O aconselhamento como ministério da Palavra

*Este artigo é um resumo da palestra de Alexandre Mendes proferida na Conferência Fiel para Pastores e Líderes 2020 Online.

Texto base: Colossenses 1.28-29

O aconselhamento como ministério da palavra é implicação do desenvolvimento da narrativa bíblica de como Deus fala e se manifesta ao seu povo, não pelo domínio de técnicas extras, mas ser dominado por convicções forjadas pela própria palavra no coração do ministro.

A carta aos colossenses possui um contexto de que havia uma ameaça penetrando a igreja de Colossos. Pelas correções de Paulo, trata-se de uma mistura de práticas judaicas com misticismo gentio. A carta é uma vacina contra a falsa espiritualidade, que Paulo aplica com precisão. Paulo aponta para a sua vida como exemplo do verdadeiro evangelho: a mensagem sempre esteve ligada ao mensageiro. Assim, os colossenses estariam alertas à falsa sabedoria que os ameaçava.

Há dois aspectos do ministério do apóstolo Paulo: os que cessaram, que se resumiam apenas a Paulo, mas há os comunicáveis que se estendem a todos os pastores. Há um aspecto de mordomia: carregamos uma mensagem que não é nossa, mas que pertence a Deus.

Dos v. 24 a 27, vemos que há um aspecto comum na mensagem: anunciamos a Cristo Jesus. Mas há um aspecto singular em como Paulo recebeu a mensagem: era um mistério que agora foi revelado pela atividade profética, pela doutrina dos apóstolos, a qual edifica a igreja para que pastores, mestres e evangelistas reverberem suas vozes ao longo dos séculos. Quais são os padrões que apontam para esse momento? Qual era o conteúdo e o propósito deste anúncio?

O apóstolo é claro: a fim de apresentar todo homem perfeito a Cristo. esse padrão começa já em Gênesis 1. Esse capítulo é dado a israelitas que passaram 400 anos no Egito e Moisés não gasta tempo explicando aos israelitas que existe um Deus, mas ele assume que os sinais são claros de que Ele existe. Além disso, o capítulo é marcado pelo chamado da atenção para o fato de que Deus transforma o que é sem forma em vazio através da sua Palavra. É por meio dela que ele cria tudo e estabelece ordens; e é contra essa Palavra que acontece a distorção de tudo que foi criado. Satanás ataca a Palavra de Deus lançando dúvida sobre o que ela diz, algo que se repetirá por toda a história. Ele também nega a palavra de Deus e, por fim, tenta impor um substituto ao mandamento divino. Deus criou o homem para que ele tivesse e exercesse domínio sobre a criação, como representantes visíveis do Deus invisível. A proposta satânica, ao contrário, é que você seja um deus. A partir disso, o que acontece é o contrário: as pessoas desenvolvem vergonha, medo, pavor, hostilidade, passam pela morte e todas as consequências de um mundo caído, a ponto de chegar a culpar o próprio Deus. Essas são as raízes dos problemas que os pastores enfrentam em sua labuta diária.

Mas Deus não nos deixa sem esperança. Na mesma narrativa de Gênesis, Deus lança a promessa do descendente da mulher que feriria a cabeça da serpente.  E a Palavra nos mostra que Deus estava certo. Ao decorrer da história, o padrão recorrente é que os homens não querem ser representantes da glória divina (como o episódio da torre de Babel). Pela Palavra de Deus, a mente de Abraão é forjada aos poucos com o plano divino de redenção da história. Essa fé de Abraão é fortalecida na prova do sacrifício do seu filho, embora se mostre falho ao decorrer da sua vida, algo que também acontece com Isaque e Jacó, seus descendentes. Deus começa a nos fazer pensar a salvação em termos que culminariam na vida de Cristo.

