Um blog do Ministério Fiel
Deus “cafeinou” seu mundo
Café, chá e refrigerante para a glória de Cristo
Ao contrário do dinheiro, a cafeína cresce literalmente nas árvores – e não apenas em um arbusto ou dois. Mais de cem espécies de plantas ao redor do mundo, em quatro continentes, contêm cafeína. Até os cristãos podem se surpreender ao descobrir o quanto Deus “cafeinou” o mundo que ele criou.
Uma das primeiras instruções de Deus para a nossa raça é esta: “Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra…” (Gn 1.29). Deus quer que os portadores de sua imagem exerçam domínio sobre seu mundo cafeinado. Isso não exige uso, por um lado, ou abstenção, por outro, mas sim o trabalho muito mais difícil de experimentar cuidadosamente, observar os efeitos, fazer julgamentos sábios, aprender o uso adequado (ou não) e exercer o autocontrole.
Efeitos da cafeína
Cientistas de todo o mundo tem notado os efeitos das drogas – a cafeína é uma droga, e poderosa. A cafeína “aguça a mente” e, como Murray Carpenter acrescenta em seu livro “Caffeinated”, a droga “não apenas aumenta a acuidade; também pode melhorar o humor”. Ao contrário da maconha, a cafeína (em doses moderadas) nos deixa mais acordados com o mundo em vez de menos.
John Piper escreve,
“É uma droga poderosa que permite que você seja um pai mais alerta, uma mãe mais consciente, ou um funcionário mais competente… A maioria dos bebedores de café espera permanecer acordada, fazer seu trabalho com mais confiança e dirigir com mais segurança. Certamente é possível abusar da cafeína, mas, como estimulante natural, é mais comumente usada não como uma fuga da realidade, mas como um esforço para interagir responsavelmente com a realidade”.
Qual seria, então, o uso moderado e responsável para o adulto médio? O USDA recomenda menos de 400 miligramas por dia. São cerca de quatro xícaras de café (cerca de 100 miligramas cada) ou oito xícaras de chá ou refrigerante com cafeína (cerca de 50 miligramas cada). Os efeitos da cafeína geralmente duram de cinco a seis horas.
A droga mais popular do mundo
A cafeína é a droga mais popular do mundo, consumida com mais frequência por meio das bebidas mais populares – café, chá e refrigerantes. Hoje, cerca de 90% dos adultos americanos consomem cafeína diariamente. Como funciona a cafeína? Não é um estimulante direto, mas indireto. É como colocar um bloco de madeira embaixo do pedal do freio do nosso corpo. Na verdade, não nos dá energia, mas evita que nosso corpo desacelere e se canse.
As Escrituras não mencionam cafeína, mas elas nos dão tudo o que precisamos para observar, aprender e decidir sabiamente como nós, cristãos, podemos usar corretamente (ou abster-nos de usar) a cafeína para a glória de Cristo – a saber, para nossa busca da satisfação que exalta a Cristo para nós e para os outros. Como acontece com outras substâncias poderosas, que ocorrem naturalmente na criação ou decorrentes do cultivo humano, Deus nos fez procurar o uso prudente e doador de vida (em vez de roubador de vida) do mundo que criou.
Como devemos pensar sobre o usar ou evitar cafeína na busca da satisfação em Deus? Considere quatro princípios ancorados na sua Palavra.
1. Deus criou cafeína para os cristãos
Primeiro Timóteo 4.3 adverte contra aqueles que “exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade”. Por hora, o principal ponto a observar é que Deus projetou as dádivas deste mundo não para os humanos em geral, mas especificamente para crentes.
Casamento e sexo, comida e bebida, Deus os designou, mesmo após o pecado e a queda, “para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade”. O bem que os incrédulos, ou crentes ingratos, possam receber pelo uso adequado da cafeína é secundário. O principal é o benefício recebido pelos crentes conscientes e agradecidos em Cristo. O que significa que é vital perguntar: como Deus pode ter criado cafeína para os cristãos? Como essa graça comum de Deus pode servir a propósitos especiais ou santos na vida cristã?
