Um blog do Ministério Fiel
O Rei Josafá e o Coronavírus
“Não sabemos nós o que fazer; porém os nossos olhos estão postos em ti”.
Enquanto estou sentado em meu apartamento na China infestada pelo Coronavírus, não consigo pensar em uma oração melhor do que aquela, proferida por um rei da Judéia desesperado, mas confiante, chamado Josafá (2Cr 20.12).
Os olhos de um mundo ansioso estão nessa crise de saúde global. Empresas e escolas, na China, estão atrasando suas atividades. As fronteiras estão se fechando. E nos últimos dias, muitas companhias aéreas suspenderam todas as viagens dentro e fora deste grande país. Como um Americano que é pastor na China, minha decisão de ficar parece-me uma clara situação de “queimar as naus”!
Nossa oração? “Não sabemos nós o que fazer; porém os nossos olhos estão postos em ti Senhor”.
Aquela antiga perspectiva de Josafá é mais apropriada para fevereiro de 2020 do que poderíamos pensar. Em seu contexto, uma delegação perigosa de Edom estava se aproximando de Judá. Mas sua fé era abrangente. Ele não estava confiando no Senhor apenas diante de uma potencial derrota militar, mas para qualquer desastre que pudesse vir!
“Se algum mal nos sobrevier, espada por castigo, peste ou fome, nós nos apresentaremos diante desta casa e diante de ti, pois o teu nome está nesta casa; e clamaremos a ti na nossa angústia, e tu nos ouvirás e livrarás.” (2 Cr 20.9, ênfase minha)
Josafá tinha uma disposição à confiança, independentemente do perigo. Mesmo diante de peste ou praga, ele clamava a Deus.
E, dada a atual ameaça de pandemia, precisamos aprender a fazer o mesmo. Aqui estão cinco aspectos, da confiança de Josafá em Deus, que podem nos ajudar hoje.
1. Confie em Deus com seus medos
“Josafá teve medo e se pôs a buscar ao Senhor” (2Cr 20.3). Ele não era sobre-humano; ele era normal. O passo inicial de quem confia na ajuda de Deus – naqueles dias ou nos nossos – deve ser admitir fraqueza. Pode ser um bom remédio agora chegar diante do Senhor e dizer honestamente a ele como você está. Eu estou assustado. Estou frustrado. Estou com fome. Estou solitário. Estou ferido. Estou exausto.
O objetivo de expormos nossa dor não é apontar o dedo acusando Deus; mas o de sermos sinceros, confiando nele, mesmo em nossas preocupações mais profundas. Josafá escolhe confiar no Senhor, ao que também somos chamados. A confiança é sempre uma escolha. E é isso que teremos que fazer repetidamente.
2. Incentive os outros a confiar em Deus
Depois que Josafá busca a Deus, ele proclama um jejum nacional: “…e apregoou jejum em todo o Judá. Judá se congregou para pedir socorro ao SENHOR; também de todas as cidades de Judá veio gente para buscar ao SENHOR.” (2Cr 20.3,4). O rei sabe de onde vem a verdadeira ajuda e leva outros a irem até lá em busca de esperança.
Quando todos, ao nosso redor, estão enlouquecendo e nossos vizinhos temem que o céu esteja desabando, devemos lembrar uns aos outros que servimos a um Deus amoroso, misericordioso e soberano, que não pode ser atingido pela pestilência ou pelo vírus (Sl 91).
Ao levarmos nossas ansiedades ao Senhor em oração, podemos experimentar uma paz que ultrapassa o entendimento (Fp 4.6-7). E, quando experimentamos tal paz, a esperança contra cultural – e muitas vezes contraintuitiva – que temos em Cristo, é revelada (1Pe 3.15). Afinal, nossa fé é pessoal, mas não privada.
3. Clame a Deus
Josafá oferece um modelo de oração nos versículos 5-12. Ele apela ao caráter de Deus, suas promessas e suas ações no passado. A oração então culmina: “Porque em nós não há força para resistirmos a essa grande multidão que vem contra nós, e não sabemos nós o que fazer; porém os nossos olhos estão postos em ti”.
