A pregação e o aconselhamento

*Este artigo é um resumo da palestra de Wadislau Gomes proferida na Conferência Fiel para Pastores e Líderes 2020 Online.

Algumas vezes vale a pena escolher o caminho mais belo ao invés do mais curto. Observe os textos de 2Tm 4.2, Cl 3.16 e Sl 47.7. Se você observar quando a palavra de Deus fala sobre pregação, ela nos exorta ao louvor da glória de Deus. À primeira vista, os termos pregação e aconselhamento parecem distantes entre si, mas eles são harmoniosos. O aconselhamento não deveria ser visto separadamente do ministério pastoral. Se o pastor quiser ser efetivo no ministério ele deve ser tanto hábil intérprete da Palavra quanto de pessoas.

Existe uma pregação para aconselhamento? Creio que não. Há uma redundância aqui: a própria pregação é aconselhamento. Mas muitos pregadores e líderes possuem uma perspectiva diferente, de modo que é preciso definir bem a “pregação para o aconselhamento”. Primeiro, no preparo e na entrega de sermões. Algumas pessoas pensam na caminhada obrigatória da via expositiva; outras a veem como um turismo utópico pelas vias da pregação temática; outros querem andar pelos desertos árduos do sermão textual. Já outros veem o aconselhamento ora como uma aventura, ora como uma estrada com cercas de versículos-chave.

O problema surge quando consideramos essas perspectivas como categorias estáticas e preferenciais. Não há sentido em considerar tais divisões didáticas como algo além disso; antes, devemos estudar a Bíblia com sentido e com graça, e entregar e comunicar a mensagem bíblica com significado. Para isso, teremos que enfrentar a Teologia. Às vezes, ao falarmos sobre teologia, algumas pessoas também gostam das distinções e preferências entre teologia bíblica e sistemática; ou que não lida com aconselhamento pois é apenas um teólogo. Teologia é o conhecimento da palavra de Deus sob a promessa do Espírito Santo de esclarecimento e aplicação de forma que sejamos transformados segundo a imagem de Cristo. Todos devemos estudar teologia.

A Bíblia é a parte proposicional da tarefa do pregador. Essa base é o que chamamos de doutrinas. A teologia bíblica é o método organizacional, isto é, ela organiza os pensamentos doutos, os resumos do ensino. A teologia sistemática é o plano funcional de abstração prática, ou seja, ela aplica a matéria tratada na Bíblia ao pensamento prático. A Bíblia é a fonte, a teologia bíblica é os vasilhames em que guardamos porções da água e a teologia sistemática é a análise da água para consumo (revisar). Essa divisão é justificada desde que preservemos a unidade do discurso teológico. Todo teólogo é um conselheiro formado, pois ele possui o estudo da Palavra da Verdade e está pronto para discernir as questões das mais diversas áreas da vida. Mas, por mais partículas de verdade que todos esses aspectos possuam, nada substitui a pregação.

A Palavra de Deus é definitiva sobre o conhecimento de Deus e da sua vontade, pois Deus é perfeito e imutável, diferente de nós, que somos imperfeitos e decadentes. É preciso que, na pregação, apanhemos as doutrinas bíblicas para suportar a comunicação, e o conhecimento do homem para saber aonde dirigir tais palavras, para sabermos o alvo da pregação. Segundo João Calvino, a doutrina do Evangelho é ajudada por exortações, para que não fique sem efeito.

Existe pregação para aconselhamento? Sim e não. Não no sentido de que a pregação bíblica não se presta para outra coisa senão o conhecimento de Deus e de sua vontade revelados ao homem; ela se torna legalista se focar apenas em aspectos pessoais (Rm 10.17; 1 Co 1.21; 2.4). A pregação não deve se fundamentar em sabedoria humana. Mas sim no sentido de que ela fala para formar em nós, individual e coletivamente, a imagem de Jesus (2Co 4.6). Toda pregação deve cumprir seu papel profético de edificação, consolação e exortação (1Co 14.3). Então algumas mensagem, mais que outras, ajudam a enfrentar problemas e na redenção do caráter.

O ouvinte é coautor da pregação, pois ele receberá a mensagem. Devemos levar em conta três fatores: simplicidade, autoridade e praticidade. Os ouvintes são ovelhas estultas e precisam de sermões simples. São rebeldes, e por isso precisam de autoridade. São confusos e vagantes, e por isso precisamos de algo que mude nossa vida de maneira prática.

A pergunta “como pregar para aconselhamento?” poderia ser substituída por “como não pregar para aconselhamento?”. Não há outra maneira de pregar a não ser exortando e aconselhando. Não devemos procurar textos como base para o sermão, mas este deve fluir do estudo bíblico pessoal e da oração que você faz. Essa mensagem também é processada no culto familiar e é experimentada no dia a dia com os irmãos. Assim, a mensagem irá brotar naturalmente. Alguns pontos enfraquecem a pregação: a falta de comunhão com Deus e de uma leitura devocional e constante das Escrituras; falhas de formação básica e teológica.

Instrução, comunhão, adoração e serviço caminham juntas, veja Atos 2.46-47. Uma coisa leva à outra. Devemos refletir o nosso relacionamento com Deus no relacionamento com os irmãos. Outra dificuldade são os opositores da teologia sistemática, isto é, que não entendem a integração crescente do estudo da Palavra. A revelação escrita de Deus é a hermenêutica da criação. E todas essas doutrinas são reforçadas pela doutrina da perseverança dos santos.

A pregação para aconselhamento, portanto, requer um trabalho direcionado para a consolação e para a exortação, fruto de um estudo que lhe consolou e exortou. Que sua pregação seja um reflexo de Colossenses 1.27-28: “Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo.” Amém.

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