Discipulado: Você deveria se afastar?

Se formos honestos, reconheceremos que é fácil ser mais apaixonado pelo evangelismo do que pelo discipulado na igreja. Gostamos de ver o novo nascimento de um cristão no reino de Deus. O que não gostamos tanto é do trabalho que se segue – a parte de ajudar alguém a “crescer até a maturidade”. Simplificando: crescer é caro e difícil.

O discipulado bíblico exige compromisso. Abrange caminhar com alguém através dos dias de sol e, também, das tempestades da vida. Não é uma subida constante à santidade – são altos e baixos, montanhas e vales, com muitas lágrimas e birras no caminho da glória.

Existem muitos livros que nos ajudam a pensar sobre como seria um discipulado saudável e prático (nós achamos o Side by Side de Ed Welch super útil em nosso contexto). Mas o discipulado não se resume a um livro didático. É relacional. E os relacionamentos geralmente são confusos e dinâmicos.

No entanto, Jesus nos chama para fazer discípulos, por isso é melhor ouvirmos. Com tudo isso em mente, precisamos fazer uma pergunta difícil: é sempre certo se afastar de um relacionamento de discipulado? Como as situações são complexas e diferentes, não é fácil dar uma resposta abrangente a essa pergunta. Mas desenvolver algum trabalho baseados na Bíblia pode nos ajudar a desvendar esse problema.

Ovelha ou não?

Em nosso contexto, nas comunidades dos bairros carentes, vemos muitas pessoas se manifestarem, professarem fé em Jesus e serem batizadas, apenas para depois se afastarem. Isso acontece devido à simples passagem do tempo ou quando a pessoa é confrontada por perseguição ou pelas provações de qualquer tipo. Como uma âncora em uma tempestade, a fé é definitivamente testada quando a vida real chega. Embora isso seja algo doloroso de se testemunhar, não devemos nos surpreender, pois é isso que Jesus nos disse para esperar na parábola do semeador (Mt 13).

Infelizmente, algumas pessoas que professam a fé cairão. Isso pode acontecer de várias formas, desde uma queda gradual até uma ruptura definitiva. Em alguns casos, as pessoas permanecerão conosco na igreja, essa comunidade amorosa, mas estarão na “terra de ninguém” espiritualmente. Elas ainda estão vivendo uma vida impenitente e inalterada, e não estão dispostas a se colocar sob a autoridade de Jesus. Afinal, a comunidade cristã é atraente, mas não é apenas um clube social para refeições gratuitas e boas brincadeiras. É um hospital para os doentes, e seus pacientes pecadores precisam estar sob a autoridade e liderança do grande médico.

Responsabilidade Saudável

É por isso que temos um sistema de responsabilidades “um a um”, baseado em Tito 2. Acreditamos que é crucial que os crentes se reúnam regularmente fora das reuniões de domingo. É fácil dizer “estou bem” em um domingo, mas é muito mais difícil esconder a verdadeira condição do seu coração ao tomar um café com um irmão ou irmã preocupados.

Precisamos de exames espirituais – pessoas lendo, chorando e orando juntas, estimulando umas às outras na fé. É para isso que serve a igreja. Acho que ficaria relativamente feliz vivendo sozinha em uma ilha, mas sei que não seria desafiada ou santificada se fosse esse o caso. Em sua sabedoria, Deus nos coloca em uma comunidade leal na qual as pessoas estão suportadas umas pelas outras. Aposto que você pode pensar em pelo menos um irmão ou irmã que o procurou, o pegou e o colocou de volta no caminho do peregrino.

Vamos encarar os fatos: todos nós precisamos de um empurrão nas costas às vezes. Eles são para o nosso bem. Provérbios 3.11-12 nos mostra que a disciplina é amorosa. “Filho meu, não rejeites a disciplina do SENHOR, nem te enfades da sua repreensão. Porque o SENHOR repreende a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem”.

De acordo com minha experiência, se alguém que estou discipulando estiver se afastando, geralmente cortará primeiramente o relacionamento, especialmente a parte do autoexame. Eles tendem a não querer ouvir os conselhos bíblicos e nem permanecer sob a autoridade da Palavra de Deus.

Nesses casos, eu pediria a outra mulher que acompanhasse essa pessoa, porque às vezes pode ser simplesmente um caso de conflito de personalidade ou algum problema não resolvido. Ou pode ser que uma dependência doentia tenha se desenvolvido (funciona nos dois sentidos). De qualquer maneira, trazer mais alguém normalmente ajuda. Se essa pessoa estuda a Palavra de Deus com o discípulo mas ele ainda não responde, isso nos dá uma visão mais aprofundada do coração da pessoa. As ovelhas verdadeiras ouvirão a voz do Bom Pastor (João 10.27). Elas podem aceitar ou abandonar sua própria sabedoria, mas, com o tempo, precisam ouvir a que vem da Palavra de Deus.

O que, disso, vai resultar em prática, exige uma enorme quantidade de graça, perseverança e discernimento. Afinal, somos todas ovelhas que precisam de pastoreio.

Recuar, orar, esperar

Vamos voltar ao exemplo dos pais – isso nos ajudará a responder nossa pergunta, especialmente quando pensamos em termos bíblicos. Considere a parábola do filho pródigo: ao deixar o filho partir, o pai estava, de certo modo, entregando-o aos desejos do seu coração. Ele estava fazendo isso na esperança de que seu filho, com o tempo, recuperasse a razão e, tendo visto que os prazeres do pecado são passageiros, retornasse para casa em arrependimento. Certamente, sabemos que foi isso que aconteceu (Lucas 15. 17-24).

Então, como isso se aplica à nossa questão de saber se é bom, algum dia, afastar-se de alguém que você está discipulando? Acho que isso nos mostra que, às vezes, pode ser útil recuar. Dependendo do relacionamento, isso pode significar que você espera que eles se aproximem de você, em vez de você iniciar o contato o tempo todo. Você pode precisar parar de oferecer carona para eles irem à igreja, e observar se eles continuarão seguindo você até lá. Eles persistem mesmo quando isso é inconveniente para eles ou só fazem quando é fácil? Essas pequenas coisas podem ser sinais que indicam onde uma pessoa está espiritualmente.

Em outras palavras, se eles realmente querem seguir Jesus, eles farão isso acontecer porque é o desejo do coração deles. Assim como um pai deseja que seu filho se entristeça pelo próprio erro, Deus também sonda o coração. Entretanto, o ato de se distanciar pode parecer antinatural às vezes, talvez até não cristão. Mas o que é mais brutal, e potencialmente eternamente desastroso, é uma cabra que pensa que é uma ovelha porque você a carrega para todo lugar.

Em 1 Coríntios 5.5, Paulo escreveu a respeito dos benefícios e o propósito purificador de colocar alguém em pecado persistente e impenitente para fora da igreja: “… entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor [Jesus]”. O cuidado eterno da alma às vezes requer disciplina. Isso envolve esperar, como o pai do filho pródigo – orando, observando e aguardando que eles voltem. O amor firme pode colher a reunião eterna.

Então, sim, às vezes é necessário ir embora para permitir que alguém encontre seu próprio caminho e / ou retorne em arrependimento. Mas ainda devemos, espiritualmente, cuidar e orar pela alma dessa pessoa, ansiosos pela sua salvação eterna.