Uma excelente teologia sistemática reformada que você nunca ouviu falar

Após a tradução marcante dos quatro volumes de sua Dogmática Reformada na virada deste século, o interesse pelo teólogo reformado Herman Bavinck (1854-1921) cresceu exponencialmente. Na verdade, é como se o destino de Bavinck fosse mais influenciar o século 21 do que o século 19, durante o qual ele escreveu a maior parte da sua obra dogmática. Um fluxo constante de novas traduções e edições de suas outras obras surgiu (p.ex., Saved by Grace,Essays on Religion, Science, and SocietyThe Christian FamilyOn Preachers and PreachingPhilosophy of Revelation, Reformed Ethics, The Sacrifice of Praise, Christian Worldview).

Mas há um livro que foi quase esquecido nessa enxurrada de interesse e entusiasmo. Traduzido por Henry Zylstra e originalmente publicado em inglês pela Eerdmans em 1956 sob o título Our Reasonable Faith, este livro de teologia sistemática representa a destilação feita pelo próprio Bavinck de sua magnum opus de quatro volumes. Embora disponível em inglês por mais de 50 anos, ela continuou bem esquecida fora das paredes de seminários reformados.

As razões para esse esquecimento são misteriosas, pois esse livro provavelmente é a melhor teologia sistemática reformada de volume único que já foi produzida. Portanto, é muito bom que a Westminster Seminary Press tenha agora restaurado o título original (Magnalia Dei ou As maravilhas de Deus) e a republicado num formato digno de tal livro.

Formato

Por “formato” eu quero dizer que o próprio suporte físico do livro é bonito, desde sua sobrecapa de ótima textura, até a própria capa por trás, passando pela encadernação diferenciada. As anotações não vão ficar manchadas no papel e o livro fica facilmente aberto na sua mesa. A estética é incrível.

Dentro, vê-se uma tipografia nova para a tradução de Zylstra. Junto com muito mais. O professor do seminário de Westminster R. Carlton Wynne introduz bem a obra de Bavinck e o pano de fundo do livro e Nataniel Gray Sutanto traduz o prefácio escrito pelo próprio Bavinck pela primeira vez, o qual fora omitido por Zylstra.

O mais útil é o índice enorme de assuntos e de referências bíblicas compilado por Charles Williams, o que aumenta a utilidade do livro para estudantes e pesquisadores.

Conteúdo

Quanto ao conteúdo, como já mencionado, trata-se da destilação do próprio Bavinck dos quatros volumes da sua Dogmática Reformada em um único volume. Mas isso pode ser enganoso: não é um resumo dos quatro volumes. Na verdade, é a reformulação original de Bavinck da sua obra dogmática para uma audiência leiga. Em 1910, um resenhista colocou da seguinte forma: “Apenas um erudito poderia ter escrito este livro, mas ele escondeu as suas ferramentas.” Bavinck deixou de lado os seus utensílios de cozinha para que só o prato aparecesse Tudo que tende a dissuadir os leitores da sua obra em quatro volumes (estudos lexicais nas línguas originais; profundas interações com teólogos e filósofos contemporâneos; panoramas extensos sobre a história da doutrina) são minimizados e o que brilha acima de tudo é a sua dependência suprema da Sagrada Escritura.

Os seus capítulos são organizados quase como se fosse um catecismo sem rodeios, começando com “Deus, o bem supremo” e terminando com “vida eterna”. No intervalo, encontra-se os tópicos comuns da teologia sistemática: revelação, Escritura, Deus, humanidade, pecado, pessoa e obra de Cristo, justificação, santificação, igreja e assim por diante.

Uma das dificuldades com a obra mais extensa de Bavinck é que ele interage tão caridosamente com seus variados oponentes que às vezes é difícil discernir o que ele mesmo diz — o que ele realmente pensa sobre vários pontos. Isso não é um problema em As maravilhas de Deus. Como professor por excelência, Bavinck escreve de forma mais clara, direta, profunda, pastoral e também agradável ao leitor.

Obras de Deus

Para muitos, “teologia sistemática” — talvez especialmente quando for teologia reformada! — é uma disciplina cansativa e até suspeita. Rememora-se argumentos analíticos complicados em silogismos lógicos, uma tentativa abstrata de tratar a Bíblia como um experimento científico ou, até pior, uma lista artificial de “textos-prova” predestinados a chegar precisamente aonde o teólogo decretou que chegariam. Bavinck é um alívio, nesse ponto. As maravilhas de Deus não é uma obra “escolástica”, no sentido clássico.

Como um autor precisa fazer, ele aborda os tópicos doutrinários um a um, mas a impressão geral é que ele está contando uma história unificada, que se desenvolve organicamente, e, relembrando o título, o protagonista nesta grande história é o próprio Deus. Na verdade, Bavinck não está ensinando “doutrinas” cristãs; ele está explorando as obras de Deus. Considere uma passagem escolhida aleatoriamente, introduzindo as doutrinas da criação e da providência:

A Escritura não quer nos dar um conceito abstrato da divindade, mas quer colocar todos nós pessoalmente em contato com o Deus vivo e verdadeiro. A Escritura rompe com nossas noções e conceitos nos conduzindo de volta ao próprio Deus. Portanto, a Escritura não argumenta sobre Deus, mas o apresenta para nós e o mostra em todas as obras das suas mãos. É como se a Escritura dissesse para erguermos nossos olhos e contemplarmos aquele que fez todas essas coisas. Desde o começo, as coisas invisíveis, seu eterno poder e divindade são cuidadosamente diferenciados das criaturas — as coisas que foram criadas. Não aprendemos a conhecer e glorificar a Deus de modo independente das suas obras, mas pelas e nas suas obras na natureza e na graça.

Esse aspecto devocional pode não ser comum na maioria das teologias sistemáticas, mas é característico de As maravilhas de Deus. As famílias cristãs deveriam ter alguma obra de referência ou algum guia para ajudar a entender a Bíblia e a teologia e para consulta quando confrontada com questões confusas ou difíceis. Muitos livros fornecem respostas que satisfazem a mente; melhor ainda é o livro que leva essas respostas ao coração para incitar adoração e louvor.

Na estante da família

Há outro aspecto notável no que Bavinck fez. No seu endosso, John Bolt observa que “nenhum treinamento especializado é preciso para entender e apreciar esta obra”, contudo o que é significativo é que aqueles com treinamento especializado vão encontrar muito aqui para lhes desafiar e recompensar. É raro um livro a nível popular que se vence o desafio de manter a atenção do especialista, mas é exatamente isso que Bavinck produziu. Eu me lembro muito bem de ler os capítulos sobre justificação e santificação durante o meu seminário e ficar impressionado com sua abordagem cuidadosa a questões extremamente difíceis e eu retorno a este livro repetidamente. Eu fico muito grato por ter agora esse formato novo e tão bonito.

Bavinck pretendia que a sua Dogmática Reformada estivesse na estante do acadêmico que As maravilhas de Deus estivesse na estante da família. O primeiro objetivo já foi alcançando em grande medida, e agora a Westminster Seminary Press fez a sua parte para o segundo. Eu não posso recomendar um livro com maior entusiasmo.

A edição em português de As maravilhas de Deus está disponível em português com exclusividade na The Pilgrim.

Por: Brian Mattson. © The Gospel Coalition. Website: thegospelcoalition.org. Traduzido com permissão. Fonte: The Best Single-Volume Reformed Systematic Theology You’ve Never Heard Of.

Original: O melhor livro de teologia sistemática reformada que você nunca ouviu falar. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados.