Pastores solteiros, aconselhamento bíblico e a igreja local

Recentemente, um homem jovem e solteiro que estava começando seu primeiro trabalho pastoral entrou em contato comigo. Ele queria conhecer meus pensamentos sobre como um pastor solteiro poderia desenvolver um ministério de aconselhamento construtivo no contexto de uma igreja local.

Não me considero especialista neste tópico, mas pela graça de Deus aprendi algumas coisas sobre o assunto por experiência própria. Nos últimos quinze anos, tive o privilégio de servir como pastor de uma igreja. Agora sou casado, mas passei meus primeiros três anos como pastor solteiro.

Como o apóstolo Paulo ensinou e deu exemplo, a situação de solteiro pode oferecer certas vantagens ao ministério cristão (1Co. 7.32-35). Como pastor jovem e solteiro, não importava quanto tempo eu passava, aos sábados, trabalhando no meu sermão no domingo, ou quantas visitas pastorais eu fazia à noite, ou se eu convidava um amigo para dormir no sofá por uma noite – ou dez noites! Casamento e família simplesmente não permitem essa flexibilidade. É uma troca que escolhi fazer e felizmente faria novamente, mas, mesmo assim, Paulo reconhece que a liberdade e a flexibilidade oferecidas aos solteiros podem ser aproveitadas como uma vantagem para o ministério do evangelho.

Ao mesmo tempo, ser solteiro apresenta certos desafios na vida e no ministério. Implícito na pergunta feita pelo jovem pastor estava o reconhecimento de que o aconselhamento como pastor solteiro oferece seus próprios desafios.

Então, como um pastor solteiro pode desenvolver um ministério de aconselhamento construtivo no contexto da igreja local? Ele pode fazer isso dando atenção a duas coisas: pluralidade e responsabilidade.

Pluralidade

Os pastores solteiros nunca experimentaram casamento e filhos. Isso pode ser um desafio ao ministrar a uma congregação na qual casamento e filhos são a norma.

Deixe-me esclarecer, isso não significa que o pastor solteiro não seja qualificado para falar na vida familiar. Devemos lembrar que a maior parte dos ensinamentos do Novo Testamento sobre casamento e família chega até nós através de dois homens solteiros: Jesus e Paulo. Ao mesmo tempo, nenhum de nós é Jesus ou Paulo, e a Bíblia nos ensina que a experiência não é irrelevante. Há uma razão para Paulo instruir as “às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, … a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos” (Tt 2. 3-4). Experiência é importante.

Por exemplo, como homem casado, posso ser chamado a oferecer cuidados e conselhos a um jovem casal que luta contra a infertilidade. Pela graça de Deus, minha esposa e eu nunca experimentamos a dor e a tristeza da infertilidade. Isso não significa que sou desqualificado para falar sobre a vida do casal. Confio que, apontando para as Escrituras, posso oferecer esperança e encorajamento que serão genuinamente úteis. Ao mesmo tempo, acredito que seria extremamente benéfico aproximar esse casal aflito a uma família piedosa na igreja que lutou com a infertilidade por anos e desde então adotou filhos e se regozijou com a bondade de Deus. Louve a Deus pela forma como as diversas e variadas pessoas, dons e experiências no corpo podem ser utilizadas para cuidar de uma variedade de pessoas!

Portanto, se você é um pastor solteiro e quer saber como criar um ministério de aconselhamento construtivo para cônjuges, pais e filhos, eu gostaria de aliviar algumas das pressões que você possa estar sentindo. Pastores solteiros não devem ser conselheiros solitários em uma igreja local. Em vez disso, construa uma pluralidade. SE proponha a levantar um exército de conselheiros leigos bíblicos, com experiência e situação de vida diversas e que estejam equipados para cuidar de uma grande variedade de pessoas.

