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Como Paulo pastoreava os solteiros?
Pode ser uma surpresa que Paulo tenha muito a dizer sobre os cristãos que são solteiros e como eles devem ver sua vida solteira. Paulo se concentra no assunto em 1Coríntios 7 em resposta a algumas perguntas que os cristãos coríntios lhe escreveram sobre casamento, estar solteiro e divórcio. Deve ter havido muitos “solteiros” na igreja de Corinto: muitos dos primeiros cristãos eram escravos (7.21), e muitos escravos não tinham controle sobre se poderiam ou não se casar. Além disso, as taxas de mortalidade eram altas e o divórcio era comum, portanto, muitos dos primeiros cristãos solteiros provavelmente já haviam sido casados antes (7. 8, 15, 39-40). Na providência de Deus, 1Coríntios 7 nos mostra como Paulo pastoreava os solteiros no primeiro século de Corinto e, no processo, dá aos líderes da igreja hoje conselhos úteis e práticos sobre como ajudar as pessoas solteiras em suas igrejas a promover o evangelho em suas circunstâncias especiais.
Primeiro, Paulo deixa claro que as circunstâncias do solteiro são especiais.
Seus comentários diretos sobre a necessidade de relações sexuais entre casais em 7.1-5 e a desnecessária zona de perigo na qual os casais entram quando se abstêm de sexo refletem o ensinamento em Gênesis 2. 18–25. Essa passagem se move do comentário de Deus: “Não é bom que o homem esteja só” até a conclusão: “o homem e sua mulher estavam nus e não se envergonhavam”.
Deus criou os seres humanos para serem criaturas sociais e sexuais, e o casamento é o meio que ele forneceu para lidar com os mais profundos anseios humanos por companheirismo e intimidade. Isso leva a um princípio crítico para o pastoreio de solteiros. Tanto quanto qualquer outra pessoa na igreja, aqueles que são solteiros devem entender a importância do casamento dentro do povo de Deus. Isso deve ser feito de uma maneira que não faça com que os solteiros se sintam menos que completos ou, de alguma forma, sem importância para o corpo de Cristo. Mas a resposta à complexa questão de como pastorear solteiros de uma maneira sensível à sua condição não é negligenciar o ensino sobre o casamento, ou isolar os solteiros em seu próprio mundo social e instrutivo dentro da igreja, longe dos casais e famílias.
Em segundo lugar, Paulo também deixa claro em 1Coríntios 7 que a condição de solteiro não é uma situação difícil que precisa ser tratada, uma emergência que precisa de atenção ou um problema que precisa ser resolvido. Bem pelo contrário: Paulo diz duas vezes na passagem que o estado de solteiro é “bom” (7.7, 26) e deixa claro que ele mesmo era solteiro (7.8).
Mas como estar solteiro pode ser “bom” quando Deus disse, antes de criar o primeiro casal, que não era bom que o homem estivesse sozinho? Tudo tem a ver com o que Paulo chama de “angustiosa situação presente” (7.26), isto é, o caos que a desobediência do primeiro casal a Deus introduziu no mundo. Uma das tarefas mais importantes para a igreja dentro de tal mundo é o avanço do evangelho, e isso leva a outro princípio no pastoreio de solteiros: eles precisam entender que eles têm uma oportunidade de avançar com o evangelho de maneiras e em lugares que seriam muito mais difíceis para casais e famílias.
Paulo não diz isso explicitamente, mas faria sentido se fosse por isso que ele disse “aos solteiros e viúvas” que “seria bom se permanecessem no estado em que também eu vivo” (7.8). Nós só temos que olhar para o que o progresso do evangelho parecia ser na vida de Paulo para entender o que ele quer dizer. Alguns capítulos antes ele colocou assim: “Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos” (4.11,12).
Não é que os solteiros precisem se casar ou suportar pesadas dificuldades físicas pelo bem do evangelho. Mas eles podem olhar para seu estado de solteiros estrategicamente do ponto de vista do avanço do evangelho. O tempo que as pessoas casadas poderiam passar cuidando de uma criança doente para lhe restabelecer a saúde, ajudando uma filha adolescente com um pedido de emprego, ou consertando os dois carros na garagem, uma pessoa solteira poderia passar visitando uma criança doente no hospital, descascando batatas na cozinha da igreja, ajudando o pastor a entender o Excel, ou acompanhando uma conversa sobre o evangelho com um colega de trabalho numa reunião em um café. E sim, uma pessoa solteira poderia, como um missionário solteiro, um amigo de anos atrás, acabar pilotando um helicóptero na África ocidental que ocasionalmente leva tiros.
Quer os solteiros promovam o evangelho de maneiras arriscadas ou inofensivas, o exemplo de Paulo também ilustra outro princípio importante de pastorear aqueles que não são casados. Ser solteiro na igreja nunca deveria significar estar sozinho na igreja. Paulo cercou-se de cooperadores no progresso do evangelho, tanto homens (Fp 2.22) como mulheres (Fp 4. 2-3), e esses amigos íntimos trabalharam com ele para tornar possível seu ministério.
Ao pastorear solteiros, é importante oferecer oportunidades para que eles se conheçam, tornem-se amigos e trabalhem juntos na causa comum do avanço do evangelho. Isso não precisa envolver um programa específico para solteiros (embora isso certamente possa ajudar), mas pode envolver simplesmente estarmos atentos em manter os solteiros na igreja, convidando-os a se conhecerem e incentivando-os a se voluntariarem juntos no trabalho, adoração e testemunho da igreja. No processo, alguns deles podem descobrir sua alma gêmea do sexo oposto com o qual Deus os leve a se casar. Mas, como a individualidade é boa em si mesma, essa certamente não deveria ser a meta não declarada em unir os solteiros.
Paulo afirma a bondade e utilidade de se estar solteiro. Ele faz isso diretamente em 1Coríntios 7 e no exemplo de seu próprio ministério. A igreja de todos os tempos deve também fazer isso encorajando os solteiros – sejam aqueles que nunca foram casados, os divorciados ou os viúvos – a olhar para o casamento de maneira positiva, mas a considerar sua condição de solteiro como uma oportunidade que Deus pode usar para, na companhia de outros crentes, promover o evangelho.