Um blog do Ministério Fiel
“porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” (Mt 6.21)
Na sala do nosso apartamento, temos um porta-retratos digital, que fica “rodando” as fotos que nos são mais significativas.
Uma noite dessas, antes de me deitar, fui cumprir meus rituais de TOC, entre os quais está verificar se a porta da sala está trancada.
Ao passar em frente ao porta-retratos, vi uma foto de meu pai, que faleceu em Fevereiro de 2018.
Normalmente, o que nos vem ao coração, em uma situação dessas é: Que saudade, gostaria que meu pai estivesse aqui.
Mas, minha reação, naquele dia, foi surpreendente até para mim mesmo.
Ao olhar para aquela imagem do meu pai, pensei (talvez tenha até efetivamente falado):
─ Que bom que você não está mais por aqui!
Explico.
Meu pai era um crente fiel, temente a Deus, me lembro de ver, desde muito pequeno, pela porta entreaberta, ele orando de joelhos ao lado de sua cama antes de se deitar.
Ele era pai de cinco filhos, presbítero, professor na EBD, plantador de Igreja. Ah, e ele era também professor de usinagem no SENAI durante os cinco dias da semana.
Ele amava o Senhor, e quando começou a adoecer, próximo aos oitenta anos, depois de uma vida de prática de esportes e quase sem qualquer doença. Eu percebia, quando estava junto dele, que o que ele mais queria era ir logo para a casa do Pai.
As coisas daqui desse mundo, para ele, já há muito, não tinham mais importância do que as do céu. E à medida que a doença se agravava, mais ainda esse mundo perdia o valor.
Hoje, isolado aqui no apartamento, devido à pandemia do Covid19, fico pensando em como seria difícil para meu pai estar por aqui.
Eu realmente gostaria que ele estivesse por aqui, eu ia ter que “brigar” com ele para ele “ficar em casa” se ele ainda tivesse saúde. E ainda assim, seria bom para mim se ele estivesse por aqui.
Mas, para ele, não seria, se ele estivesse por aqui ia estar querendo partir, logo, sem demora.
Conversando hoje com alguns amigos e irmãos (pelas redes sociais, é claro), sobre queridos que, como meu pai (e também minha mãe), já voltaram para casa, bate aquela vontade de ir logo embora.
É bom sim, estar aqui, a vida é benção, ainda mais quando a gastamos para o Reino. É bom poder olhar para minha esposa, trocar uma ideia com meu filho. Sentir a presença de amigos e irmãos, mesmo isolado dentro de casa.
Mas à medida que a vida vai passando e o mundo se tornando, a cada dia, um lugar mais desconfortável, o desejo só vai aumentando.
Quero voltar logo para casa.
Como diz um antigo cântico:
“Lá está o meu tesouro, lá onde não há choro”.