Uma carta para mães que erram

Bom dia, Maria[i]!

Mais uma vez, perdoe-me pela demora… eu realmente acabei me esquecendo.

Bem, primeiro, eu agradeço por toda a consideração que você demonstrou ter por mim, mas saiba que verdadeiramente eu não sou tudo isso… Não mesmo! Eu tenho muitíssimas falhas e pecados com os quais luto diariamente, e outros com os quais eu deveria lutar mais… Enfim, preciso admitir que estou longe, muito longe mesmo, do alvo. Eu estou na caminhada assim como você. Só que nessa corrida, por conta da minha idade, já passei por algumas etapas pelas quais você está passando agora.

Sabe, Maria, eu não cresci em um lar cristão. Na minha infância, não tive ensino algum sobre a salvação em Cristo. Mas se há algo que eu bem me lembro é que meus pais me ensinaram valores morais muito importantes como o respeito aos mais velhos, o uso de palavras gentis (obrigada, licença, bom dia…), ou seja, eles me educaram.  E eu, como toda criança, não gostava de ter alguém me dizendo o que fazer: “Fala bom dia! Cumprimenta o Fulano! Dê seu lugar para aquela senhora se sentar! Respeite os mais velhos!…”. Muitas vezes eu chorei, fiz “birra”, quis “ir embora dessa casa”, mas esses ensinos, essas boas maneiras, foram e ainda são muito importantes para mim e para os meus relacionamentos interpessoais.

Entretanto, ainda que eles tenham me criado com todo amor e dedicação quanto podiam, esses ensinamentos não eram suficientes para salvar a minha alma. Então, eu cresci bem-educada, porém, sem salvação. E foi assim até o dia em que o Senhor me resgatou, até o dia em que o Espírito de Deus me regenerou e me deu um novo coração… Isso aconteceu quando eu estava grávida da minha primeira filha, poucos dias antes dela nascer. Então, praticamente, nascemos juntas, ela da carne e eu do Espírito.

É claro que, tendo acabado de nascer de novo e de ter meus olhos descortinados para as verdades do Evangelho sobre a condenação eterna e sobre tão grande salvação, não havia outra saída, tampouco outro desejo, que ardesse mais em meu coração do que ensinar para minha filha tudo que eu jamais tinha aprendido sobre Deus, a fim de que ela também fosse salva. Enquanto nós crescíamos (eu no conhecimento do Senhor e ela fisicamente) eu fui me esforçando para “encucar” nela tudo o que eu aprendia, confiando que, se eu a ensinasse tudo o quanto ela pudesse aprender, ela seria salva – esse desejo se estendeu também para as minhas outras duas filhas.

Mas, como todas as outras mães do mundo, muitas e muitas vezes me faltou sabedoria na “dosagem” dos ensinamentos, às vezes dei doses demais, às vezes de menos. Cometi diversos erros, acertei algumas vezes e é assim até hoje, e assim será até o dia em que o Senhor me chamar – Isso porque a vida cristã, assim como a vida física, é feita de fases e, ao longo desses anos, a gente vai “crescendo”. Acredite, hoje, olhando para os primeiros passos dessa minha caminhada como nova convertida e mãe de primeira viagem, há muitas coisas das quais me arrependo de ter feito e outras que eu faria exatamente igual… Assim é a vida, feita de aprendizados!

O que é certo nessa equação toda é que: as mães erram!!! Salvo as exceções, mãe alguma erra buscando o mal para seu filho, seja ela cristã ou não! Isto é, as mães não erram porque não amam, erramos amando… Erramos quando não corrigimos, erramos quando corrigimos demais, erramos até mesmo quando corrigimos na medida certa… Erramos tentando acertar, mães erram… Erramos porque estamos sob os efeitos da queda.

Muitas vezes olhamos para as mães não cristãs e somos capazes de apontar diversos erros na criação dos seus filhos, sendo o principal deles a falta do ensino sobre a Palavra de Deus. Consideramos que somos mães melhores, porque nós ensinamos a Bíblia. Achamos que nossos filhos serão melhores, porque nós já falamos de Cristo para eles. Queremos que eles se comportem como cristãos exemplares e, quando isso acontece, nos orgulhamos e no fundo do nosso coração soltamos um “Yes!!! Eu ensinei…, ele aprendeu… Yes!!”. Mas, quando eles não se comportam como cristão, quando desobedecem, quando caem em tentação, quando se rebelam contra uma ordem, quando demonstram seus corações, quando não vencem a batalha contra seus pecados, nós nos frustramos e nos perguntamos o que estamos fazendo de errado: “Onde foi que eu errei?”. Sofremos, nos angustiamos, e logo queremos mudar a nossa técnica: “Quem sabe se aplicarmos outra teoria, outro pensador, outro filósofo, outro teólogo?!?”

Percebe??? Na tentativa de produzirmos filhos crentes, confiamos em nós mesmas, em nossos ensinos, nas técnicas que aprendemos, nas técnicas que aplicamos… Na tentativa de acertar, mais uma vez, erramos.

