Salmo 89: Promessa, luta e realidade

Vírus é uma palavra de origem latina. Para os romanos, significava veneno, peçonha, lodo ou até mesmo fedor. Não é surpreendente que os médicos, em algum momento, muito tempo atrás, tenham adotado essa palavra para se referirem a doenças que eles não entendiam — doenças que agem tão misteriosamente quanto venenos, que, se não matam, desaparecem tão inesperadamente quanto surgiram. Até mesmo hoje, com todo o nosso incrível conhecimento médico, um novo vírus tem uma qualidade um tanto misteriosa que pode, por algum tempo, transtornar profundamente o ritmo de nossa vida e suscitar questões tantos espirituais quanto médicas. No entanto, a vida é frequentemente misteriosa para nós, quer seja por causa de medos, doenças, fracassos ou morte. Muitas passagens da Bíblia podem nos ajudar em lidar com nossas preocupações. Eu gostaria de abordar algumas delas.

No livro de Apocalipse, o apóstolo João escreve às igrejas para abençoá-las, tranquilizá-las e encorajá-las. Vemos esse propósito apostólico se cumprindo em todo o livro. Um exemplo inicial e particularmente marcante desse propósito está na bênção que João pronuncia sobre as sete igrejas, a bênção registrada em Apocalipse 1.4-5. Para igrejas pequenas, em dificuldades e perseguidas, algumas das quais eram inquietadas especialmente por pecados e falsas doutrinas, João fala palavras de graça e paz. Lembra aos cristãos que, por mais que sentissem que viviam num mundo de ira e conflitos, Deus está com eles em sua graça e amor, bem como em sua misericórdia e paz. João ressalta essa realidade no modo como descreve o caráter de Deus que cuidava deles. As palavras de encorajamento de João às igrejas, em seus dias, podem também nos fortalecer na fé hoje, durante a crise atual.

A bênção que João ministra procede do Deus trino: o Pai, em seu trono, soberano sobre o tempo e a história; o Espírito, diante do trono, conhecedor de todas as coisas e presente nas igrejas; e Jesus, o Cristo, aquele que está ativo na história para governar e salvar. As três descrições de Jesus são evidentemente poderosas e esclarecedoras. Jesus é a “Fiel Testemunha”, o que significa que ele é o profeta cheio da verdade. Jesus é “o Primogênito dos mortos”, o que significa que ele é o Sacerdote ressuscitado e vivo que deu sua vida na cruz como o sacrifício pelos pecados de seu povo (Cl 1.18). Jesus é “o Soberano dos reis na terra”, o que significa que ele é o rei que reina agora sobre o mundo inteiro.

O que não é tão evidente é que essas descrições de Jesus são extraídas do Salmo 89, especialmente dos versículos 27 e 37: “Fá-lo-ei, por isso, meu primogênito, o mais elevado entre os reis da terra… Ele [trono de Davi] será estabelecido para sempre como a lua e fiel como a testemunha no espaço”. João simplesmente retirou frases poéticas do Salmo 89 e lhes atribuiu significados dele mesmo? Longe disso. Se lemos João dessa maneira, perdemos grande parte da bênção e do encorajamento das palavras. Em vez disso, precisamos ver as fortes analogias entre as situações que o povo de Deus enfrenta no Salmo 89 e em Apocalipse. Em ambos os casos, o povo de Deus está lutando com a realidade de forças históricas que se opõem a eles e mostram quão fracos eles são em si mesmos. João estava encorajando seus leitores a pararem e meditarem no Salmo 89, para compreenderem melhor o que Deus estava fazendo nos dias de João — e em nossos dias.

O Salmo 89 como um todo

O Salmo 89 é distinto, talvez singular, pelo fato de que se divide em duas partes bem diferentes. Os versículos 1-37 são uma reflexão gloriosamente positiva sobre o caráter de Deus e sua aliança com Davi. Os versículos 38-51 são um lamento de que Deus não somente rejeitou a casa de Davi, mas também parece ter quebrado suas promessas. Considerado como um todo, o salmo incute a pergunta “Como pode um Deus fiel parecer, na história, ser desleal para com seu povo? Quem é Deus? E o que ele está fazendo na história? O salmista não sabe as respostas para essas perguntas, em seus dias — assim como nem sempre sabemos as respostas para as nossas perguntas sobre os propósitos de Deus. Por que ele permite que este mundo seja lançado em caos? Por que a Covid-19 transtornou a nossa vida? Por olharmos para Jesus, com João, veremos sobre as respostas mais do que o salmista viu. Porém, ao mesmo tempo, o salmista nos ajudará a apreciar mais completamente a Jesus e sua obra e nos ajudará a sabermos melhor como esperar até que Deus finalmente responda nossas perguntas.

Vamos examinar o Salmo 89 e achar ajuda para perseverar no reino de Deus em dias de tribulação (Ap 1.9). Como poema, este salmo nos ajudará a desacelerar e nos tornarmos mais meditativos em nossa leitura e aprendizado. E muitos de nós temos tempo para isso agora que estamos, muitos de nós, gastando tanto tempo quanto possível em casa, não temos? Poderíamos resumir a teologia sistemática do salmo em uma sentença ou duas. Entretanto, à medida que meditarmos neste poema e o estudarmos, acharemos grande encorajamento emocional, espiritual e teológico.

A introdução: Salmo 89.1-4

As primeiras palavras do Salmo em hebraico, depois do título, são: “Cantarei para sempre as tuas misericórdias, o Senhor; os meus lábios proclamarão a todas as gerações a tua fidelidade” (v. 1). O salmo começa com as misericórdias e a fidelidade de Deus, celebrando esses atributos de Deus. Somos incentivados a lembrar essas características e meditar nelas. Deus é infalivelmente constante em sua misericórdia. “Misericórdia” é uma tradução da palavra hebraica hesed, que é um tanto difícil de traduzir. Na Versão King James, é geralmente traduzida por “bondade” e, às vezes, é traduzida para o grego como “misericórdia”. Gosto de pensar nessa palavra como “amor pactual”. Aqui, ela é apresentada em paralelo com fidelidade. Deus é sempre amoroso e confiável. Ele não muda em seu cuidado e compromissos. É o mesmo para sempre. De fato, “para sempre” é uma das palavras repetidas frequentemente neste salmo. Apesar de como podemos nos sentir durante a crise atual, Deus permanece o mesmo. Ele é sempre totalmente confiável, leal e imutável.

Estas verdades sobre Deus não são apenas eternas, são também manifestadas na história. No versículo 3, Deus fala: “Fiz aliança com o meu escolhido”. O salmista cita as palavras de Deus para que nos lembremos da aliança que Deus fez soberanamente com Davi e sua posteridade. Esta aliança, como o caráter de Deus, é para sempre e para todas as gerações. Portanto, o salmo começa com seus grandes temas: o amor e a fidelidade imutáveis de Deus e sua aliança com Davi e sua casa. (O salmista está também lançando o fundamento para a sua queixa posterior de que Deus parece não ter cumprido suas promessas.)

A celebração: Salmo 89.5-37

Deus no céu (Salmo 89.5-8)

A declaração e a celebração do poder e da fidelidade maravilhosos de Deus começam nos céus. O quadro é a reunião de seres santos — a maioria, talvez anjos — louvando a Deus, no céu, especificamente por sua fidelidade. Até mesmo entre os grandes anjos, o Senhor é único, inspira temor e reverência à luz da grandeza de seu poder e do uso fiel desse poder. Os anjos nãos estão numa aliança de graça com Deus e não recebem misericórdia de Deus. Permanecem santos ou caem por sua obediência individual. Em contraste, os humanos podem conhecer o Deus da aliança de graça e seu amor inabalável para com pecadores redimidos. Que privilégio gozamos! Mesmo quando estamos em tempos incertos, podemos ser gratos pelo fato de que nosso Pai celestial olhou com misericórdia para nós e nos redimiu.

Deus na terra (Sl 89.9-14)

Embora Deus seja descrito como tremendo e poderoso nos céus, nenhuma ação específica de Deus é apresentada além de sua comunhão com os seres santos. Por contraste, quando a cena muda para a terra, Deus é imediatamente retratado como ativo. As tempestades marítimas, o símbolo do caótico e incontrolável, são governadas por Deus e acalmadas por ele. (A admiração dos discípulos de Jesus pode muito bem ter sido modelada por este salmo, quando o viram aquietando o mar — Lc 8.22-25.) O poeta se move da natureza para a história, refletindo sobre a derrota do Egito (Raabe). O poderoso Egito não podia resistir ao poder de Deus, assim como o cadáver de um animal não pode resistir o ser devorado. Deus dispersa todos os seus inimigos — ninguém tem chance de opor-se a ele.

Deus possui e controla tudo que existe nos céus e na terra, porque criou todas as coisas. Tudo que existe na terra — o norte e o sul, bem como os lugares mais elevados ou os mais baixos — refletem o poder da mão de Deus. Até a Covid-19, embora seja invisível a olho nu e altamente destrutiva, está sob o poder soberano de Deus. Este vírus não surpreendeu o nosso Senhor, nem escapou do seu controle.

Além disso, podemos perguntar como as montanhas podem exultar e louvar o Senhor. O poeta atribui emoções humanas às montanhas porque a firmeza delas glorifica a Deus. O poder de Deus tem de estar ligado à sua determinação de assegurar-nos que ele pode ser e será fiel em tudo que faz.

O trono deste Deus tremendo e governante está assentado em justiça e direito. Ele é sempre santo e justo em tudo que faz. Ao mesmo tempo, é amoroso e misericordioso. Aqui, novamente, devemos pensar na santidade de Deus no céu e em sua misericórdia na terra. Esta revelação do caráter de Deus nos encoraja com sua santidade e amor pelos quais ele governa nossas vidas sempre. Precisamos lembrar isso especialmente em tempos de crise. Que Deus maravilhoso nós temos!

O povo de Deus (Sl 89.15-18)

Este grande Deus é apropriadamente o objeto da adoração de seu povo. No centro desta seção de celebração, o salmista enfatiza a bem-aventurança do povo que conhece e adora o Senhor. O quadro parece ser o de uma procissão festiva em direção ao templo em Jerusalém. Ali, em específico, o povo de Deus experimenta a luz do rosto de Deus sobre eles (Sl 4.5-6; 27.1, 4-5). O rosto de Deus é a fonte da bênção de Deus (Nm 6.23-26). Este povo é exaltado pela justiça e graça de Deus, o que é a aplicação do caráter de Deus, apresentado em Salmo 89.14, a seu próprio povo.

O privilégio de adoração se tornou especialmente precioso para nós nestes dias, quando muitos de nós não podemos reunir como congregações para adoração. Estamos experimentando a dor expressa pelo salmista no Salmo 42, quando ficou privado do culto. Mas, enquanto esperamos por restauração da adoração pública, ainda podemos experimentar a luz do rosto de Deus por meio do estudo de sua Palavra e da oração.

Deus guia e protege seu povo bem-aventurado por meio de seu Rei ungido. Este Rei é o escudo de Deus para seu povo e reina para refletir entre o povo a santidade de seu Deus. Assim como o começo do salmo mudou do caráter de Deus para o Rei, também aqui a bem-aventurança do povo muda para a bem-aventurança do Rei. Devemos lembrar, à medida que estudamos, que tudo que é dito a respeito do rei de Israel aponta, de uma maneira ou de outra, para Jesus como o nosso Rei.

