Primeiro domingo de advento: O Descendente

“Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela. Este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar.” Gn 3.15

No livro “Por que sou Cristão”, John Stott nos apresenta o “cão de caça do céu”. Ao citar um poema de Francis Thompson (“The Hound of Heaven”), Stott diz que poderíamos comparar Deus a um cão de caça. Usando como exemplo as conversões de Paulo, Agostinho e C.S Lewis, Stott demonstra como Deus “caçou” esses homens para si. Afinal de contas “nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19). A salvação repousa no fato que fomos “caçados”.

Isso fica evidente logo nos primeiros capítulos da Bíblia. Em Gênesis 3, após Adão e Eva terem pecado contra Deus, lemos dois versos surpreendentes:

8Ao ouvirem a voz do Senhor Deus, que andava no jardim quando soprava o vento suave da tarde, o homem e a sua mulher se esconderam da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. 9E o Senhor Deus chamou o homem e lhe perguntou:
— Onde você está?

Deus estava “andando” no Jardim novamente. Ele não tinha abandonado o casal. Deus veio em direção a eles e graciosamente perguntou a Adão: “Onde você está?”. Deus estava “caçando” eles! Aprendemos mais tarde que essa caça divina não é motivada pela qualidade da presa, mas sim pelo caráter do caçador. Deus é “rico em misericórdia” e tem “grande amor” (Ef 2.4).

Percebendo que homem e mulher não se arrependeriam e escolheriam a quebra definitiva do relacionamento, Deus então decide dar mais um passo. Fez uma promessa dizendo que embora eles tivessem causado o problema, ele resolveria a situação. Essa promessa está em Gn 3.15 e podemos resumi-la em dois pontos:

– Haveria inimizade nos descendentes da serpente e da mulher. Desde então temos duas descendências na história humana.

– O descendente da mulher (singular) teria vitória final e decisiva sobre a serpente. Embora fosse ferido (“ferirá o calcanhar”), ele esmagaria a cabeça da serpente.

O verso 15 de Gênesis 3 é um dos versos mais preciosos que temos na Bíblia. Teólogos na história já o chamaram de “protoevangelho”, ou seja, nele é visto claramente a promessa de Jesus sendo crucificado, tendo seus pés ferido na cruz, mas ao mesmo tempo vencendo e subjugando satanás. O apóstolo Paulo diz que quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho “nascido de mulher” (Gl 4.4) e que o verdadeiro “descendente” é Cristo (Gl 3.16).

Portanto, logo nos primeiros versos da Bíblia, Deus deixou claro para todos quem seria aquele que poderia nos oferecer salvação. Quem seria aquele que resolveria o nosso problema da alienação divina, do pecado e suas consequências. Quem seria ferido no calcanhar um dia numa cruz, mas venceria definitivamente. Deus deixou claro para nós que ele nos caçaria através de seu Filho. Aliás, podemos até pensar que o Jesus foi “caçado” pelos romanos sendo “rodeado de cães” (Sl 22.16), mas é exatamente nessa “caçada” que estávamos sendo resgatados.

Neste primeiro dia de advento, sejamos gratos pelo resgate realizado por Cristo Jesus na sua primeira vinda, aguardando ‘a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador’ (Tito 2.13).

Por: Thiago Guerra. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: Primeiro domingo de advento: O Descendente.