O que precisamos entender é que não podemos produzir a mudança de coração em nossos filhos. Não somos nós quem os salva. Nossa tarefa, nessa vida, é sermos canais das bênçãos de Deus sobre a vida deles, mas não somos produtores das bênçãos. Nós os carregamos em nossos ventres, mas Deus é quem os forma (Sl 139:13). Nós damos à luz, mas é Deus quem dá vida (Sl 91:16). Nós os alimentamos, mas Deus é quem dá o sustento diário (Mt 6:11). Nós os levamos ao parque, às festas, mas Deus é quem está em todos os lugares (Sl 139:7-10). Nós damos remédios, mas é Deus quem dá a saúde (Ex 23:25). Nós os vestimos, mas Deus é quem supre as necessidades (Mt 6:25-33). Nós oferecemos ensinos, mas Deus é quem dá sabedoria (Pv 2:6). Nós anunciamos o Evangelho, mas é Deus quem salva (Ef 2:8-9)…

Por isso, há filhos ímpios de país ímpios. Há filhos cristãos de pais ímpios. Há filhos ímpios de pais cristãos. E, pela graça de Deus, apesar da natureza pecaminosa tanto dos filhos como dos pais, há filhos cristãos de pais cristãos (ambos salvos, igualmente, pela graça)!! O que concluímos, então: que a salvação é resultado da graça.

Isso quer dizer que não devemos nos preocupar com os nossos filhos? Que devemos deixá-los seguir em seus próprios caminhos, que não devemos corrigi-los? Absolutamente, não! Todos os pais têm responsabilidades para com seus filhos e devem prover-lhes o alimento, o cuidado, a educação, a orientação, o carinho… A nós, pais cristãos, além de tudo isso, foi dado a nós a ordem, portanto, a responsabilidade de ensinar-lhes a Palavra (Dt 6:6-7), de educá-los na Verdade, de orar por eles, de discipliná-los com sabedoria (Hb 12:6-7), de amá-los (Tt 2:4), de não irritá-los (Ef 6:4), de levá-los à igreja para que sejam expostos à pregação da Palavra, de usar os meios de graça (orações, leitura bíblicas, comunhão dos santos, etc) para abençoá-los, de anunciar-lhes o Evangelho da salvação em Cristo (2Tm 3:15). Mas a nenhum de nós foi dada a responsabilidade de mudar os seus corações, de trazer-lhes arrependimento, de conceder-lhes fé, isso é obra divina! A regeneração é obra do Espírito, o arrependimento é fruto da regeneração, a fé é dom de Deus.

Bem, não é à toa que ser mãe é uma missão (1Tm 2:15)! Não é uma tarefa fácil, é árdua. É altruísta, pois, embora gostemos muito de um “chamego”, uma mãe não age esperando ser reconhecida pelos filhos, principalmente quando se trata de filhos imaturos. Uma mãe age para o bem desse filho, ainda que ele não entenda e ainda que ela erre tentando. Uma mãe cristã age em resposta obediente a Deus, sabendo que, nessa tarefa, ela não está sozinha, ela tem o Deus de Jacó como seu alto Refúgio, como Torre Forte, como Consolador, como Sustentador. A mãe cristã deve contar com a graça de Deus sobre sua vida e clamar pela graça de Deus sobre a vida de seu filho.

Maria, não espere que sua filha, em sua tenra idade, compreenda coisas que, se não fosse a graça, nem nós mesmos compreenderíamos. Não cobre dela o modelo de cristianismo que, muitas vezes, nem mesmo nós somos capazes de espelhar. Não coloque alvos tão elevados que sejam inatingíveis para ela, vá de degrau em degrau, de acordo com o seu crescimento. Esteja consciente de que ela vai falhar e ela vai pecar. E, quando isso ocorrer, leve-a a Cristo. Mostre a ela quem nós somos: pecadoras miseráveis. Mostre quem Cristo é: o Filho sem pecado. Diga-lhe que é por isso que nós somos salvas por ele; pois ele viveu uma vida sem pecado por nós, pecadoras. Ele viveu uma vida de obediência a Deus por nós, filhas desobedientes. Que devemos obedecer a Deus em gratidão por esse amor. Quando você precisar corrigi-la, faça isso depois de ter a certeza de que ela pecou deliberadamente, logo depois de ter sido advertida. Lembre-se que todo pecado é um erro, mas nem todo erro é pecado. Diga-lhe que você a ama e não gostaria de ter que corrigi-la, mas que precisará fazer isso para que ela se lembre que o pecado é mau e que ele a afasta de Deus.

E, acima de tudo, peça a Deus sabedoria e graça para esta missão que irá perdurar por toda a sua vida nessa terra. Minha querida sobrinha e irmã em Cristo, peço a Deus para você o mesmo que tenho pedido para mim, na criação das minhas filhas: que o Senhor a abençoe nessa tarefa. Que ele te sustente nas horas difíceis. Que ele te faça regozijar nas pequenas vitórias. Que ele lhe dê sabedoria e disposição nessa caminhada e que ele te conceda a graça de ver sua filha aos pés da cruz, salva por Cristo.

Com amor,

Sua tia

[i] Nota editorial: Maria é um nome que adotamos aleatoriamente para proteger a identidade da real receptora desta carta.

Por: Laise Oliveira. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: Uma carta para mães que erram.