Para atingir esse objetivo, você deve ensinar e exemplificar o discipulado. Por meio de uma cultura de discipulado, alguns demonstram um dom particular por aplicar pessoal e habilmente a Palavra de Deus à vida de outras pessoas. Olhe para eles. E invista neles!

Invista em um casal piedoso de mais idade, cujo casamento não é perfeito, mas exemplar. Forneça a eles excelentes recursos para aconselhamento pré-matrimônio; reúna-se com eles algumas vezes para discutir a questão; e então solte-os para dar aconselhamento pré-matrimônio aos casais noivos em sua igreja.

Faça um alista das mulheres que amam a igreja e possuem um ministério saudável e frutífero entre outras senhoras. Ofereça-lhes treinamento adicional para equipá-las para cuidar habilmente das almas dos outros. A Christian Counseling Education Foundation (CCEF) oferece um excelente programa de treinamento on-line para líderes leigos. Organize o orçamento da igreja para que uma, duas ou três senhoras possam ser apoiadas para fazer o treinamento da CCEF.

Sejam solteiros ou casados, os pastores devem procurar levantar uma pluralidade de homens e mulheres na igreja que sejam capazes de oferecer cuidado bíblico e compassivo aos outros.

Prestação de contas

Outro desafio para o pastor solteiro é como proteger sua pureza e reputação perante os outros enquanto se reúne com mulheres com o propósito de cuidado pastoral. Obviamente, isso também é uma preocupação para os pastores casados. No entanto, os solteiros devem dar atenção especial a esse assunto, dado o ensinamento de Paulo de que um casamento saudável oferece uma defesa contra a imoralidade sexual. O estado de solteiro não oferece a mesma defesa (1Co 7.2-5).

Uma boa regra é que seu aconselhamento seja pessoal e, quando necessário, confidencial, mas nunca isolado. Aqui estão algumas diretrizes padrão a serem seguidas (consulte o artigo de Deepak Reju, “Discipling Men vs. Discipling Women” para mais sugestões):

  • Não se encontre em particular com outra mulher para aconselhamento, nem para uma refeição e nem no seu escritório. Se vocês pretendem se encontrar para uma refeição, peça a alguém que o acompanhe.

Se vocês se encontrarem no seu escritório, verifique se outras pessoas estão na mesma área geral. Certifique-se de que outras pessoas possam ver seu escritório através de uma janela. Considere também manter a porta do escritório aberta.

  • Não ofereça aconselhamento contínuo por meio de mensagens de texto, email ou mensagens privadas via mídia social. Essas formas de comunicação são rápidas, flexíveis e fáceis; eles também podem fornecer um contexto para interação íntima, inadequada e isolada. Evite usar essas formas de comunicação para fins de aconselhamento ou certifique-se de sempre copiar outras pessoas em suas trocas de mensagens.
  • Mantenha uma prestação de contas consistente com outros líderes de sua igreja, o que inclui uma discussão sobre casos de aconselhamento pastoral em andamento.

Estruturas sábias e cuidadosas de responsabilidade podem ajudar bastante a proteger sua pureza e reputação, entre outras coisas.

Conclusão

O jovem pastor que me contatou sobre esse assunto não está sozinho. Muitos pastores solteiros lutam com a mesma pergunta. O pastor solteiro pode investir na pluralidade, treinando os membros para se envolverem habilmente nos cuidados da igreja. Além disso, o pastor solteiro pode levar a sério a responsabilidade, comprometendo-se com algumas diretrizes básicas que protegerão ele e a igreja.

Pastores solteiros, vocês são uma dádiva. Abracem corajosamente o pastorado que o Senhor lhes deu ao cuidar fielmente do seu povo.

Por: Bert Daniel. © 9Marks. Website: 9marks.org. Traduzido com permissão. Fonte: Single Pastors, Biblical Counseling, and the Local Church.

Original: Pastores solteiros, aconselhamento bíblico e a igreja local. © Ministério Fiel. Website: ministeriofiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.