Reforma e Resgate

Dentre os muitos resgates efetuados pela Reforma Protestante, e todos eles sempre como resultado de um retorno sério, humilde e consistente à autoridade das Escrituras, encontra-se a correta apreciação e o correto uso da estética e da arquitetura. Não foram processos rápidos, mas desembocaram, no devido tempo, na aplicação da Palavra de Deus à vida dos crentes e da igreja.

Para mencionar dois exemplos fáceis: não é difícil ver como a pintura mudou, após a Reforma, dando o devido valor à Criação, como ato sábio, belo e instrutivo de Deus. Basta dizer que a iluminação de um ambiente – uma sala ou quarto, por exemplo –, deixou de vir da auréola sobre a cabeça de algum personagem bíblico ou eclesiástico, para vir da… janela! Ou de uma lamparina, pendurada no teto.

Os puritanos constituem outro exemplo interessante. Tão logo foi lhes possível, os locais de reunião para culto começaram a ser planejados para demonstrar – e instruir – a todos, como um culto deveria ser e onde deveria estar sua centralidade: púlpito centralizado, ambiente bem iluminado pela luz natural e cheio de simplicidade, para que nada distraísse os adoradores, levando a atenção deles para longe da pregação da Palavra e de Cristo – para quem ela aponta.

Quando essas poucas coisas vêm à mente (há muitas outras que poderiam ser citadas aqui), uma em particular chama a atenção, dado que parece ser a última moda – ou uma das mais recentes, já que a alta rotatividade é a característica mais notável do modismo gospel: pintar as igrejas de preto, transformando-as em algo parecido como uma sala de cinema ou teatro. Há, pelo menos, uma razão por que isso chama a atenção:

Aparentemente, tanto os puritanos como o mundo gospel atual querem chamar a atenção para o que acontece à frente do culto. No entanto, os puritanos tiveram o cuidado de observar a doutrina da igreja e perceber que o culto é um ato congregacional, e não uma performance assistida por um auditório. Pessoalmente, me causa grande estranheza entrar num ambiente assim para um culto, numa igreja local. Não por questão de gosto ou iluminação. Estou acostumado a salas de apresentações artísticas. Mas quando me encaminho a um culto congregacional, numa igreja local, espero ver a congregação. Esteja ela à minha frente, ao meu lado ou às minhas costas, é a Congregação que cultua, que adora e que proclama. Há algo no ato congregacional que o torna diferente de toda nossa experiência ao longo da semana. Até porque, uma autoridade foi dada, pelo Senhor Jesus, à igreja reunida, que não foi dada a cristãos, individualmente. Não levantarei, aqui, a questão da motivação: do porquê esse arranjo do “templo”. Elas podem ser boas ou não. Mas dificilmente serão teológicas – ou, teologicamente bíblicas, já que toda prática, na igreja, é teológica, embora nem sempre enraizada em boa teologia.

Sim, neste 31 de outubro, precisamos continuar resgatando. O “Igreja reformada, sempre [se] reformando” continua sendo um dos resgates mais importantes feitos da Reforma – e é um trabalho que não termina até que Ele volte.

Por: Maurício Andrade. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: Reforma e Resgate.