“Deus, com quem devo me casar?”

*Este artigo é um resumo da palestra de Heber Campos Jr. proferida na Conferência Fiel Jovens Interativa 2020.

Antes de buscarmos uma resposta, convém perguntar por que levantamos essa pergunta. A princípio, isso parece algo supérfluo ou sem propósito. Para os casados, pode parecer algo sem importância; para os namorados, pode parecer algo já decidido; para os solteiros, pode parecer algo muito hipotético. Contudo, é importante considerar essa pergunta para termos confiança nas decisões tomadas tendo por base princípios da vida cristã. O que está embutido nessa pergunta? Pelo menos dois grandes tópicos:

Primeiro, a vontade de Deus com relação a nossas escolhas. Essa vontade pode ser uma questão de obediência, como no caso dos mandamentos (ou vontade preceptiva, isto é, o que Deus proíbe e/ou ordena). Por exemplo, o caso do jugo desigual ou viver com alguém sem compromisso, pois entrar em aliança é uma ordenança bíblica. Esse nível de análise é mais fácil de se entender: faça o que Deus ordena e não faça o que ele proíbe. Mas há também a questão de plano divino para nossa vida ou, em outras palavras, sua vontade decretiva. Nossa expectativa aqui precisa ser moldada, pois frequentemente esperamos que Deus nos revele o plano dele de forma grandiosa, quando, na verdade, o que precisamos é aprender a nos submetermos a esse plano. É isso que significa aprender os decretos de Deus. Entender esses decretos nos levarão a fazer coisas santas.

Isso nos traz ao segundo tópico: a direção e segurança que vêm de Deus para nossas escolhas. Por vezes fazemos escolhas insensatas e, por isso, devemos aprender os decretos de Deus. É comum achar que essa revelação para tomar decisões acontece de forma mecânica ou automática, como sonhos, profecias, falar ao nosso coração ou fazer testes com Deus quando, na verdade, essa direção vem pelo amadurecimento cristão, para aqueles que crescem na sabedoria divina (Sl 25.4-10; Cl 1.9-10).

Quando buscamos direção, geralmente esperamos algo que leve a uma decisão “certa”, isto é, com algum grau de certeza. Mas certeza do quê? De que tudo dará certo e não haverá tropeços? A Bíblia não promete isso aos filhos de Deus. Não podemos ter certeza disso como temos certeza da salvação, por exemplo, ao ler 1 João. Mas, entre os diferentes graus de certeza, podemos buscar evidências de tomar uma decisão sábia.

Por quais caminhos nos tornamos sábios? O primeiro deles é a oração. Assim como Salomão orou por sabedoria, Tiago nos ensina a buscar sabedoria da parte do Senhor para tomar decisões (Tg 1), e Tiago associa essa sabedoria aos relacionamentos. O segundo é a meditação na Palavra. Isto é, ler as Escrituras, ouví-la bem explicada, mas não só isso. É preciso ir além. É preciso refletir e processar o que ouvimos. Se esquecemos disso, ficamos com muito conteúdo e pouca reflexão. A consequência é uma “bulimia espiritual”: comemos muito e não digerimos. Em contrapartida, o salmista diz que ama a Lei do Senhor e a processa, a mastiga (Sl 119.97-98). E por fim, em terceiro porém não menos importante, mediante convívio com irmãos sábios. Contrariando a ideia de que a maturidade vem apenas da devoção individual, nas Escrituras a santificação e a sabedoria acontecem principalmente no convívio com outros irmãos sábios e tementes a Deus. É por isso que Provérbios bate na tecla de estar junto e ouvir bons conselheiros.

Essa maturidade é o que nos faz aptos a tomar decisões, inclusive na vida amorosa, tomando as decisões mais sábias possíveis. Mais do que apenas “escolher alguém”, ela tem que te direcionar a fazer e/ou a deixar de fazer certas coisas. A sabedoria advinda do Senhor deve lhe conduzir por quatro caminhos:

  1. A sabedoria serve para abandonar conceitos pagãos. Tudo o que não procede das Escrituras e não combina com a verdade bíblica é pagão. Essas ideias frequentemente se misturam entre nós, como o mito de existir uma alma gêmea para cada pessoa ou que é preciso uma série de preparativos para de estarmos prontos para o casamento (ter emprego, casa, carro, etc.) Essas coisas não são ruins, mas ao torná-las pré-requisitos, acabamos damos valor demais ao que é secundário. Nós acabamos idealizando um certo tipo de casamento ao invés da essência do que realmente é o casamento.
  2. Ela nos ajuda a tomar consciência de desafios futuros. Precisamos ter ciência de que o casamento é uma união de pecadores. O casamento é algo para nos santificar e para nos arrumar. Quando casamos, não casamos com alguém que está pronto, e sim para aprontar alguém para Cristo Jesus. O casamento é fonte de prazer por ser oportunidade de ser lapidado pelo outro e para lapidar o outro.
  3. A sabedoria nos ajuda a crescer espiritualmente. Isso realça a necessidade de crescermos espiritualmente para poder casar. Pensar “quem é a pessoa certa?” frequentemente denota um egoísmo pessoal e uma falta de autoexame, supondo que se está inteiramente pronto e que o problema é apenas a avaliação da outra pessoa. Será que não temos alguma idolatria pessoal que acaba nos afastando das pessoas? Ao invés de pensar que não há pessoas disponíveis, pense em se preparar para se unir a Cristo nas bodas do Cordeiro.
  4. A sabedoria nos ajuda a responder à pergunta inicial. Pense primeiro em temos de fé. A pessoa demonstra apego ao Senhor? Nos momentos de crise, ela se apegou mais ao Senhor? Segundo, analise os relacionamentos sociais. Essa pessoa respeita os pais? Como é o relacionamento com os amigos e amigas? Ela é prudente na hora de se comunicar? Ela pede perdão ou se mostra pronta a perdoar? Terceiro, pense em termos de responsabilidade. Como ela se mostra com relação ao futuro cuidado com a família? Ela se mostra pronta a servir o próximo? Quarto, com relação a ideais de vida. Essa pessoa possui ideais utópicos?

Se você tem deixado de lado o modo de pensamento pagão, se você possui consciência dos desafios futuros, se você tem crescido espiritualmente e se avalia o cônjuge com base na vida cristã, então você tem se mostrado pronto para o casamento. Vá em frente e case. Tenha cuidado com questões secundárias. Estar temeroso frequentemente se associa com o fato de querer muita certeza da parte de Deus. Busque sabedoria e você estará pronto para casar. Mas, acima de tudo, saiba que o casamento não é a realidade última, mas uma sombra da nossa união com Cristo. Mesmo que o casamento não pareça próximo, descanse sabendo que você já possui um Noivo, Jesus Cristo.