Sexualidade e cosmovisão

Todo mundo tem uma cosmovisão. Alguns dizem que cosmovisão é questão de coração, mas no mundo sentimentalista em que vivemos precisamos definir melhor o que isso significa. Se usarmos o conceito hebraico e grego, entenderemos que coração é além de um músculo, mas também está para além dos sentimentos. Coração seria o centro de toda a nossa vida envolvendo mente (intelecto) e sentimentos.

Segundo Charles e Nancy Pearcey, cosmovisão é “a soma total de nossas crenças sobre o mundo, a ‘visão global’ que dirige nossas decisões e ações diárias”[1].

Uma vez que temos minimamente esta noção de cosmovisão, é natural e esperado que um cristão veja o mundo a partir das lentes das Escrituras, mas para que isso seja uma realidade, as lentes em si não são o suficiente, como já disse James K A. Smith: “Ser discípulo de Jesus não é primordialmente uma questão de meter as ideias, doutrinas e crenças certas em sua cabeça. […] Antes, é uma questão de ser o tipo de pessoa que ama corretamente – que ama a Deus e ao próximo e é orientada ao mundo pela primazia desse amor”.[2] Ou seja, é necessário relacionamento com Cristo para que a nossa cosmovisão seja colocada em prática. Quando isso acontece, percebemos que aquilo que entendemos como cosmovisão cristã molda nossa vida para pensarmos e agirmos de forma diferente das demais que são difundidas na sociedade.

Entretanto, muitas pessoas que identificam como religiosas ou cristãs estão sendo cooptadas pela cosmovisão secular, muitas vezes sem perceber e é exatamente isso que tem confundido muitas pessoas acerca da sua identidade cristã. Muitos se dizem cristãos, mas não conseguem achar motivos (diria que por falta de buscar a Deus e se aprofundar nas Escrituras) suficientes para colocar em prática os princípios das lentes do Evangelho e assim acabam por abraçar pautas, conceitos, pensamentos, movimentos que são extremamente contra o cristianismo.

Quanto a cosmovisão e sexualidade, é necessário que o cristão tenha bem definido em sua mente o que é correto diante da perspectiva bíblica para não cair no engano do seu coração pecaminoso, tampouco dos conceitos que estão distantes do cristianismo. No livro Love Thy Body, a intelectual americana Nancy Pearcey aponta algumas pesquisas[3] que foram realizadas em diversas áreas, por diferentes institutos para mostrar como cristãos estão absorvendo a cosmovisão secular:

Pornografia: Cerca de dois terços dos homens cristãos assistem à pornografia pelo menos uma vez por mês, a mesma taxa que os homens que não alegam ser cristãos.

Coabitação: Uma pesquisa da Gallup descobriu que quase metade (49%) de adolescentes com histórico religioso apoia o sexo antes do casamento.

Divórcio: Entre os adultos que se identificam como cristãos, mas raramente frequentam a igreja, 60% se divorciaram. Dos que frequentam a igreja regularmente, o número é de 38%

Aborto: Uma pesquisa da LifeWay descobriu que cerca de 70% das mulheres que fizeram um aborto se identificaram como cristãs. E 43% disseram que frequentaram uma igreja cristã pelo menos uma vez por mês ou mais no momento em que abortaram o bebê.

Homossexualidade e Transgênero: Em um estudo do Pew Research Center de 2014 apontou que 51% dos millennials evangélicos disseram que o comportamento de pessoas do mesmo sexo é moralmente aceitável.

Recentemente li tweet do pastor e professor de filosofia Filipe Fontes onde ele disse que “essa aproximação entre o discurso cristão e o discurso dos movimentos de minorias nas redes sociais nos últimos dias é, no mínimo, estranha. Uma apologética que tem diálogo demais e antítese de menos é muito preocupante….”

Olhar para tudo isso deve, no mínimo nos colocar em alerta para vivermos na contramão desta realidade. Devemos alinhar a nossa cosmovisão em todas as áreas da vida, inclusive na sexualidade. É inevitável que pessoas que não tem a cosmovisão cristã pensem assim, mas com o cristão deve ser diferente.