A aliança de Deus com Davi (Sl 89.19-28)

O salmo se volta agora para uma celebração de Davi como servo de Deus e rei ungido. Antes de Davi ser mencionado por nome, o salmista nos diz que Deus o escolheu e o colocou acima de um povo exaltado. Deus sempre usou líderes em seus relacionamentos com seu povo — patriarcas, juízes, sacerdotes, profetas ou reis. Entre esses líderes, Davi teve um papel singular como o homem segundo o coração de Deus (1Sm 13.14;. At 13.22). Este Davi, escolhido por Deus para ser seu servo, Deus o separou para seu serviço, ungindo-o com óleo santo. Deus o tornou forte com a força de sua própria mão. Deus concedeu a Davi vitória e sucesso sobre todos. Davi é o primogênito do amor de Deus. Também será  o mais elevado dos reis da terra, exaltado pela poderosa fidelidade de Des. Toda esta bênção de Davi é o fruto do amor e da aliança inalteráveis de Deus. Continuarão para sempre. Esta misericórdia não tem fim.

A aliança de Deus com a casa de Davi (Sl 89.29-37)

Assim como a aliança com Davi é para sempre, também a aliança com a casa de Davi e sua descendência é para sempre. O trono e a dinastia de Davi durarão tanto quanto os próprios céus. Esta é uma promessa garantida firmemente.

Para que ninguém pense que esta promessa está implicitamente condicionada à fidelidade e à obediência contínuas por parte dos descendentes de Davi, o salmista deixa claro que a promessa não é assim. A desobediência certamente será punida, mas a aliança não será ab-rogada. O amor e a fidelidade imutáveis de Deus para com Davi, sua casa e sua aliança permanecerá tão certo quanto a santidade de Deus, que fez a promessa e cumpre sua palavra.

A fidelidade de Deus à sua aliança é ilustrada na história por sua fidelidade ao seu propósito na natureza. O sol e a luz, nos céus, são testemunhas fiéis da fidelidade de Deus. O céu e a terra, a natureza e a história, todos dão testemunho da fidelidade do Senhor.

Podemos ser encorajados com o fato de que Deus foi fiel a Davi. Foi fiel para garantir que o Rei eterno, Jesus Cristo, nascesse da linhagem de Davi. Esse mesmo Deus também é fiel a seu povo agora. Ele nos redimiu e conhece as nossas circunstâncias atuais. Deus tem realizado a história para o bem de seu povo. Este crise presente, à sua própria maneira, está sendo usada por Deus para cumprir seus propósitos.

Queixa: Salmo 89.38-51

A celebração deste salmo termina repentina e dramaticamente. As palavras iniciais do versículo 38 são literalmente “Tu, porém”. Assim como Deus garantiu a aliança, também agiu contra ela. Em ira, Deus repudiou e rejeitou a casa de Davi.

Os fatos da rejeição (Sl 38-45)

Poderíamos minimizar os problemas da casa de Davi como um desnível na estrada que pode ser reparado facilmente no futuro? O salmista quer nos assegurar que não podemos adotar essa solução tão fácil. Deus renunciou sua aliança com Davi, e a coroa real, o símbolo de governo e autoridade, foi lançada ao pó. As fortificações de Davi, incluindo talvez a cidade santa, foram reduzidas a ruína. Seus inimigos zombam de sua casa, roubam-na e derrotam-na totalmente. O Senhor exalta agora a mão dos inimigos como antes havia exaltado a mão de Davi (v. 25). O julgamento de Deuteronômio 28.15-68 caiu sobre a casa de Davi. Toda a sua majestade e poder chegaram ao fim. Desânimo assenhoreou-se dos descendentes de Davi; e, em vez de gozarem uma juventude gloriosa, foram reduzidos prematuramente a velhice fragilizada. Estes são os fatos das calamidades que, na história,  caíram sobre a casa de Davi. “Aborreceste a aliança com o teu servo; profanaste-lhe a coroa, arrojando-a para terra” (Sl 89.39).

Estes fatos nos lembram que a religião cristã encara a realidade com honestidade. Jamais precisamos minimizar ou ignorar sofrimentos ou inquietações. Em nossos dias, o temor de doença, morte e perdas econômicas sérias é real para muitos. Este salmo nos mostra que podemos expressar nosso temor a Deus. Sofrimento e perdas são reais e dolorosas. Podemos falar claramente com Deus sobre essas coisas.

