Você já chorou hoje?

Eu apenas me recordo que peguei uma sacola dessas de lona e enfiei dentro alguns livros sobre a minha mesa do escritório, que estavam sendo usados. Embora eu não soubesse que ficaríamos confinados em casa, naquele momento, algo se insinuou em minha mente de que eu não voltaria ali muito em breve.

Pendurei a sacola em um ombro, no outro coloquei minha bolsa, encaixei minha cadeira corretamente na frente da mesa, verifiquei se meu computador havia sido desligado. Fui até a porta, virei para trás em uma última olhadela em cima da mesa, certifiquei-me se nada importante ficara por ali. Não, não havia mais nada importante.

Apaguei a luz do escritório, sai pela porta em direção à garagem do prédio. Aquele foi meu último dia lá antes do confinamento.

Estou há exatos 38 dias em casa. Alguns dias de sol, outros nublados, e todos absolutamente sozinha, apenas os cão-panheiros que, como sombras, me seguem e me rodeiam o dia todo, uma alegria.

Nesses dias arrastados, molestados pelo vírus, minha mente tem se mantido fora (alguns dedos acima) dos limites da tristeza profunda, lutando contra a insanidade. Tenho falado com pessoas do mundo todo pelos vários meios que temos para nos comunicar (viva a comunicação remota!), as pessoas, a maioria delas cristãs, estão com os humores e afetos variados. Umas amedrontadas no meio do caos da contaminação, outras deprimiram diante das perspectivas econômicas, tem as que, como eu, driblam a ansiedade e entre uma oração e a leitura bíblica e os cuidados com familiares, a casa e a alimentação, vão encontrando algum equilíbrio mental e espiritual.

Nem todos os dias são bons, mas nem todos os dias são ruins. Porém, não consigo ver como seria possível a purificação do mundo, a preparação para novos céus e nova terra, de outra maneira que não fosse por meio de muita dor e sofrimento. Não foi assim com nosso Senhor quando ele se fez homem para vencer a morte? Não deveríamos nós passarmos pelo fogo da purificação? Não será por meio dos dias maus que Deus produzirá em nós corações contritos?

No dilúvio, Deus imergiu a terra toda nas águas, batizou a terra. Agora Deus fará a ressurreição da terra. O mundo terá que passar pela morte para, finalmente, ressuscitar em glória. Afinal a história não é sobre mim ou você, é sobre o grandioso Rei! E ele quer restaurar todas as coisas, inclusive nossas vidas, para amá-lo, bendizê-lo e adorá-lo para sempre. Ele reinará. Seu reino será de justiça.

O que precisamos, nesse momento, mais do que tudo, é buscar o Deus de nossa vida, derramar nosso coração aos seus pés, colocar diante dele tudo o que somos e aceitar, com humildade, que ele nos discipline com sua misericórdia, amor e justiça. Que possamos nos arrepender de nossos maus caminhos e sermos transformados em meio a dor e ao sofrimento, em meio ao caos e o cansaço dos dias, em um povo santo que aguarda com ardor a volta do Senhor, para estarmos com ele na Cidade Santa, a Jerusalém Celestial.

Avante, ovelha, Deus é conosco, ele está nos chamando para arrependimento e santificação.