Talvez você se sinta assim à luz do Coronavírus. Talvez você se sinta impotente contra um vírus ao qual possa ser exposto, mesmo quando não houver sintomas visíveis. Talvez sua ansiedade aumente porque os especialistas ainda não têm certeza quanto a todas as maneiras pelas quais esse vírus pode ser transmitido. Você pode se sentir desencorajado ao ver o número de infecções e mortes aumentar. Nesse caso, junte-se a Josafá ao declarar que você está desamparado, mas sua esperança está fixa no Deus Todo-Poderoso.
Quantas de nossas orações devem terminar com uma frase como essa? Essa é a postura do cristão. Apele ao caráter de Deus, confesse sua incapacidade e coloque seus olhos no Senhor.
4. Lembre-se da salvação de Deus
Na narrativa de 2 Crônicas, Deus responde enviando um profeta para lembrar a Judá que a batalha não lhes pertence; isso pertence a Deus (20.15). Eles nem precisam lutar; eles podem simplesmente sentar e assistir a salvação do Senhor em favor deles (20.17)!
Esta história é um pequeno exemplo, de uma batalha espiritual maior, para todos em todas as épocas. Temos um problema letal sobre o qual não podemos fazer nada por conta própria (embora tentemos!). Temos que confiar em outro, porque essa batalha não é para nós lutarmos. Ao confiarmos naquele que pode lutar em nosso nome, somos convidados a sentar e assistir a salvação do Senhor.
O Coronavírus pode se estabilizar na próxima semana. Ou pode piorar. Minha família pode ser poupada dessa epidemia ou podemos nos tornar uma estatística. Ainda olhamos para a salvação de Deus. Não porque ele necessariamente prove seu amor por mim protegendo-me de doenças, mas porque ele já demonstrou seu amor enviando Cristo para morrer por nós enquanto ainda éramos pecadores, para que quem nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (Rm 5.8; Jo 3.16).
Oro para que esse vírus seja erradicado e para que minha família permaneça saudável, mas Deus é bom, independentemente do que as próximas semanas trouxerem. Uso uma máscara ao ar livre e lavo as mãos com frequência, mas minha esperança não está firmada nesses esforços. Desejo uma vida longa para mim e minha família, mas também sei que o objetivo da vida não é escapar da morte física. Essa é uma tarefa tola. O objetivo é estar preparado para quando a morte física inevitavelmente vier, glorificando e desfrutando de Deus até aquele dia.
5. Adoração
Josafá confiou e guiou outros a confiarem em Deus. Mas observe o final: adoração. Em 2 Crônicas 20.21, antes mesmo da vitória, o rei leva o povo a louvar: “Tendo eles começado a cantar e a dar louvores, pôs o SENHOR emboscadas contra os filhos de Amom e de Moabe e os do monte Seir que vieram contra Judá, e foram desbaratados.” (2Cr 20.22).
Como essa cena final faz parte da confiança em Deus? Porque se Deus é bom, e se sabemos que podemos confiar nele, podemos adorá-lo mesmo em meio ao sofrimento. Podemos louvá-lo, mesmo sob a ameaça de perigo. Nós o glorificamos mesmo quando os vírus se espalham.
Deus não disse a Josafá para fazer isso. Ele não foi instruído por Deus a convocar um culto. Adorar não é uma estratégia para fazer Deus agir; é uma resposta porque sabemos que ele agiu e continuará a agir. É dessa maneira que devemos procurar o Senhor.
Os judeus saem no dia seguinte e a ameaça se foi. Não estou dizendo que Deus milagrosamente resolverá todos os seus problemas se você começar a adorar. Mas estou dizendo que seu maior problema – o problema da descrença – será resolvido se você começar a adorar.
Diante do Coronavírus, que os cristãos da China e do mundo tenham uma confiança inabalável no Senhor, mesmo quando não sabemos o que vem a seguir.