Em uma visita do Dr. John Street Jr. em nossa igreja, ele nos apresentou as principais violações bíblicas sobre conduta sexual:

1. Sexo antes do casamento –  Deuteronômio 22.20,21; 1 Coríntios 6.15; 1 Tessalonicenses 4.3-5; Gênesis 39.1-23;

2. Adultério – Deuteronômio 5.18; Provérbios 6.32; Hebreus 13.4

3. Homossexualidade/Sodomia – Levíticos 18.22, 20.13; Gênesis 2.25; 19.1-29; 1 Coríntios 6.11; Mateus 5.27-28; Romanos 1.24-28;

4. Incesto – 1 Coríntios 5.1-2,5; 2 Coríntios 2.6-8; Levítico 18.6-18; 20.11-12, 14;

5. Estupro – Gênesis 19 – (violação sexual em Sodoma e Gomorra); Deuteronômio 22.25 (vs. 23-30); Juízes 19.25; 20.3-4, 12; 2 Samuel 13.11-15 (Amnom e Tamar);

6. Prostituição – Levíticos 18; 19.29; 20; Provérbios 23.27; 1 Coríntios 6.9-10; Deuteronômio 23.18; Hebreus 13.4;

7. Imoralidade mental (incluindo voyeurismo e pornografia) – Mateus 5.28; Êxodo 20.17; Filipenses 4:8;

8. Autoerotismo (masturbação) – Mateus 5. 30; 1 Coríntios 7.3; Efésios 5.3; – Alguns teólogos colocam a masturbação como um primeiro passo para a homossexualidade, porque está recebendo gratificação sexual do mesmo sexo.

9. Exibicionismo – Gênesis 9.22; 1 Timóteo 2.9; Romanos 13.14

10. Bestialidade (zoofilia) – Êxodo 22.19; Levítico 18.23; Deuteronômio 27.21; 1 Pedro 4.4-5

11. Travestismo e Transexualíssimo – (Isso é uma questão filosófica, principalmente para as novas gerações. É uma forma do gnosticismo docético pós-moderno onde a matéria é má e por isso é necessário se libertar dela). Bissexualismo e homossexualidade são frequentemente subprodutos do travestismo e do transexualíssimo – 1 Timóteo 4.4; 1 Coríntios 6.9; 1 Timóteo 1.10; Deuteronômio 22.5.

12.Sadomasoquismo – Gálatas 5.13; Filipenses 2.3-4.

13. Fetichismo – Romanos 1.32; Filipenses 2.3-5; 4.8.

14. Inteligência Artificial – Robôs Sexuais – Problemas atuais e futuros em que as relações sexuais serão feitas com robôs. O avanço da comunicação digital e das formas digitais podem moldar as mentes para que isso se torne uma realidade. Serão criados todo tipo de robôs, adultos e crianças para satisfazer em todo tempo o desejo do sexo egoísta.

Devemos mostrar cada vez mais a necessidade de uma cosmovisão bíblica sobre sexualidade.

Paulo diz aos Filipenses que o que deve ocupar a nossa mente é tudo aquilo que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, de boa fama, virtuoso e louvável (Fp 4.8). Uma vez que isso acontece, pelo poder do Espírito Santo que habita o cristão, os pensamentos e ações são direcionados de forma a se posicionar corretamente, não de acordo com o discurso que agrade a todos, mas de acordo com a vontade de Deus.

Nós só conseguiremos isso através da ação e mover do Espírito Santo que habita em nós e nos capacita a enxergar a vida com as lentes do cristianismo, lentes que nos ajudam a não sermos cooptados pela cosmovisão secular, mas nos direciona a cultivar diariamente uma vida de devoção e temor levando-nos a declarar a verdade de que “nós temos a mente de Cristo”.


[1] Chales Colson e Nancy Pearcey. How Now Shall We Live? – Tyndale, 1999.

[2] Smith, James K. A. Desiring the Kingdom. Baker Academic, 2009. p. 32-33.

[3] Pearcey, Nancy. Love Thy Body (p. 10-11). Baker Publishing Group. Edição do Kindle.