a paz para os que são hábeis na guerra. Você nunca sabe o quão ruim está o seu telhado até que cheque a chuva, e em 2002, sem aviso, um dilúvio “Noéico” caiu implacavelmente em nossa assembléia local na forma de dissensão, fofocas, calúnias, falsas acusações, explosões públicas de ira e um senso geral de desconfiança.
O bisturi que expunha o câncer abaixo da pele não era algo notável: um inocente pedido, de um membro fiel, para atualizar o estatuto da igreja. Eles foram escritos em 1933 e quase não foram tocados desde então. Para ler, revisar e, se necessário, alterá-los, primeiro precisávamos encontrá-los. Por fim, embaixo de uma pilha de papéis irrelevantes, encontramos uma cópia (talvez tenhamos encontrado a cópia). Parte da linguagem era tão antiquada que precisávamos da “Pedra de Rosetta” para decifrar seu verdadeiro significado. Ninguém levou a tarefa a sério, e olhando para trás, vejo que isso foi um erro crítico, pois a nossa (minha) negligência e falha em dar atenção aos detalhes foi o que despertou a falta de confiança. Seja como for, o câncer na igreja estava em metástase e teria surgido, eventualmente, mesmo se tivéssemos tratado as revisões do estatuto conscientemente.
Quando apresentamos algumas mudanças que refletiam a eclesiologia da nossa igreja, fomos acusados de conspiração e tentativa intencional de destruir a igreja, e o mais chocante, essas acusações vinham daqueles que anteriormente haviam apoiado muito a liderança.
O golpe foi tão devastador e dramático que eu, para todos os efeitos práticos, desisti. Não desisti tecnicamente porque na verdade não enviei minha demissão, eu desisti porque comecei tenazmente a buscar uma mudança para outra igreja.
Anteriormente, eu havia sido muito específico quanto às minhas convicções teológicas. Essas convicções se dissolveram quando comecei minha busca para encontrar uma nova igreja. Fiz uma busca “on-line” e encontrei um site genérico de “busca por pastores” e enviei uma tonelada de currículos prestando pouca atenção à doutrina e à teologia. Eu estava esgotado, não importava para onde eu estivesse indo, eu simplesmente tinha que encontrar uma saída rápida.
Meu esgotamento não foi causado por exaustão física. O pensamento de guardar um ano sabático nunca me atraiu. Meu esgotamento também não foi causado pelo desânimo de um ministério infrutífero. Pela graça de Deus vimos um fluxo constante de salvações, batismos e evidências da graça entre os santos. Simplificando, meu esgotamento foi causado por uma furiosa temporada de brigas internas na igreja.
Então, senti que deveria seguir meu caminho. No entanto, apesar de todas as iscas que joguei no mar das igrejas, recebi apenas uma mordida. Uma igreja que estava comprometida com os princípios de “Uma Igreja com Propósitos” pediu uma entrevista. Eu me fiz de “desentendido” e dei o meu melhor, tentando desesperadamente ser contratado. Felizmente, essa igreja não me queria e para poder continuar alimentando minha família fiquei quieto onde estava.
Enquanto isso, na “luta na jaula”, aqueles que se opunham à liderança dos Presbíteros se tornaram cada vez mais enfáticos e influentes. Essas pessoas, no entanto, não eram tão ameaçadoras quanto aqueles que fingiam amizade, mas secretamente eram inimigos. Começamos a categorizar os membros – as ovelhas de Cristo! – como “amigos” ou “inimigos” em nossas reuniões de presbíteros. Sentimos como se não pudéssemos confiar totalmente em ninguém. As carroças nos cercavam e nossa meta era a sobrevivência.
Com o melhor de minha capacidade, eu havia pregado, ensinado e enfatizado a importância da Bíblia, toda semana, por dez anos. Eu vivia sob a falsa suposição de que, porque eu constantemente chamava as pessoas para se submeterem às alegações da Bíblia, nossa igreja estava bem protegida de um colapso interno. Eu tinha assumido que, se abordássemos controvérsias com capítulos e versículos, a igreja experimentaria uma firmeza feliz.
