Um blog do Ministério Fiel
O que fé e incredulidade têm a ver com sexualidade?
Sexualidade e Pecado
Ao criar o sexo Deus também estabeleceu um padrão para que pudéssemos desfrutá-lo da melhor forma. No entanto, como seres contaminados pelo pecado acreditamos que podemos encontrar maneiras “melhores” de usar o sexo e obter mais prazer. Acreditamos na mentira da serpente de que há algo melhor além do arco-íris; algo do qual Deus está nos privando porque Ele não quer que sejamos plenamente felizes. Contudo, é justamente por desejar que tenhamos gozo eterno que Deus estabeleceu limites seguros para nós. A obediência a esses limites é o primeiro passo para desfrutarmos da sexualidade com verdadeira alegria e contentamento.
A Escritura classifica os pecados de ordem sexual em uma única categoria: imoralidade sexual[1]. Em suma, a imoralidade sexual se refere a toda prática sexual fora do padrão de santificação que Deus estabeleceu. Não haverá prazer verdadeiro nem alegria verdadeira a menos que obedeçamos a esse padrão. Sendo assim, podemos afirmar que a obediência é o primeiro passo para uma sexualidade bíblica – conforme o padrão de Deus.
Fé e Incredulidade
O que fé e incredulidade têm a ver com sexualidade? Muito mais do que podemos imaginar. Viver nossa sexualidade conforme o padrão que Deus estabeleceu implica em crermos que a despeito das diversas proposições que o mundo possa nos apresentar, o caminho de Deus é sempre o melhor. Isso é fé. Se apegar fielmente às promessas de Deus, crendo que nosso sacrifício, renúncia e submissão têm um propósito muito maior que nossa existência neste mundo também é fé. Portanto, uma sexualidade bíblica só é possível por meio de uma fé alicerçada em Cristo.
Por outro lado, todo o pecado está intimamente ligado à incredulidade, em seu cerne está a desobediência à Palavra Deus; o que é a desobediência senão um ato de incredulidade? Deixamos de crer na Palavra do Criador e em suas promessas e depositamos nossa fé nas coisas criadas.
Em seu livro Lutando Contra a Incredulidade, o pastor John Piper afirma que estar satisfeito em tudo o que Deus promete ser para nós em Cristo Jesus é a essência da fé, sempre que deixamos de crer e estar satisfeitas nessas promessas caímos em incredulidade e pecamos.
“[…] fé é o poder que corta a raiz do pecado. O pecado tem poder por causa das promessas que faz a nós. Ele fala assim: ‘Se você mentir na sua declaração de imposto de renda, você terá dinheiro extra para conseguir aquilo que lhe fará mais feliz. Se você olhar esta pornografia, você terá uma onda de prazer que é melhor do que a alegria de uma consciência limpa.’ […] Ninguém peca por obrigação. Nós pecamos porque acreditamos [depositamos nossa fé] nas promessas enganosas que o pecado faz. […] As promessas do pecado são mentiras. Lutar contra a incredulidade e pela fé na graça futura significa que combatemos fogo com fogo. Nós lançamos as promessas de Deus contra as promessas do pecado. […] Nós mortificamos os feitos pecaminosos antes que eles aconteçam, quando cortamos a raiz que lhe sustenta: as mentiras do pecado.”[2]
Resumindo, a luta contra o pecado é, antes de tudo, uma batalha contra a incredulidade, e a incredulidade, por sua vez, está atrelada ao nosso coração, fonte de todos os nossos ídolos.
A raiz do problema
Quando pensamos em pecado tendemos a considerar somente o seu aspecto externo; se tratando de pecados sexuais, nos referimos à pornografia, masturbação, fornicação, adultério. No entanto, geralmente, deixamos de lado a face oculta do pecado, sua origem, suas motivações, o solo onde ele cresce até que seus frutos se tornem visíveis. Em Mateus 5:28 Jesus disse: “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela”.
O que Jesus estava dizendo? Como é possível cometer adultério sem ter qualquer tipo de relação com outra pessoa? Como é possível ser adúltera diante da tela de um computador? Ou ao cobiçar um colega de trabalho? E ao desejar, bem lá no íntimo, ter me casado com o marido de minha amiga? Como é possível cometer tão grave pecado sem sequer externa-lo?
Às vezes por medo ou falsa moralidade não chegamos a cometer determinados pecados externamente e isso nos traz um falso senso de dignidade, algo que a Bíblia chama de hipocrisia (Mat 23.25), mas Jesus vai até a raiz do problema mostrando que não importa o quão limpo nosso copo esteja por fora, a questão crucial é o quão limpo ele está por dentro. O fato de nossos pecados não serem externados ou vistos não significa que eles não existam. Se, de fato perscrutarmos nossos corações veremos que há muito mais pecados do que ousamos reconhecer. As coisas que alimentamos em nossas mentes e corações, embora não tenhamos coragem de realizar são tão pecaminosas quanto aquelas que chegamos a realizar.
Não cobiçarás
Se analisarmos minuciosamente os últimos mandamentos descritos em Êxodo 20.13 – 16: não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho contra o teu próximo (Êx 20.13 – 16), veremos que no cerne de cada pecado há um forte sentimento de cobiça. A cobiça é a causa do assassinato, do adultério, do furto, do falso testemunho. Se você não cobiçar a mulher do seu próximo, não cairá em adultério, se não cobiçar as coisas do teu próximo, não furtará, se não cobiçar a reputação do seu próximo, não dará falso testemunho contra ele. Em outras palavras, devemos fugir da cobiça para que ela não nos leve a pecar.
“Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem [cobiçarás] seus servos ou servas, nem seu boi ou jumento, nem [cobiçarás] coisa alguma que lhe pertença” (Êxodo 20.17).
“Algum tempo depois, a mulher do seu senhor começou a cobiçar José. E um dia ela o convidou: Vem e deita-te comigo!’” (Gn 39.7)
“Um dia, após o almoço, Davi levantou-se depois de ter dormido um pouco, e foi passear no terraço do palácio real. Do terraço avistou uma mulher que banhava-se. E notou que era uma mulher muito bonita.” (2 Sm 11.2)
“Não cobices no teu coração […] nem te deixes seduzir” (Provérbios 6:25)
“Tendo os olhos cheios de adultério [isto é, imoralidade], nunca param de pecar.” (2 Pe 2.14)
“[…] cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado […]”. (Tg 1.14 – 15)
“Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. Infiéis […]” (Tg 4.2 – 4)
A cobiça atrai, seduz e dá luz ao pecado. A cobiça é incredulidade, pois deposita sua fé naquilo que acredita que saciará sua fome. A cobiça é mentirosa, pois, no fim das contas, ela revela sua face insaciável: quanto mais a alimentamos mais famintas e vazias nos tornamos. A cobiça é infidelidade, pois toma as dádivas de Deus: nosso corpo, nossa sexualidade e as transforma em instrumentos para o pecado. A cobiça é prazer vazio e transitório. “Cobiça é desejar qualquer outra coisa senão Deus, de uma forma que revele uma perda de contentamento e satisfação nele. A cobiça é um coração dividido entre dois deuses. Paulo chama isso de idolatria”[3]. Em suma, a cobiça é idolatria.
[1] Grego: porneia a mesma raiz da palavra pornografia.
[2] PIPER, John. Lutando contra a incredulidade. São José dos Campos, SP: Fiel, 2014, p. 16
[3] PIPER, John. Lutando contra a incredulidade. São José dos Campos, SP: Fiel, 2014, p. 94.