Os padrões se repetem na história de Moisés e nos feitos de Deus ao decorrer desse tempo no confronto ao Faraó do Egito. Deus mostra sua supremacia e sua soberania no episódio das 10 pragas, e se apresenta também a esse povo que quer chamar de dele. Até o momento em que chegam ao Sinai, o sinal de que Deus estava com eles, e estabelece uma aliança com eles ao prometer que, caso guardassem a Aliança e seus mandamentos, seriam uma nação de sacerdotes, uma nação que representa o próprio Deus diante de todo o mundo. Ex 20 nos mostra a Palavra de Deus dada aos homens, a qual é rejeitada pelo povo, que é incapaz de guardar a palavra e de seguir e representar o Senhor. A disciplina está envolvida no processo: eles passam 40 anos no deserto e uma nova etapa da história surge com Josué e as conquistas da Terra Prometida, etapa que termina com “eu e minha casa serviremos ao Senhor”. Contudo, eles esquecem de repassar os ensinamentos de Deus, até que Juízes nos mostra o fundo do poço, um período em que todos faziam o que bem entendessem, pois não havia rei. O povo estava sem direção, e se tornou parecido com o mundo ao seu redor.

Surge o rei Saul, um rei segundo o coração dos homens e falha. Davi, o sucessor, um homem segundo o coração de Deus, também falha. Após ele, vem Salomão, o homem mais sábio que já existiu (fora Jesus Cristo) e ele se mostra um tolo. O povo se perde, passa por exílios. A atividade profética traz a promessa de alguém que viria, trazendo também repreensões e consolo. Até que vem alguém: o verbo se fez carne e habitou entre nós. Jesus faz o que todos foram incapazes de fazer: Ele cumpre a Lei integralmente, Ele visivelmente representa o Deus invisível (Jo 14.9). Jesus é a expressão exata do ser de Deus (Hb 1.3).

Isso nos é significativo no entendimento do objetivo do apóstolo Paulo em conformar cada um de seus ouvintes a imagem de Cristo, pois os outros não foram perfeitos como Cristo é. Assim Deus projeta a igreja: aqueles que formam seus irmãos à imagem de Cristo de forma formativa e corretiva, advertindo e ensinando em toda sabedoria (Cl 1.27-28). Deus ainda continua edificando seu povo ao falar continuamente através da Bíblia. Sua Palavra é viva e ativa, e é o meio de alcance do seu povo, um padrão de Gênesis a Apocalipse. É essa palavra, a qual encontra imagem plena em Jesus Cristo, que deve ser anunciada nos problemas diários como casamentos decadentes ou jovens com problemas de sexualidade.

Paulo anunciava Cristo Jesus (At 20.20). Somos ministros de Jesus e devemos anunciá-lo e advertir a todo homem. Todas as pessoas são alvo do ensino e da correção de Deus. Qual o conteúdo dessa advertência? A resposta está “em toda sabedoria”. Paulo está dizendo que a verdadeira sabedoria é o conhecimento de Cristo Jesus (Cl 2.3). É da mente de Cristo que as ovelhas confusas precisam, pois é ela que transforma as pessoas através da obra do Espírito Santo. O conteúdo de toda sabedoria é todos os recursos de Deus em Cristo. É o conhecimento de Cristo que produz Cristo em nós a fim de que possamos conformar os homens à imagem de Cristo. Você não é chamado para transformar pessoas ou para ser juiz de paz, e sim apresentá-los a Jesus Cristo, e esse é um trabalho difícil, que requer esforço. Pessoas irão glorificar a Deus quando verem a mensagem proclamada individual e publicamente recebida com fé e traduzidas em transformação externa. A questão não é se você está cansado, mas a razão do seu cansaço. Deixe-se cansar e gastar pela razão certa. Que não seja por não ter o reconhecimento que tanto busca, ou porque se identifica com o ministério e não com o Senhor do ministério; mas que seja por fazer tudo que pode naquele que fortalece em toda e qualquer circunstância. Grande parte do nosso cansaço é relacional e não situacional. Que o conhecimento de Cristo sature nosso coração com a energia de que carecemos para proclamar Jesus Cristo e produzir nos homens o caráter de Cristo. Em nenhum lugar o Novo Testamento chama os crentes a pregar publicamente, mas os chama a ministrar e anunciar Cristo uns aos outros (Cl 3.16). Somos incapazes de guardar a aliança fiel e inteiramente, mas com fé movemos a obediência apoiados na justificação imputada a nós por Cristo. É no Evangelho que expressamos a glória de Deus com pessoas parecidas com Cristo Jesus.

Fruto de 25 anos de trabalho, este livro esboça como trabalhar de perto com as pessoas, torná-las discípulos, ajudá-las a crescer e a florescer no ministério do evangelho e ficar ao lado delas em longo prazo.

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