Um blog do Ministério Fiel
Homens solteiros podem servir como presbíteros?
Um dos primeiros passos mais significativos que fizemos na jornada de revitalização da igreja na First Baptist Church em Durham foi filtrar os candidatos a diáconos de acordo com as qualificações bíblicas. Naquela época, a política da FBC consistia em um único presbítero, uma “junta” de diáconos, uma série de comitês e autoridade congregacionais eleitas em votação nas assembleias da igreja. Os diáconos exerceram um papel não bíblico como pastores, servindo como “subpastores”, junto ao “pastor” para ministrar à igreja. Os diáconos foram eleitos por um processo democrático com quase nenhuma seleção – os oito principais candidatos simplesmente foram eleitos. Frequentemente, isso significava que os líderes empresariais mais bem-sucedidos da comunidade ou os voluntários que mais trabalhavam se tornaram diáconos. Em suma, era um concurso de popularidade.
Assim, quando começamos a exigir que os candidatos a diáconos prestassem testemunho de suas qualificações com base em 1Timóteo 3 e Tito 1, as coisas começaram a mudar de forma notável. Desde então, os papéis de presbítero e diácono foram reformados pelos padrões bíblicos, pois o processo de escolha de candidatos qualificados para ambos os ofícios também se tornou mais robusto e saudável.
No entanto, é possível usar essas passagens de 1 Timóteo e Tito de forma mais sólida, e assim, selecionar os candidatos piedosos que o Senhor qualificou para servir. Porém, antes de selecionarmos e”xcessivamente”, precisamos garantir que “discernimos corretamente” (2Tm 2.15) as passagens relevantes. Ser excessivamente restritivo com base nessas passagens pode ser quase tão prejudicial quanto ter pouca ou nenhuma restrição.
Então, vamos à pergunta em questão: os homens solteiros podem servir como presbíteros ou devem ser “descartados” por não atenderem à qualificação de “marido de uma só mulher” (1Tm 3.2; Tt 1.6)? Em suma, acredito que descartar os homens solteiros seja excessivamente restritivo e, portanto, faz com que as igrejas percam algumas ricas bênçãos que o Senhor deu.
Essa restrição não seria lembrada, exceto se as passagens parecessem ensiná-la. Mas uma análise mais atenta mostra que essa abordagem leva a conclusões prejudiciais e até absurdas. Por exemplo, eliminaria Jesus, Paulo e (ao que parece) Timóteo do cargo de presbítero. Negaria também o caso poderoso que o apóstolo Paulo apresenta em 1 Coríntios 7 pelos benefícios que a singeleza traz ao ministério. Paulo celebra os servos solteiros como “livres de preocupações” e capazes de se concentrar completamente em como eles podem agradar e servir ao Senhor, vivendo em devoção total (1Co 7.32, 35).
Com base nisso, homens solteiros que servem como presbíteros podem destacar essas verdades na vida da congregação, especialmente porque é tão incomum, pelo menos nas igrejas batistas por onde eu já estive. Assim como os presbíteros casados podem viver diante de suas congregações o valor imensurável de um casamento saudável e de uma paternidade piedosa, também um presbítero solteiro pode viver os aspectos superiores da vida de solteiro, como celebrado em 1 Coríntios 7.
Além disso, proibir homens solteiros de servirem como presbíteros com base na exegese de 1 Timóteo 3 e Tito 3 leva a algumas conclusões paralelas prejudiciais. Por exemplo, um viúvo não seria excluído de servir, já que atualmente não é marido de uma só esposa? Pode-se imaginar um homem perdendo sua esposa e seu ministério no mesmo dia, tudo por uma interpretação excessivamente restritiva. Da mesma forma, o que dizer de homens sem filhos, ou pais de apenas um filho? Eles não seriam excluídos? Afinal, Tito 1. 6 parece exigir filhos.
Acredito que a forma como lidamos com esse texto se aplica à maneira como lidamos com o requisito de “marido de uma esposa”. Se um homem tem filhos que ainda vivem em casa, eles devem ser submissos à sua autoridade, não rebeldes ou desobedientes; se um homem é casado, ele deve ser “esposo de uma só mulher”, ou seja, vivendo de forma evidente a analogia do casamento na igreja cristã de Efésios 5. Mas o texto não exige esposa nem filhos para servir como presbíteros.
Obviamente, existem alguns desafios para os presbíteros solteiros na vida da congregação. Sua capacidade de ensinar sobre casamento e paternidade pode ser questionada, embora não deva ser. Jesus e Paulo eram homens solteiros e ensinaram sobre casamento e paternidade. Não é necessário que o ensino da Bíblia seja sempre complementado com o exemplo de funções. Além disso, o presbítero solteiro deve andar em santidade evidente em relação aos membros do sexo oposto, como Paulo ordenou a Timóteo, dizendo que deveria lidar com as irmãs mais novas em Cristo “com toda a pureza” (1Tm 5.2). Se ele está procurando uma esposa, pode haver algum constrangimento no processo de cortejo se ela for membro da congregação. Mas esses desafios práticos não devem superar os benefícios da vida de solteiro que Paulo expõe em 1 Coríntios 7.
Para resumir, é essencial que o processo de seleção de candidatos a presbíteros seja conduzido de acordo com os padrões bíblicos. Isso significa que homens não qualificados devem ser descartados. Mas isso também significa que homens qualificados não devem ser descartados por exegese defeituosa. Homens solteiros piedosos podem servir como presbíteros de uma igreja local, e suas igrejas serão ricamente abençoadas por sua devoção sincera ao Senhor ao pastorear seu rebanho.