Para qualquer comida ou bebida que colocamos em nossa boca – de fato por toda a vida – começamos com 1Coríntios 10.31: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. Colossenses 3.17 nos permite considerar o uso (ou abstenção) de cafeína como uma ação explicitamente cristã: “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”. À medida que ponderamos os efeitos colaterais e dosagens, precisamos perguntar: Posso participar da glória do Pai? Posso consumir em nome de Jesus? Queremos relembrar que nossos corpos são “templo do Espírito Santo” e almejamos glorificar a Deus por meio deles (1Coríntios 6.19–20).
Nossa sociedade pode insistir violentamente: “Farei o que quiser com meu corpo”. Mas, com prazer, nos submetemos ao chamado do Cristo ressuscitado: “Apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo” (Romanos 12.1–2).
Meditação e oração
Como, mais especificamente, os efeitos do despertar e aguçar a mente pela cafeína podem servir à busca da alegria cristã? O jornalista Stephen Braun observou “a conexão entre cafeína e devoção religiosa”. Várias lendas sobre a descoberta de cafeína, de todo o mundo, associam os benefícios da cafeína à meditação e oração.
Fala-se de um pastor de cabras árabe chamado Kaldi, que notou os efeitos energéticos em seu rebanho quando este comia de um certo arbusto contendo cafeína. Kaldi experimentou as bagas do arbusto por si mesmo. Um monge sonolento observou sua energia por cinco horas.
“Impressionado, o monge perguntou a Kaldi o segredo de sua energia. Kaldi mostrou-lhe as bagas. O monge ficou encantado ao descobrir que agora podia orar mais e com mais atenção. Ele espalhou a notícia para seus colegas monges, que experimentaram outras maneiras de consumir as bagas. Eventualmente, as pessoas descobriram que torrar as sementes, triturá-las e embebê-las em água quente produzia uma bebida saborosa e que dava um “chute” maior do que o que seria conseguido com a simples mastigação dos frutos e sementes que contêm cafeína”. (Braun, Buzz: The Science and Lore of Alcohol and Caffeine, 111)
A cafeína pode funcionar como um inseticida natural, ajudando as plantas a evitar predadores. No entanto, de acordo com Braun, essa não é “a explicação completa para a presença da cafeína em tantos tipos de plantas” (113). Os cristãos podem ver impressões digitais divinas e serem capazes de preencher algumas lacunas em suas explicações. Piper comenta: “Se você precisa de cafeína para mantê-lo acordado pela manhã, deixarei isso com sua consciência. Talvez seja para isso que Deus a criou. Ficar acordado para orar é certamente um uso melhor da cafeína do que ficar acordado para qualquer outra coisa” (When I Don’t Desire God, 161–162).
Amor e boas obras
Mas a cafeína não apenas nos mantém despertos de joelhos e sobre nossas Bíblias, mas também pode ajudar na busca do amor e das boas ações. Braun se refere ao café como “a poção protestante”. O café chegou à Europa em meados do século XVII, através de seus portos marítimos mais empreendedores. Braun cita James Howell, que escreveu em 1660 que,
“essa bebida proporcionou uma maior sobriedade entre as nações. Enquanto anteriormente aprendizes e funcionários costumavam tomar cerveja ou vinho de manhã, que pela vertigem que causam no cérebro os tornavam muitos impróprios para os negócios, agora eles compartilham dessa bebida estimulante e civilizada”. (124).
A teologia da reforma, complementada pela cafeína (e não pelas cervejas matinais), produziu “a ética do trabalho protestante”. A utilidade do café pode ir além de ajudar os exercícios espirituais matinais (meditação e oração) e ajudar os esforços energéticos para atender às necessidades de outras pessoas durante o dia.