Perguntas e apelos (Sl 89.46-51)

Em resposta às grandes promessas feitas a Davi e ao terrível julgamento sobre a casa de Davi, o salmista apresenta duas perguntas fundamentais: até quando e o que é feito (no sentido de “o que aconteceu a”)? Essas perguntas são ambas dirigidas a Deus: até quando estarás irado e o que é feito de tuas promessas? Perguntas honestas são uma parte essencial do poder emocional do Saltério. Deus aprecia as perguntas de seu povo porque o relacionamento deles é honesto e verdadeiro. As perguntas são aquelas que ocorrem frequentemente ao povo de Deus em tempos difíceis. Muitos de nós talvez as estejamos fazendo agora.

Até quando? O apóstolo João deve ter perguntado: “Até quando?”, naquela prisão. Os mártires sob o altar celestial fizeram essa pergunta (Ap 6.10). Até quando devemos esperar que Deus aja para nos livrar? Até quando Deus estará distante de seu povo, de fato, mais do que distante — até quando Deus estará irado com seu povo? Aqui, temos a segunda referência explícita à ira de Deus: “Tu… te indignaste com o teu ungido” (v. 38) e “Até quando… Arderá a tua ira como fogo?” (v. 46). Somos lembrados de que sofrimentos na história são expressões dos impetuosos e justos julgamentos de Deus. Sua santidade reage com ira a todo pecado — não somente no final da história com julgamento eterno, mas também constantemente no decorrer da história. Essas expressões da ira de Deus não são separadas de seu amor e sua misericórdia. Como Jesus nos diz em Lucas 13, esses julgamentos na história têm o propósito de levar-nos ao arrependimento. Devemos ser gratos pelo fato de que o tempo continua para que nos arrependamos e achemos a salvação em Cristo. Em meio ao nosso sofrimento presente, vamos orar por nós mesmos e pelos outros — para que aprendamos a lição do arrependimento, voltando-nos verdadeiramente para Deus com tristeza pelo pecado. Vamos também confiar que o único refúgio da ira de Deus é a cruz de Jesus.

Depois de ser apresentada a pergunta honesta —“Até quando?” —, o salmista faz um apelo a Deus: Lembra-te. Conhecemos a Deus e vivemos diante dele por meio de sua Palavra. Deus mesmo nos ensina a sua Palavra. Ele insiste em que a conheçamos, creiamos nela e a sigamos diligentemente. Assim como dependemos da Palavra, assim também Deus prometeu sustentar a sua Palavra e cumpri-la. Por isso o salmista apela, em favor do povo de Deus, que o Senhor se lembre da fraqueza e fragilidade dos humanos que ele criou. Quando Deus se lembra, ele nos ajuda, ensinando-nos as respostas das perguntas feitas em seguida: “Que homem há, que viva e não veja a morte? Ou que livre a sua alma das garras do sepulcro?” (V. 48). “Até quando?” é a pergunta humana necessária, porque nós morremos e não temos poder para livrar nossa alma da morte.

A morte separaria o salmista da terra e do templo. Veja, por exemplo, Salmo 115.17: “Os mortos não louvam o Senhor, nem os que descem à região do silêncio”. O Antigo Testamento — especialmente quando Israel era governado por Davi — retratava a redenção que Jesus traria, uma redenção que é final e nunca cessa. Por isso, o Antigo Testamento se focalizava no que Israel estava experimentando como figura da redenção. No tempo do salmista, prosperar na terra e adorar no templo eram o retrato de bem-aventurança. A esperança do Antigo Testamento se cumpriu no Novo Testamento. A realidade do Novo Testamento é esclarecida e aprofundada pelo pano de fundo do Antigo Testamento. A promessa de ressurreição do Novo Testamento ajuda a responder muitas das perguntas do Antigo Testamento. As reflexões do Antigo Testamento sobre o reino de Deus nos ajudam a entender tanto a natureza presente do reino de Cristo quanto a natureza futura dos novos céus e da nova terra.

