A comunhão com Deus em tempos de isolamento social

Deus não é solitário. Existe uma dança de amor no Ser de Deus. Pai, Filho e Espírito se relacionam de uma forma perfeita. Entretanto, Deus não vive dentro de si. A Escritura nos ensina que o Deus Todo-poderoso não vive encastelado em sua transcendência comunitária. Ele resolveu criar e se relacionar com sua criação. Pelo que a Escritura nos ensina, é justo, chamar esse relacionamento de Aliança ou Pacto. Deus soberano cria e estabelece as regras do relacionamento para mostrar sua justiça e graça.

No momento que escrevo essa reflexão, no mundo todo, as pessoas estão privadas, de uma forma ou outra dos relacionamentos. Uma pandemia global nos faz viver encastelados dentro de casa, e em alguns casos, num regime de isolamento radical. No meio de tudo isso, vemos que não apenas o medo, mas o isolamento social ou o fecha-tudo podem ser sufocantes. Como seres religiosos, que refletem à imagem de Deus de, desejamos o relacionamento com Deus, a vivência em família e o relacionamento com os outros seres humanos.

O Salmo 119, em sua 16ª estrofe expressa esse impulso relacional da alma. O Senhor do Pacto convoca seu povo para o relacionamento e o “servo” responde com orações. Nesse contexto relacional, presumo que esta estrofe nos ensina a forma como o servo do Deus experimenta o relacionamento com Deus. Que grande prejuízo há em não ser um servo de Deus.

“Nada me correu bem quando quis ser livre por minha conta, e não ser teu servo.” Agostinho.

Dito isto, vejamos, pois, o que este texto nos ensina:

1. Por meio da oração, o salmista – como um servo, entregou seus medos ao Senhor.

Nos versos 121-122 existe um ritmo que alterna santidade e angústia. O salmista diz: Senhor! Vivo conforme tua lei! Procuro ser piedoso aos termos da Tua aliança! Faço justiça e julgo as coisas porque sigo tua Lei. Sou teu servo! Sê meu fiador, ou seja, sê aquele que garante minha segurança!

Por que o salmista ora nesses termos? O texto nos explica que ele estava cercado por inimigos. Pessoas ruins, soberbas e opressoras o ameaçavam. Note que Israel passou por várias experiências como essa. Basta lembrar do Egito, Assíria e Babilônia. Entretanto, ainda que, com o coração apertado pelo medo, o salmista entregou o medo ao Senhor. Ele pediu: dá-me livramento! sê meu protetor!

O ritmo do salmista não é apenas uma poesia distante. Esse compasso do medo e da oração é nosso compasso hoje. Homens maus se erguem no mundo. Eles querem oprimir. Eles são soberbos. Não confiam no Senhor. Quando eles olham para os relacionamentos eles não conseguem ver amor, mas ganância e orgulho. Isso enchia o coração do salmista de medo.  Você sente medo? Você está com medo daquilo que se ergue no mundo do orgulho e da opressão dos homens?

No meio dessa pandemia desejo que você lembre o seguinte: a Palavra de Deus nos ensina que não estamos sozinhos em tempos de isolamento social. Você pode se voltar para Deus e dizer: Senhor! Me proteja! Seja meu fiador! Dê-me livramento! Não quero viver nesse mundo do orgulho! Quero andar nos teus caminhos e fazer o bem!

2. Por meio da oração, o salmista – como um servo, clamou por misericórdia.

Nos versos 123-125, o salmista mostra toda sua humilhação diante do Deus do Pacto. Ele não queria andar no caminho dos orgulhosos, antes, humildemente, ele se derrama diante de Deus pedido graça. Por que ele fez esse clamor tão expressivo?

  • Porque sentia a fraqueza da alma – “seus olhos” já estavam cansados de tanto esperar. A provação foi longa. Mas, ele pediu graça para continuar com os olhos cheios de esperança nas promessas de redenção e justiça feitas pelo Senhor.
  • Porque ele precisava ser ensinado – ele pedia pela “misericórdia” que se renova a cada manhã para ser ensinado. Era como se ele estivesse dizendo: Senhor! Tu és Rei sobretudo! Teus decretos são justos! Preciso deles para ter direção na vida! Me ensina teus decretos – me ensina tua verdade absoluta e soberana.
  • Porque ele precisava compreender a vida – de nada adiantava conhecer a história da redenção sem entender ela no mundo da vida. Por isso, o salmista clamava: não apenas me ensina, mas me ajude a entender no coração os testemunhos contidos na tua lei. O pedido do salmista era para todas aquelas histórias de livramentos, promessas e chamado a santidade ardesses em seu coração!