No entanto, a graça comum da cafeína na criação de Deus, e a dádiva que pode ser para os cristãos, não deve nos “embalar para dormir” em relação aos perigos do uso não discernido. Sobre a menção da consciência de Pedro, temos mais a dizer.
2. Deus julgará nossos hábitos
Carpenter escreve: “O dilema da cafeína é este: pode ser uma droga fantástica – uma das melhores – mas, como qualquer droga poderosa, pode causar problemas com consequências reais”. A cafeína forma hábitos e produz efeitos colaterais leves, embora reais, quando retirados. E diferentes fisiologias individuais lidam com a droga de maneiras diversas. Os efeitos são leves em alguns e mais agudos em outros.
Declarado puro
Apesar do que alguns grupos bem-intencionados argumentariam, a cafeína é “pura” para o uso cristão. Muito antes da descoberta da cafeína, Jesus nos ensinou: “Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar”; (Marcos 7.15; também Mateus 15.11). O apóstolo Paulo confirma: “Todas as coisas, na verdade, são limpas” (Romanos 14.20), e nos lembra: “Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não comermos, e nada ganharemos, se comermos”. (1Coríntios 8.8).
Reconhecer os perigos do uso inadequado não concede aos abstencionistas o direito de julgar a consciência de outras pessoas. O próprio Cristo (não os irmãos cristãos) será o juiz sobre se seus servos agem fielmente ou não. Dados os diferentes efeitos da cafeína em diferentes pessoas, devemos observar seu uso particularmente e sermos cautelosos ao instruir outras pessoas sobre seus hábitos. Muitos têm motivos bons e honrados para se abster; outros têm boas e honradas bases para praticar.
Teste seu consumo
Uma pergunta espiritualmente vigilante que os consumidores comuns podem fazer é: Estou mascarando padrões pecaminosos ou prejudiciais com o uso de cafeína? Como Matthew Lee Anderson perguntou: “Usamos essas bebidas para compensar nossos vícios ou compromissos antibíblicos de descanso e do sábado”? A cafeína está alimentando um “ativismo” pecaminoso ou um esforço profano para ir além dos limites dados por Deus da nossa humanidade criada por ele? Anderson acrescenta,
“Muitos de nós dependem de cafeína para alimentar nossas obsessões no trabalho. Os abusos de cafeína revelam uma cultura sobrecarregada e exausta que se recusa a descansar. Uma xícara de chá é um presente maravilhoso. Cinco xícaras por dia podem significar dependência doentia”.
Como cristãos, devemos estar atentos em observar os efeitos negativos da cafeína. Isso me ajuda a não apenas me sentir acordado, mas também a ter uma expectativa artificial? Muita cafeína altera o meu humor de maneira irresponsável? A cafeína é um disfarce para a falta de sono pecaminosa? É uma máscara para a desobediência? Por que ela me ajudaria a estar mais acordado hoje? É por razões idólatras (Provérbios 23.4) ou por um fluir de energia que pode ajudar outras pessoas a fortalecerem a alma?
Que ninguém seja julgado
No final, cada cristão estará diante de Cristo para responder pelo seu próprio uso de cafeína. As Escrituras fundamentam nossa autoavaliação cuidadosa, mas não dizem aos outros que devem se abster. “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida” (Colossenses 2.16). Talvez o melhor destaque seja Romanos 14.3–4:
“quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu. Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster”.
Os cristãos farão distinções honestas e de bom coração na escolha de consumir ou não cafeína, e não devem se julgar por elas.
3. Deus nos chama para não sermos dominados
De fato, os cristãos são livres para comer e beber e, sobre essa liberdade, o apóstolo Paulo nos dá uma instrução vital: “não me deixarei dominar” (1Coríntios 6.12).
Alguns anos atrás, logo após decidir não ser dominado por nada – incluindo cafeína – fiquei quarenta dias sem ela. Ironicamente, foi uma experiência reveladora. Os três primeiros dias foram mais difíceis do que eu esperava. E, após a primeira semana, ficou mais fácil do que o esperado.
Se você está acostumado a tomar café todas as manhãs, provavelmente sente dor de cabeça por abstinência de cafeína quando não a ingere por um dia. Dependendo da gravidade da dependência, pode levar vários dias para restabelecer seu corpo, sua mente e sua produção de energia para níveis normais. A redefinição completa normalmente leva cerca de uma semana.
Talvez você queira considerar um jejum de cafeína. Ou, pelo menos, comece a monitorar com mais cuidado a quantidade de cafeína que você consome todos os dias – se é realmente um nível saudável e se você poderia reduzir o consumo. Como todos as boas dádivas de Deus, ele nos chama ao autocontrole e à moderação fiel. A sabedoria de Provérbios 25.16 aplica-se à cafeína: “Achaste mel? Come apenas o que te basta, para que não te fartes dele e venhas a vomitá-lo”. Como acontece com qualquer um dos bons dons de Deus, exceto o de si mesmo, devemos preservar o dom desafiando nossa própria vontade pecaminosa por excesso ou “luxúria do querer mais”, como CS Lewis o chamou.
4. Deus nos convida a santificá-lo
Finalmente, se você usa cafeína, não consuma apenas, mas faça-o com ação de graças (e fé), tendo em vista o que Deus diz em sua palavra. Responda a ele em oração e, ao fazê-lo, santifique sua bebida com cafeína, como em toda a vida. O aviso que ouvimos em 1Timóteo 4.3 repousa nessa explicação e visão nos dois versículos seguintes:
“pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável, 5 porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado”. (1Timóteo 4.4–5)
Talvez um bom primeiro teste para nosso consumo de cafeína seja: Eu o recebo com ações de graça? (1Timóteo 4.4). Bebo em sua presença, diante de sua face, com fé? Romanos 14.23 diz que “tudo o que não provém de fé é pecado”. Bebo como cristão ou como os ímpios?
Porém, temos mais a dizer do que simplesmente participar de rotinas de gratidão consciente a Deus. Primeiro Timóteo 4.5 nos motiva a dar um passo adiante e tornar isso santo pela palavra de Deus e pela oração. “A palavra de Deus” é simplesmente o que Deus diz sobre isso. Procurei preencher este artigo com textos bíblicos relacionados ao que Deus diz sobre a bondade de sua criação, incluindo cafeína, bem como sobre a sabedoria e gratidão com que ele nos chama para receber sua dádivas.
Ninguém beba para si mesmo
A oração é a nossa resposta de volta a Deus à luz do que ele diz. Tornamos sagrado o consumo de cafeína por meio de orações curtas e sussurradas de louvor, ação de graças e petição. Talvez algo como o seguinte:
Pai, eu te louvo como aquele por quem mais vale a pena ficar acordado. Te agradeço por “cafeinar” seu mundo e dar esse presente para nosso alerta, energia e alegria. Se agrade em usá-la no meu corpo e santifique-a. Deixe-me alerta para o Senhor e seu evangelho e para as necessidades dos outros. Dê-me energia para atos de amor, serviço sacrificial e testemunho do evangelho. Capacite-me, particularmente pelo seu Espírito, para fazer Jesus ser manifestado hoje. Em nome dele, eu oro. Amém.
Em Romanos 14–15, quando Paulo aborda as questões secundárias que estavam dividindo alguns cristãos no primeiro século, ele baseia seus ensinamentos nessas preferências aparentemente pequenas na realidade sólida do que Cristo realizou por nós. E não é irrelevante para o nosso uso ou abstenção de cafeína hoje:
“Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor. Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos”. (Romanos 14.7–9)
Se chamamos alegremente Jesus de “Senhor”, reconhecemos que somos dele, e genuinamente procuramos viver para ele, e não para nós mesmos, então as coisas importantes estão no lugar certo e nós podemos desfrutar da cafeína para a glória de Cristo.