Embora este salmo faça aqui as perguntas sobre a morte, é o Novo Testamento que as responde plenamente. Quem pode livrar a alma do inferno? Somente Jesus. Quem pode viver e nunca vê a morte? Somente aquele que crê na promessa de Jesus: “Todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente” (Jo 11.26). Esta é a promessa e a esperança às quais devemos nos apegamos em meio a todos os nossos temores.

Que é feito? A segunda pergunta fundamental indaga o que aconteceu à promessa de Deus: o Deus fiel prometeu a Davi amor permanente e infalível. Então, o que houve com essa promessa? Outra vez, o salmista pede a Deus que se lembre dos resultados de seu aparente fracasso em cumprir sua promessa. As nações estão zombando do povo de Deus por ter um Deus que não pôde cumprir sua promessa. Estão zombando do ungido de Deus, o rei de Deus, por causa do caminho em que ele teve de andar, o caminho de perda, derrota e insulto. No Novo Testamento, vemos claramente que o Messias de Deus andou no caminho de rejeição, zombaria e morte. Seu sofrimento levou à nossa salvação. Por fim, Deus sempre responde às nossas perguntas com suas bênçãos.

A conclusão: Salmo 89.52

O salmista não achou, em seus próprios dias, as respostas para as suas perguntas. Mas ele continuou a confiar e esperar em Deus. O salmista estava comprometido com bendizer a Deus para sempre. Independentemente da grandeza dos sofrimentos e da grandeza da crise, o salmista, mesmo em meio às perguntas, confiou amor e na fidelidade imutáveis do Senhor.

O apóstolo João sabia de tudo isso sobre o Salmo 89 quando escreveu Apocalipse 1.5. Também viu claramente como Jesus tanto manifestou o amor e a fidelidade imutáveis de Deus em tudo que fez quanto respondeu às perguntas que incomodavam o salmista.

Jesus é a testemunha fiel. Assim como a confiabilidade do sol e da luz dão testemunho da fidelidade de Deus, assim também Jesus sempre fala a verdade e sempre cumpre os propósitos de Deus. Sempre podemos confiar no que Jesus diz.

Jesus é também o primogênito, não apenas como o ungido Filho de Davi, mas também como o primogênito dentre os mortos. Em sua ressurreição, ele vive para sempre e dá a vida eterna a todos os seus. Sempre acharemos vida nele, quer vivamos, quer morramos.

Jesus é também o mais elevado dos reis da terra. É mais elevado não apenas no sentido de que é o mais favorecido de Deus, mas no sentido de que governa realmente sobre todos os reis da terra. Podemos ter a confiança de que tudo que acontece em nossa vida está cumprindo os bons propósitos de nosso Rei.

Jesus mostra o tempo de Deus. O tempo de Deus é certo tanto na primeira vinda quanto na segunda vinda de Cristo. Apesar de nossas frustrações, “Não retarda o Senhor a sua promessa” (2Pe 3.9). No tempo certo, Jesus traz vida para os mortos. Jesus cumpre a aliança de Deus em seu amor e fidelidade imutáveis. Ele suportou toda a zombaria dos inimigos de Deus e andou no caminho de sofrimento que conduz à salvação.

João aprofunda o nosso entendimento a respeito de Jesus e de Deus, o Pai, por levar-nos ao Salmo 89. O Salmo 89 nos ajuda a refletir no amor e na fidelidade imutáveis de Deus, a apreciá-los e a expressar honestamente as nossas perguntas e frustrações em meio à crise presente e sempre. Bendito seja o Senhor para sempre: “Cantarei para sempre as tuas misericórdias, ó Senhor; os meus lábios proclamarão a todas as gerações a tua fidelidade” (Sl 89.1).

Por: W. Robert Godfrey. © Ligonier Ministries. Website: ligonier.org. Traduzido com permissão. Fonte: Psalm 89: Promise, Struggle, and Reality.

Original: Salmo 89: Promessa, luta e realidade. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Francisco Wellington Ferreira. Revisão: Filipe Castelo Branco.