Esperança no meio do lamaçal

*Este artigo é um resumo da palestra de Daniel Gardner proferida na Conferência Fiel Jovens Interativa 2020.

Em O Peregrino, o personagem Cristão, na caminhada para a cidade celeste, por um momento passa pelo pântano do desânimo. Ali ele cai no lamaçal e toda culpa do seu pecado se torna um peso que o puxa para baixo. Ele tira os olhos da cidade celeste e, olhando para si mesmo, sente dúvidas sobre sua fé. É quando ele conhece Auxílio, e essa pessoa o ajuda a sair daquele lamaçal. A intenção é que o texto de João 14.1-3 seja esse auxílio para nós.

Por vezes também nos encontramos no pântano do desânimo. Sentimos que Deus está distante de nós e chegamos a duvidar da nossa fé e do cristianismo como um todo. Será que essas verdades que temos ouvido são tão verdadeiras assim? Da mesma forma, não é fácil compartilhar o momento de dúvida e desânimo com outras pessoas. Não estamos acostumados com isso. O resultado é a supressão das dúvidas.

Nesse momento do relato bíblico, Cristo ainda não foi crucificado, mas Jesus já está preparando seus discípulos para quando isso acontecer. Jesus sabe que a fé deles será abalada e, por isso, Ele diz para que o coração deles não se turbe, isto é, não se angustie; diz também para crerem em Deus e também nele. Baseado nisso, podemos destacar dois recursos nessa história para ter e desenvolver esperança em meio ao lamaçal.

O primeiro recurso é a pessoa de Cristo (14.1). A solução é “credes em Deus, crede também em mim” (em Cristo). Esta é uma afirmação a respeito da divindade de Jesus Cristo. Ele está dizendo “eu sou Deus”. Ele diz para que eles tenham a mesma adoração e o mesmo temor que possuem por Deus. Alguns capítulos depois, quando Cristo é crucificado, a fé deles é abalada e a primeira tentação ao verem-no na cruz é pensar que Ele foi apenas um bom professor e ali tudo acabou. Jesus prepara o coração deles para passar por esse lamaçal de desânimo.

Muitas coisas criam dúvidas em nosso coração, como a perda de alguém, o fato de cairmos em pecados recorrentes. Mas a resposta contra a dúvida é sempre a mesma. Jesus é a imagem do Deus invisível (Cl 1.15-17). Às vezes nossa fé é bastante fraca porque cremos em Cristo como um líder, como professor, como a melhor pessoa que já existiu, mas esquecemos que em Cristo tudo foi criado tudo que existe. Antes de Gênesis, Ele já estava com Deus, Ele é Deus. Quando estamos no lamaçal, a resposta não está em nós. A resposta para nossas angústias é a divindade de Cristo. Quando surge uma dúvida, é comum olharmos para nós, mas não podemos começar com nós mesmos.

O segundo recurso é as promessas de Cristo (14.2-3). Cristo afirma que na casa do Pai há muitas moradas, como vários quartos em uma única casa. Esta é uma promessa de Cristo. Ele não menciona a crucificação em si, mas passa para seus discípulos uma visão da eternidade, promessas eternas. Se não houvesse essa garantia, Jesus não haveria falado. Mas há um lugar sendo preparado para os que creem. Há um contraste grande aqui. Jesus disse que era Deus e agora ele diz “eu vou preparar lugar”. Preparar sugere um tempo, uma demora. Não será algo instantâneo. Não podemos esquecer esse elemento. A vida cristã demanda tempo. Nós queremos transformação, santificação e glorificação para ontem, mas o Espírito Santo está trabalhando de acordo com um plano diferente do nosso.

É comum se perguntar “se Deus deseja que eu seja santo, por que não ordenar isso instantaneamente?” Ora, pois a glorificação não é instantânea. Deus se agrada em preparar e regenerar lugares e pessoas aos poucos, em gastar tempo matando um ídolo após o outro. Essa mudança nada mais é do que esperar o tempo de Deus.

No verso 3, Cristo continua: Ele voltará! Podemos confiar nesta promessa pois Ele já veio uma vez e derrotou o pecado e a morte. Portanto, Ele fará novamente. Jesus emprega uma bela linguagem de comunhão: “vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.” Já temos a promessa de que Cristo está conosco, mas agora Ele também diz que, onde Ele está agora, nós estaremos também. Este é um desejo de comunhão. Esta é a esperança em meio ao lamaçal. Deus possui um plano e Ele inclui estar conosco. É por isso que a comunhão tem tudo a ver com Jesus Cristo. Se você quer ser encorajado na vida cristã, esteja no corpo de Cristo. Uma pessoa isolada não poderá manter a esperança. A fé do cristão envolve comunhão pois o plano de Cristo envolve comunhão.

Como aplicação para os que estão a ponto de não se reconhecerem como cristãos, para aqueles que talvez até imitem bem um cristão, mas não creem em Cristo como Deus. Se você é essa pessoa, saiba quem é Jesus Cristo. Ele é Deus, criador de todas as coisas e, após a morte, será o Justo Juiz que julgará a todos os homens. Só se alegrará na casa do Pai aqueles que confessam seus pecados e creem em Jesus para vida eterna. Ore agora mesmo e peça perdão.

Em segundo, para aqueles que são cristãos mas estão com algumas dúvidas. Responda a essa pergunta: “quem é Cristo para você?” Jesus Cristo é aquele que ressuscitou e, por isso, podemos ter certeza de que Ele é Deus. Precisamos enxergar Cristo como aquele que age em amor, e a expressão disso é seu desejo de querer estar junto dos seus. Como entender que Deus te ama? Olhe para Cristo. Ele é a expressão maior do amor de Deus. Saiba que, mais importante do que tirar a dúvida, é saber que Cristo tem todas as respostas.

E, por fim, para aqueles que são cristãos e não estão no lamaçal de dúvidas, que bom! Essa é uma expressão da graça de Deus em sua vida. Mas, apoiado nessa comunhão, você está ajudando seus irmãos em Cristo? Ou está apenas reservando toda essa confiança para você? Pense em como expressar a graça que Cristo tem expressado a você. Perceba que Jesus não usa nenhum singular aqui nesse texto. A vida cristã acontece no plural e a comunhão é expressão da vida cristã. Você possui um papel na comunidade, então desempenhe-o. Chore com os que estão chorando e alegre-se com os que estão alegres.