Um blog do Ministério Fiel
Afinal, o que é a blasfêmia contra o Espírito Santo?
Nenhum cristão deve brincar com as coisas sagradas, pois seria uma maneira de quebrar o terceiro mandamento de não tomar o nome de Deus em vão. Não podemos brincar com o nome de Deus! No entanto, parece que o assunto blasfêmia contra o Espírito Santo não tem muito a ver com isso.
Existem alguns textos no Novo Testamento que dão a ideia de que alguns pecados não tem perdão, como por exemplo a blasfêmia contra o Espírito Santo registrada nos evangelhos (Mateus 12.31, Marcos 3.28-29), a incapacidade de arrepender-se de pecados em Hebreus 6.4-8 e o pecado para a morte descrito em 1 Joao 5.16. Embora os referidos textos estejam lidando com situações particulares, todos eles tocam em uma realidade comum: o fato de homens e mulheres possuírem noções intelectuais de coisas sagradas, mas estarem dispostos a abandoná-las. Mais precisamente, tais passagens denunciam o estado perigoso de alguém que afirma possuir conhecimento divino e ao mesmo tempo nega Cristo como ápice dessa revelação.
Não nos enganemos, na Escritura esse processo de relativização do ser e obra de nosso Senhor Jesus Cristo tem nome: os apóstolos chamavam essa conduta de apostasia. E ao meu ver, é exatamente contra esse problema que as Escrituras alertam. Blasfemar contra o Espírito é sinônimo de cometer apostasia, isto é, diz respeito ao abandono da fé que alguns diziam ter, mas que na verdade nunca tiveram. Analisemos as passagens citadas com mais cuidado.
Em primeiro lugar, os evangelhos retratam os fariseus como indivíduos que aparentemente conheciam a Deus, mas negavam Jesus como Messias. Próximo do desfecho do sermão da montanha, Jesus alertou seus discípulos que falsos crentes se infiltrariam no meio da igreja. O Mestre afirmou que no dia do juízo final vários exorcistas, profetas e curandeiros se aproximariam dele, chamando-o de “Senhor, Senhor”. No entanto, tais homens além de serem condenados eternamente são descritos por Jesus como pessoas que nunca de fato o conheceram (Mateus 7.21-23).
Concluímos a partir dessa passagem que certos indivíduos podem manifestar poderes extraordinários sem que tenham contato genuíno com o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. A qual categoria Jesus os inclui? Falsos profetas. Nunca foram de fato convertidos à Deus, pois os seus frutos são ruins – apesar de aparentarem espiritualidade. Portanto, ao exortar os fariseus quanto à blasfêmia sem perdão contra o Espírito Santo, Jesus muito provavelmente se referia à apostasia, pois à semelhança dos falsos mestres, os fariseus diziam e aparentavam conhecer a Deus, mas ao negarem o filho de Deus manifestavam que ainda eram filhos do Diabo (João 8.44-47).
Em segundo lugar, o autor de Hebreus escreve sua epístola justamente para combater uma aparente tendência de apostasia no meio cristão. A situação é muito similar àquela dos evangelhos, pois a exortação da carta é dirigida aos judeus que se converteram à Cristo, mas que pouco a pouco retornavam ao judaísmo. Tais homens advogavam um retorno para o rito da circuncisão, para o sacerdócio levítico, para os sacrifícios de animais e, portanto, saindo da nova para velha aliança.
É com base no retorno deles ao judaísmo que o autor da carta usa os termos “cair da fé” (Hebreus 6.4-9). Estão caindo da fé por terem provado as bênçãos da nova aliança em Cristo e, mesmo assim, decidirem-se resolutamente pelo retorno à velha fé. Antes que alguém pense que o autor esteja se referindo a perda de salvação, ele esclarece que tais homens nunca deixaram de ser quem realmente eram, pois são como terra que produz espinhos ao invés de gerarem frutos – o mesmíssimo argumento de Jesus, “pelos frutos os conhecereis” em Mateus 7.16.
Fica evidente que tais cristãos de origem judaica estavam negando a eficácia da obra de Cristo como tendo sido a verdadeira e melhor circuncisão, oferta sacerdotal e sacrifício definitivo. Ao negarem que tais ritos e instituições se cumpriam perfeitamente em Cristo, eles estavam crucificando Jesus mais uma vez, anulando sua obra. Nesse sentido, portanto, voltar ao judaísmo após conhecer a verdade de Cristo é uma blasfêmia imperdoável, pois configurava um potencial caso de apostasia.
Em terceiro lugar, o mesmo problema se repete na Primeira Carta de João. O apóstolo escreve exortando os irmãos a serem vigilantes contra os falsos apóstolos que se passam por mestres, mas são dissimulados e mentirosos que saíram do meio deles. Interessantemente, por esses “falsos irmãos” João diz que não é preciso orar, pois pecaram para a morte, isto é, eles negaram a suficiência de Cristo, o cumprimento das profecias veterotestamentárias e, por isso, estão lentamente retornando ao judaísmo ou mesmo para ilusões gnósticas da época. João rotula tais homens como “anticristos”. E com razão, afinal eram falsos mestres que pervertiam a fé apostólica e serviam como tropeço para os incautos (cf. 1 Joao 2.18-19).
Ancorados na realidade comum dos textos acima, ficamos numa posição mais confortável para crer que “blasfêmia contra o Espírito Santo”, “pecado imperdoável”, “cair da graça” e “pecado para a morte” não são fenômenos diferentes – e, portanto, não se relacionam ao questionamento que alguns irmãos levantam quanto à legitimidade do falar em línguas hoje em dia. A visão mais coerente dos três textos é a de que o pecado imperdoável teria sido praticado por alguns fariseus do tempo de Cristo, mais adiante por “cristãos” que negaram o evangelho, retornando ao judaísmo e mesmo por parte de “cristãos” que se tornaram falsos apóstolos e mestres, negando igualmente o ser e a obra do Senhor. Em síntese, a blasfêmia contra o Espírito Santo é sinônimo de apostasia e falsa profecia. Para tais homens não há perdão, pois mesmo tendo sido expostos à verdade, abandonaram a verdadeira fé em Jesus Cristo.
Finalmente, se você é daqueles que se martiriza por pensar que blasfemou contra o Espírito ou conhece alguém nesse estado, fique tranquilo. Você não cometeu esse pecado. Se você se sente assim é porque está arrependido genuinamente, dando provas que já recebeu o Espírito Santo. Sentir tristeza por ter cometido pecado ou por ter desagradado o Senhor é sentimento de gente que foi salva. Os apóstatas não sentem a necessidade de arrependimento porque nunca saíram do estado de perdição.