Mas então descobrimos que nossos críticos não conheciam as Escrituras, nem consideravam isso como um meio de resolver teologicamente as questões. Percebi como é fácil para as igrejas evangélicas como a minha, abraçar slogans que afirmam a Bíblia como a Palavra inerrante de Deus, apenas para permitir que esses slogans sejam superados pelo pragmatismo e “formas que parecem corretas para um homem”.
Essas descobertas esvaziaram as balas de nossa arma. Se o estatuto da igreja de 1933 sobrepujou as Sagradas Escrituras, então não tínhamos um livro de regras inspirado pelo Espírito e nenhuma defesa.
Como Presbíteros, nós amorosamente tentamos envolver nossos oponentes com textos das Escrituras. Eles não taparam fisicamente seus ouvidos, mas bem que poderiam ter feito. “Não jogue bingo bíblico conosco”, disseram eles. Eles inscreveram esse mantra em seus escudos e continuaram lutando.
Como um pastor sobrevive se você tirar a Bíblia das mãos dele? Permita que a Palavra de Deus seja neutralizada, e ele vai se esgotar mais rápido do que fogos de artifício.
Lições aprendidas
“Porque eu não conhecia a Palavra”.
Essa é a razão básica desse dilema ter tirado o melhor de mim. Eu conhecia a Palavra por ser bem versado nos fatos, nas histórias e nas principais doutrinas da Bíblia. Mas eu não conhecia a Palavra com respeito à eclesiologia apropriada. Os Presbíteros eram homens piedosos e comprometidos, com integridade impecável. Eles também conheciam as Escrituras extensivamente.
Mas éramos fracos em nossas doutrinas de membresia, disciplina, eclesiologia e congregacionalismo liderado por Presbíteros. Ao examinar o cenário das igrejas evangélicas hoje, eu diria honestamente que nossa igreja, durante nosso tempo de crise, era relativamente sólida quando comparada com a maioria. No entanto, esse é um pequeno consolo que não trouxe conforto durante a tempestade.
Olhando para trás, estou convencido de que, se tivéssemos sido mais cautelosos em nosso processo de recebimento de membros, e se tivéssemos engajado os infratores nos princípios básicos de amar a disciplina da igreja, talvez pudéssemos ter evitado alguns de nossos problemas.
Durante dez anos pacíficos, nossa eclesiologia defeituosa nunca causou uma dor sensível. Deus foi e é muito misericordioso com a nossa igreja, ele foi misericordioso não só porque nos deu uma década de serenidade, e não apenas porque permitiu que cessasse nossa “guerra civil”, ele foi misericordioso e bondoso ao permitir que essa tempestade sacudisse nossa igreja.
Pessoalmente, aquela temporada de esgotamento e angústia me ensinou a empatia pelos meus colegas ministros. Meu orgulho pecaminoso de pastorear uma igreja onde a paz é abundante foi trazido à luz, e junto com ele veio o dom do arrependimento. Eu não sou mais tão rápido, impetuoso ou corajoso para distribuir conselhos a outros pastores sem primeiro ternamente considerar a natureza frágil das congregações formadas por pecadores. Além disso, como resultado do nosso julgamento, reforçamos nossa eclesiologia e nos tornamos mais sóbrios e vigilantes em nossas decisões.
Falando por mim mesmo, o maior benefício desse trauma horrível é que isso me aproximou do próprio Senhor. Esse episódio não chegou ao fim porque nós, os presbíteros, fizemos uma descoberta inteligente ou empregamos uma estratégia que mudou a situação. Muito pelo contrário, eu havia desisitido emocionalmente. Eu não tinha mais gasolina no meu tanque ministerial, “esgotado” não é um termo bíblico, mas descreve bem o que eu estava vivenciando.
Ministério é guerra
Então, qual foi o segredo da sobrevivência?
Porque conheci a Palavra, a Palavra encarnada, Jesus Cristo.