Você já se viu em algum momento da vida sem saber o que fazer ou que caminho tomar? Já sentiu aquele sentimento terrível do vácuo e do vazio existencial? Presumo que sim. É humilhante, não é? Porém, nessas horas de humilhação, quando vemos que de fato somos pó e cinza, ainda temos com que nos relacionar. Podemos erguer nossa voz ao alto de clamar por graça. O servo não dá ordens. O servo recebe a ordem da graça e clama por misericórdia.

  • Você está desfalecido? Mesmo desfalecido e cansado busque o trono da graça. Olhe para as promessas de redenção. Deus vai enxugar dos nossos olhos toda lágrima! Lembre-se:

“Deus é justo, e, não duvide que Ele é tão fiel em suas promessas como justo em realizar. Por isso, ainda que meus olhos fraquejem continuarei olhando e desejando por tua salvação.” Thomas Manton

  • Precisa de direção? Quando você lê as Palavras da Escrituras você lê as Palavras de um Rei. Não discuta com Deus. Siga a direção dele e, se você tem dificuldades, peça para ser ensinado.
  • Precisa de discernimento? Peça entendimento! Lembre-se: se alguém precisa de sabedoria peça porque Deus dá liberalmente. Volte-se para os testemunhos de Deus e viva por eles.

3. Por meio da oração, o salmista – como um servo, rogou a intervenção do Senhor.

Nos versos 126-128, o salmista clama pela ação providencial de Deus. Como um servo ele não pode dar ordens, mas pode clamar aquele que governa o mundo e age no mundo pela providência. Ousadamente ele ora: Já é tempo Javé para intervires! Por que ele fez essa oração?

  • Por causa da soberba no mundo – estão pixando tua lei. Desobedecem a teus decretos! Profanam teu culto! Violam teus decretos. Em outras palavras, era como se ele estivesse pedindo: Senhor! Me livre desse mal! Livre meus irmãos! Segure a mão do ímpio!
  • Por causa do seu coração – a soberba não era um perigo apenas pelo lado de fora, mas também pelo lado de dentro. Ele pediu a intervenção do alto para continuar amando a lei do seu Deus, muito acima de qualquer tesouro desse mundo. Ele pediu para aumentar sua ojeriza aos caminhos de mentira e receber toda instrução de Deus expressão da justiça perfeita.

Deus não se sentou numa cadeira para observar asceticamente o que acontece no mundo. Deus não está jogando com os seres humanos ou aprendendo com eles. Deus governa tudo com sua providência. Até um vírus tem uma razão no mundo de Deus. Não sabemos a razão que levou Deus a permitir o mal, mas sabemos que Deus age com providência no mundo. Por isso, devemos clamar: Intervém Senhor!

  • Porque o mundo é materialista, individualista, rebelde e essas coisas têm que parar! Eles não podem soberbamente pisar em tua vontade!
  • Porque preciso amar o que é belo e santo e detestar a mentira! Preciso tirar meu coração das riquezas e amar o Senhor! Preciso ter raiva da mentira e não ser guiado por ela.

Você tem feito essa oração?

Conclusão

Enquanto leio sobre esse relacionamento do salmista com o seu Deus, lembro da solidão de Cristo na cruz do calvário. Ele conheceu o ódio, a sede e a solidão. Quando os meus pecados estavam sobre ele, Jesus disse: Deus meu, por que me abandonaste?

Na cruz, Jesus conheceu a pior solidão, a solidão infernal. Se tememos a quarentena, mais ainda deveríamos temer a solidão eterna. Porém, se você voltar seu coração para Cristo será abraçado pelo Deus triúno que não sabe o que é solidão. Mesmo no isolamento social, e até na morte, você não estará sozinho. Volte-se para Cristo e receba a graça do relacionamento com o Deus que por natureza é amor!

Por: Francisco Macena. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: A comunhão com Deus em tempos de isolamento social.