As cinco linguagens idólatras do amor

Acabo de concluir o famoso bestseller “As Cinco Linguagens do Amor”. Eu já tinha ouvido falar muito do livro, alguns elogios, mas também muitas críticas. Confesso que não tinha grandes expectativas, mas como tenho usado o aplicativo The Pilgrim para ouvir livros enquanto dirijo, resolvi dar uma chance ao aclamado livro. Descobri, no entanto, que minhas poucas expectativas sobre o livro foram, em muito, superadas: o livro não é ruim, é péssimo. Possivelmente se trata do pior livro que já “li” e certamente é o pior livro dito cristão que já ousei ir até o fim.

Em resumo: o livro cristão mais não cristão que conheço.

Acredito que o motivo do meu “escândalo” se deve ao fato da ausência de um elemento fundamental na formação do ser humano e que se manifesta com grande clareza nos relacionamentos, em especial, no casamento. Enquanto ouvia o autor explicar sua tese dos tanques de amor e das necessidades que precisam ser supridas pelos cônjuges, ficava no aguardo desta palavra ser dita. Porém, ela não surgiu. O livro em momento algum menciona o problema do PECADO em nossos relacionamentos. Não há qualquer preocupação sobre desejos legítimos e ilegítimos diante da Palavra de Deus. Na verdade, a ausência de textos bíblicos para quase tudo o que é dito já deveria ser alarmante.

Uma vez que o livro não fala sobre o pecado, não trata sobre nossos impulsos naturais para desejar o mal, ele também não fala nada sobre redenção e perdão. As palavras de Jesus no sermão da planície (Lc 6.17-49) viraram mero pretexto para o autor falar sobre a importância de alguém preencher o tanque de amor do cônjuge que ele não ama, mas odeia. Como um livro pode ser chamado de cristão, vendido para cristãos, publicado em editoras cristãs e usado em muitas igrejas se ele não fala de redenção?

A total ausência da centralidade de Cristo nos relacionamentos leva o livro para o patamar de um mero trabalho secular, dentro de uma perspectiva behaviorista, com uma capa cristã.

O problema de falar em linguagens do amor, em termos de necessidades, e não considerar o pecado, é que isso leva a idolatria. Afirmar que a maior necessidade do ser humano é ter seu tanque de amor preenchido por qualquer coisa que não seja Cristo é idolatria, mesmo que sejam coisas legítimas como o casamento. Se eu pudesse falar com todos os cristãos que leram esse livro e encontraram nele alguma sabedoria, pensando ser ela bíblica, diria para ler o capítulo 14 do livro Uma nova visão de David Powlison. Nesse capítulo, Powlison demonstra com clareza qual a verdadeira linguagem do amor em Cristo.

Não há como falarmos da natureza humana sem tratarmos do problema fundamental do pecado. Infelizmente “as cinco linguagens do amor” são apenas cinco formas de idolatria no lar. Não há amor verdadeiro se esquecemos dAquele que é o verdadeiro amor e a maior expressão de amor que ele manifestou: redenção.