Essa é a resposta final de como a temporada de “esgotamento” foi substituída por alegria e um renovado entusiasmo para continuar. Não posso lhe dar uma resposta sobre como nossa igreja deu a volta por cima e voltou a ser um lugar de harmonia e amor.
Para os propósitos deste artigo, a resposta simples, de como eu pessoalmente sobrevivi, é o próprio Jesus Cristo! Eu era como Jeremias, totalmente pronto para jogar a toalha: “Quando pensei: não me lembrarei dele e já não falarei no seu nome, então, isso me foi no coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; já desfaleço de sofrer e não posso mais”. (Jr 20. 9).
Eu queria desistir, mas o Senhor não permitiria isso. Se dependesse de mim, eu teria ido embora há muito tempo, então, eu não quero me apresentar como um exemplo de perseverança no meio das lutas pastorais. Verdade seja dita, eu sou exatamente o oposto.
Paulo explica muito bem nosso chamado pastoral no último capítulo que ele escreveu. Ele diz a Timóteo para “cumprir cabalmente seu ministério”. Mesmo uma leitura superficial das duas cartas a Timóteo mostra que o “ministério” frequentemente envolve batalhas dentro da igreja. Antes de eu estar realmente no ministério, eu pensava que ele era feito de estudo, pregação, ensino, evangelização e discipulado. Essa é uma lista precisa, mas extremamente incompleta. Ministério também envolve guerra.
Os ataques vêm do mundo, com toda certeza, mas ataques ainda mais mortais vêm de outros crentes. As palavras finais de Paulo expressam essa frustração:
“Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia. Somente Lucas está comigo… Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu fortemente às nossas palavras”. (2Tm 4.9–11a, 14–15).
Paulo resume seu desapontamento no versículo 16: “Na minha primeira defesa, ninguém foi a meu favor”. Se Paulo, talvez o maior cristão que já viveu, passou por essas provações relativamente sozinho, então sei que dificilmente valeria a pena mencionar minhas pequenas provações.
Na época, elas pareciam significativas para mim, eu fiquei no ringue apenas porque “o Senhor me assistiu e me revestiu de forças”, como Paulo disse a Timóteo.
Em parte, o Senhor ficou comigo usando uma grande quantidade de apoio humano. Meus presbíteros, minha família e uma multidão de pessoas maravilhosas na igreja permaneceram corajosos e leais. Por seu apoio, continuo muito agradecido.
Mas, afinal, minha sobrevivência era uma questão de Jesus mesmo ser minha porção, meu guia, meu conforto e minha rocha, enquanto todo o mundo ao meu redor estava desmoronando. Como eu costumava ficar sozinho em lágrimas, tremendo fisicamente, incapaz de dormir e dominado pela preocupação, foi naquelas horas sombrias que Cristo me apoiou e me sustentou para que eu pudesse prosseguir.
É por isso que afirmei acima que Deus foi muito misericordioso em permitir que essa inquietação invadisse nossa igreja. Se não fosse pelas provações que me levaram ao esgotamento, eu mesmo não conheceria experimentalmente as bondosas misericórdias de Cristo, para sustentar seus pastores quando suas forças fracassassem. A natureza subjetiva dessa libertação foi concedida por Cristo através de seu Espírito Santo, e está ancorada na imutável e objetiva verdade do Evangelho.
Cerca de dois anos após essa crise, um sermão do pastor Mike Bullmore me apresentou as gloriosas verdades da centralidade funcional do evangelho. Os fatos imutáveis de que Jesus morreu por mim, e agora vive como meu mediador, tornaram-se as verdades dominantes que agora motivam minha vida e ministério.
Assim, para qualquer um que possa estar no meio do esgotamento – devido à exaustão ou aparente falta de fruto ou conflito ou alguma outra dificuldade – por favor, olhe para Jesus. Por favor, clame a Jesus. Por favor, aproxime-se de Jesus. Por favor, volte ao seu primeiro amor e medite no glorioso evangelho e seus benefícios insondáveis para aqueles que foram redimidos por ele. Conhecer o Verbo Encarnado não é apenas a resposta curta – é a única resposta para superar o esgotamento no ministério.