Um blog do Ministério Fiel
Pastoreando solteiros insatisfeitos
Vamos tentar um experimento nas conversas, podemos? Você pode reconhecer algumas das seguintes declarações nas conversas de seus próprios círculos sociais.
“Ela não é a coisa mais doce? Como ela ainda está solteira?”
“Ele é solteiro, mas ainda tem um grande potencial de liderança”.
“Não eu não sou casado. Apenas solteiro”.
Cada uma dessas declarações se refere ao fato de a pessoa ser solteira. Mas os seres humanos são incapazes de discutir fatos imparcialmente. Temos opiniões sobre esses fatos – ou poderíamos dizer, interpretações desses fatos. Talvez você tenha sentido as interpretações negativas sobre os solteiros que brotavam da superfície das afirmações acima: Se uma mulher é atraente o suficiente, simplesmente não há explicação para estar solteira; liderança é melhor provada em uma pessoa casada; a “solteirice” é um status reduzido (“apenas”) em comparação a ser casado.
Essa distinção básica entre fato e interpretação é útil quando se está pastoreando solteiros descontentes. Por interpretação, quero dizer apenas o significado que eles conferem à sua solteirice, como se sentem, que opiniões eles têm em relação a isso. Se a solidão é um fato, então o descontentamento é a interpretação.
Identificar o descontentamento como uma interpretação não tira o seu efeito, mas ajuda os solteiros a processarem sua experiência diante do Senhor. Como sabemos que o descontentamento é uma interpretação? Bem, o fato é que nem todos os solteiros são descontentes, e aqueles que estão descontentes podem estar assim por diferentes razões, em diferentes níveis de intensidade, ou com diferentes frequências. Alguns lutam com um descontentamento mais ocasional, desencadeado por interações ou situações específicas, enquanto outros lutam com um descontentamento mais crônico que se coloca sobre suas vidas como um nevoeiro que nunca chega a desaparecer.
Um bom pastor tem que ser um bom ouvinte – e depois de ser um bom ouvinte, um bom guia. Isso é verdade em qualquer situação em que os membros da igreja se encontrem, incluindo o descontentamento com a condição de se estar solteiro. Então, aqui está uma breve estratégia para ajudar alguém a processar sua experiência de descontentamento por ser solteiro.
Como você vê sua própria solteirice?
“Perguntas como essa são tentativas de ajudar os solteiros a entender o significado que estão atribuindo ao seu estado. No sentido mais amplo, aqueles que estão descontentes estão percebendo o “estar solteiro” como uma forma de sofrimento. Então, antes de você saltar para a linguagem do “dom da solteirice”, eu recomendo fortemente que você explore a questão do porquê, para eles em particular, a solidão fere.
Essas razões podem ir da solidão em si até uma decepção mais ampla que permeia outras áreas da vida. A experiência pode envolver medo de ser excluído da convivência ou ciúme daqueles que parecem desfrutar de tal privilégio. Pode incluir culpa por não ser suficientemente assertivo, auto aversão por não ser suficientemente atraente, frustração por não ser procurado ou por um desespero generalizado por causa do desarranjo.
Todas essas experiências indicam alguma avaliação de que a solteirice é uma barreira para algo que essas pessoas desejam. Em outras palavras, o casamento representa certos valores para eles, e eles estão dolorosamente conscientes de não ter acesso a esses valores. Como pastor, você precisa ajudá-los a ter consciência desses desejos específicos diante do Senhor. Mas antes de chegarmos a como processar desejos diante do Senhor, vamos inserir outro fator contribuinte para a interpretação deles em relação ao seu estado de solteiro.
Como as pessoas ao seu redor veem sua solteirice?
“Os solteiros são muito conscientes de como os outros interpretam sua solteirice. Os pais e membros da família muitas vezes estão ansiosos para compartilhar sua opinião explicitamente, ou para fazer o tipo de comentário que goteja com significado implícito, como as declarações em nosso pequeno experimento acima. Muitas vezes, você pode ajudar imensamente os solteiros, libertando-os do significado que outras pessoas conferem à sua solteirice.
Isso inclui membros da família e amigos próximos. Mas também inclui as conversas públicas das quais eles fazem parte – os pastores com quem se sentam, os blogueiros populares que leem, as comédias românticas que assistem, até mesmo as histórias que ouviram desde a infância. Que significado sua cultura confere à solteirice? Muitas vezes, há muito erro não intencional (e até mesmo alguma estupidez) misturados.
Tanto sua perspectiva própria quanto a perspectiva de sua cultura sobre a solteirice precisam ser submetidas a algo mais elevado.
Como Deus vê sua solteirice?
Deus diz pelo menos duas coisas sobre a solteirice: é sofrimento. E é um dom.
Não salte para a parte do dom sem afirmar a parte do sofrimento. Nos termos teológicos mais amplos, o sofrimento é a dor de viver fora da presença imediata de Deus, onde fomos projetados para viver em perfeita intimidade com ele. Os benefícios dessa intimidade refletem-se na aliança matrimonial que ele estabeleceu para o homem e a mulher (Gn 2.18). Para uma pessoa que deseja esses benefícios, não os receber é uma forma de sofrimento, uma vez que ele ou ela está sendo excluído do que Deus chama de bom. Afirme esses desejos. Em outras palavras, a falta desses valores que Deus criou como bons envolve o mesmo tipo de sofrimento reconhecido nos Salmos (por exemplo, Salmos 31, 37, 38, 42-43, 73).
Mas coloque esses desejos na estrutura maior de como Deus conduz seus filhos nesta era atual de espera. Enquanto para alguns esse seja o dom específico da solteirice (1Co 7.6-7), esse não é o meu ponto aqui. Meu ponto é que Deus é sábio o suficiente para fazer até mesmo sofrer por um dom. Deus muitas vezes retém as coisas que ele concorda que são boas para nos levar adiante para as coisas que ele diz serem as melhores.
Este é o segredo do contentamento de Paulo: se o bem é dado ou omitido, ele considera o valor de conhecer a Cristo Jesus como superior a tudo. Isso foi algo que ele reconhece que teve que aprender (Fp 4.11). Às vezes, na pressa de chegar à afirmação vitoriosa de Paulo sobre contentamento – “Posso todas as coisas naquele que me fortalece” – esquecemos que o contentamento é aprendido. E o ambiente de aprendizagem é necessariamente difícil para todos.
É um processo de aprender a submeter continuamente nossas interpretações a Deus. Consideremos o que ele diz sobre conhecer a Cristo como o valor mais alto que ordena todos os valores. À medida que os solteiros aprendem a ver sua solteirice por meio dessa lente, eles encontrarão um contentamento crescente. Esse contentamento não será livre de dor – já que existe sofrimento genuíno – mas pode ser livre de murmurações.
Se o descontentamento é uma interpretação, o mesmo acontece com o contentamento. É uma pessoa solteira que descansa no fato de que o que ele mais sofre em sua condição de solteiro não é permanente. Não faz parte da sua identidade permanente. Se Cristo é o cumprimento final de qualquer benefício que o casamento possa trazer parcialmente, então nenhuma pessoa é excluída do que é melhor.
Como pastores, devemos ajudar os solteiros a serem pacientes com o processo de aprender o contentamento, a não agirem como se sua solteirice fosse apenas um dom. Para muitos, é sofrimento. Mas a graça de Deus os ajudará a sofrer com esperança.