A catequese e o aconselhamento

*Este artigo é um resumo da palestra de Franklin Ferreira proferida na Conferência Fiel para Pastores e Líderes 2020 Online.

É consenso que o período auge da catequese foi a Reforma Protestante, na Europa do Séc. 16 e talvez o principal catequista tenha sido Martinho Lutero, que escreveu seu Catecismo Menor em 1529, após uma das grandes decepções de sua vida ao passar por igrejas na região da Saxônia e ver que os pastores e os fiéis pouco conheciam da fé cristã, e as escolas estavam abandonadas. O que estava em jogo era a própria fé cristã: não bastava o fiel ser batizado, mas era preciso um contínuo alimento da Palavra de Deus.

Lutero então compôs esse material que, junto com o Catecismo Maior, foram duas ajudas valiosas para os pastores no ensino e na condução do povo. O material não tratava de polêmicas, mas coloca diante do povo apenas o essencial na linguagem mais acessível possível. Seu desejo era que os cristãos crescessem nos rudimentos da fé cristã e que, caso recusassem, deveriam ser repreendidos e exortados severamente. Apesar de muitas vezes usar uma linguagem pesada, seu ministério é marcado pela urgência com que um verdadeiro pastor exorta aqueles que seguem caminhos errados.

Seu objetivo ao escrever o Catecismo Menor era, primariamente, ser uma fonte de ajuda no culto familiar, de modo que o pai pudesse conduzir sua família (e até seus servos) a Deus e a Cristo por meio do exercício diário na Escritura para se tornarem hábeis para defender sua fé e, no devido tempo, ensinarem a outros e expandir o Reino. Lutero acreditava que a catequese é função do pastorado, da autoridade civil (na época o Estado ainda era cristão e não laico) e da família, de modo que toda a sociedade fosse alcançada. Parte do chamado pastoral é catequizar o povo, enraizar os fundamentos da fé cristã na mente e na alma da sua comunidade.

Em seu prefácio, Lutero sugere três estágios a serem seguidos pelo obreiro em seu esforço de catequese, o qual é um esforço contínuo. Primeiro, aprender e recordar o básico para ter o conteúdo do Catecismo no coração até que fosse internalizado. Segundo, entender o básico através do mecanismo de perguntas e respostas, reforçando o conhecimento básico memorizado para não ser mera repetição. Por fim, a prática do fundamento, conhecendo bem o fundamento da fé cristã, o qual levará à prática natural da vida cristã.

No Catecismo também há uma sequência teológica bem definida, a qual é separada majoritariamente em Lei e Graça, não como duas etapas da dispensação de Deus ao ser humano, mas como partes inseparáveis da história da redenção, desde a queda até a ressurreição e a bem-aventurança eterna. A Lei condena, acusa e mostra a necessidade de Cristo aos pecadores, evidenciando a necessidade da Graça e oferece diretrizes para o viver diário dos cristãos. O Evangelho livra os pecadores da condenação e serve de motivação aos cristãos para guardar a lei de Deus.

Mas como essa chave teológica Lei e Graça funciona no aconselhamento? A Lei é usada para confrontar os hipócritas que se justificam, revelando que todos os atos de autojustificação e presunção são expostos e condenados. Do outro lado, para quem reconhece o próprio pecado, a doce voz do Evangelho concede consolo. E aqui está a função do pastor verdadeiro: chamar o pecado pelo seu verdadeiro nome e anunciar a cura para tal pecado, o próprio Jesus Cristo, como o revelador dos pecados, mas também como seu remédio. Não é nada igual à “falsa culpa” que vem de um tradicionalismo morto e de moralismo, os quais deixam um verdadeiro peso nas costas das pessoas. A verdadeira culpa nasce do confronto com a Lei de Deus para que, quebrantados pela Lei, recebam a palavra de consolo que vem do Evangelho e que usem o exemplo e o poder de Cristo como força para prosseguir na caminhada cristã. Lutero frequentemente usava duas imagens para se referir a Cristo: Jesus como sacramento que nos perdoa os pecados e nos cobre com sua justiça perfeita, ressuscitando para trazer a certeza da vitória sobre o mal em nossas vidas; e Jesus como exemplo: assim como Ele sofreu, devemos estar prontos para sofrer. Até mesmo no aconselhamento pastoral, Cristo é o centro. Perceba a continuidade do trabalho do pastor, a exemplo de Lutero, no ministério de aconselhamento e a catequese.

Lutero sabia que o papel do catequista e do conselheiro é confortar quem está humilhado e quebrantado com Cristo como Salvador e dádiva e, do outro lado, chacoalhar e humilhar os orgulhosos colocando diante deles Cristo como exemplo que somos chamados a imitar. A intenção é que os crentes se refugiem em Cristo, que creiam que suas identidades agora são determinadas por Cristo. A imagem dos que estão em Cristo agora é determinada por quem Cristo é, de modo que podem mirar a ressurreição no último dia. Essa é uma grande fonte de consolo para quem a ouve: primeiro os pastores e depois aqueles que estão sob o cuidado deles. A partir do catecismo, os pastores são chamados a aconselhar homens e mulheres a partir da pessoa bendita do Senhor Jesus Cristo como centro.

O Catecismo Nova Cidade é um recurso atual, centrado no evangelho, que apresenta doutrinas importantes do cristianismo através de 52 perguntas e respostas e também oferece um devocional que ajuda o leitor a ser transformado por essas doutrinas.

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