O pastor como pastor

*Este artigo é um resumo da palestra de Deepak Reju proferida na Conferência Fiel para Pastores e Líderes 2020 Online.

A vida em um mundo caído é cheia de miséria. O trabalho de cuidar do povo de Deus não é fácil, mas um fardo que se deve carregar como pastor. Com frequência, ouço pastores dizerem que o aconselhamento é a parte mais difícil. Há alguma surpresa nisso? Os pastores, em seus primeiros anos de ministério, são forçados a encarar problemas de outras pessoas com pouco ou nenhum treinamento.

Você sabe como identificar um pastor? Metaforicamente, ele está sujo, cheirando mal, suado, com sangue fervendo pois passou seu tempo com as ovelhas. O pastoreio é um trabalho duro! Não é fácil, nem é para covardes. Não é para os medrosos! O pastoreio é para aqueles que querem viver como Cristo e viver corajosamente em nome do Evangelho. Há sete coisas que quero lhe dizer para que você seja encorajado em seu teste de pastorear o rebanho de Deus como um sub-pastor do Pastor das ovelhas: o próprio Jesus Cristo.

1. Considere o Supremo Pastor, Jesus Cristo. Há duas palavras-chave para isso: condescendência e simpatia. Geralmente se associa condescendência a algo negativo, mas é muito apropriado usá-la ao se referir a Jesus. Cristo é condescendente para conosco (veja Fp 2.3,8). Ele colocou nosso interesse à frente de si mesmo, se humilhando e estando disposto a encarar o maior dos problemas: a própria morte. Da mesma forma, o próprio Cristo está em uma posição em que simpatiza com sofredores (Hb 4.15). Cristo viu um mundo devastado por pecado e, diferente de nós que nos entregamos às tentações, Ele enfrentou a força total de tais tentações. É notável que Jesus, o sumo sacerdote, simpatiza conosco, pessoas pobres, caídas, sujas e desesperadas. Você quer ser como Jesus? Se compadeça como seu Salvador para com seu povo! Faça-os saber que Cristo está lá para eles e você também!

2. Nossa responsabilidade: pastorear o rebanho de Deus. Em 1 Pedro 5.1-4, Pedro faz um apelo aos presbíteros das igrejas no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia. Interessante que ele não usa suas credenciais de apóstolo, mas ele apela como um colega presbítero. É isso que nós, como pastores, carregamos e assim cuidamos dos outros! Mas ele não está longe de lembrar que ele também é um apóstolo ressaltando que foi testemunha dos sofrimentos de Cristo. E ele conclui lembrando que será coparticipante da glória a ser revelada. O sofrimento precede a glória. O sofrimento não acabará em futilidade. E o chamado primário dele, de acordo com esse texto, é para que sejam pastores!

Você é chamado para pastorear o rebanho de Deus. Você é um sub-pastor do próprio Deus. Que privilégio! Você enxerga o cuidado para com as ovelhas de Deus como um fardo ou como um privilégio? É aí que você precisa se lembrar que esses são os filhos de Deus, não os seus. É o rebanho de Deus, não o seu. Sua tarefa é guardar, proteger, guiar, alimentar, ensinar, chamar, exortar, confortar, vincular e encorajar as ovelhas! Pastorear e ter cuidado são as duas funções básicas de todo pastor. É parte fundamental do que significa ser pastor. Essas pessoas precisam da ajuda do pastor. Seu trabalho como pastor é, por vezes, ajudar cristãos a passarem por sofrimentos terríveis. Lembre-os da verdade! Caminhe junto deles! Encoraje-os! Ajude-os a perseverar no sofrimento.

Em seguida, Pedro estabelece três contrastes nos versos 2 e 3, lembrando que você não deve pastorear seus membros com senso de obrigação e compulsão, e sim porque escolheu perseguir isso; que você não use o seu papel de ministro para ganhos desonestos, ganância ou interesse próprio, mas de boa vontade, com desejo; e que não exerça uma liderança severa, excessivamente restritiva e que ostenta o poder. Uma autoridade abusiva de qualquer forma é errada pois ela mente sobre Deus. Jamais abuse de sua posição privilegiada, mas sirva de exemplo. Como pastor, viver uma vida digna de imitação não é opcional! Não é algo que você pode ignorar! Por que fazer tudo isso? Pois quando o Supremo Pastor aparecer, os presbíteros receberão o que está no verso 4: imarcescível coroa da glória. Essa deve ser a sua motivação escatológica.

3. O objetivo do nosso pastoreio: ver cada crente se tornando maduro em Cristo (Cl 1.28-29; Ef 4.11-13). Que prazer é ver o povo de Deus alcançar maturidade espiritual! Que prazer é caminhar junto a ovelhas fracas mas poder vê-las crescendo na fé e se tornando como Cristo, assumindo responsabilidades e conhecendo mais das Escrituras! Você agoniza com a santificação do seu povo?

4. Nossa oportunidade: amar na frente de batalha à medida que seu povo passa por crises e sofrimento. O pastor geralmente conhece os maiores e mais profundos segredos sobre o que aflige as pessoas: seus pecados e dificuldades. Há ainda as ovelhas sujas. Você já viu cristãos que fazem idiotices. Mas lembre da misericórdia de Deus para com você, e você estará pronto para mostrar misericórdia aos que baterem na sua porta.

Mas também há ovelhas machucadas. Ovelhas fracas e frágeis. Elas precisam do nosso terno cuidado. Caminhe junto das ovelhas machucadas; ame-as e conduza-as ao Salvador delas. Ovelhas confusas precisam de sua direção. Ovelhas pródigas, vagando por aí, precisam do seu alerta. Ovelhas rebeldes que precisam crescer no controle de sua fúria. Cada problema, cada fardo, cada ovelha sofredora que chega a você, pode parecer um fardo para você, mas eu afirmo: é uma oportunidade de trabalhar em nome de Deus!

5. Nossa habilidade como pastores, ouvindo e sondando corações. Ouvir é uma das coisas mais básicas que você pode fazer ao ajudar ovelhas machucadas. Esqueça aquele momento mágico em que a frase perfeita sai da sua boca, isso não existe! É preciso ter paciência para ouvir bem alguém que está contando a você um problema, mas é o que somos chamados a fazer (Pv 18.2,13; 29.20; Tg 1.19). O quão bom ouvinte você é? Quão bem você ouve?

Além de ser ouvinte, para conhecer alguém, é preciso fazer perguntas. Quando alguém fala de seus problemas, você deve perguntar para entender melhor. Há uma diferença entre perguntas factuais, como idade, aonde estavam e todas as circunstâncias, e as perguntas ao coração. É a partir do coração que adoramos, falamos, fazemos, agimos, queremos e sentimos. O coração é o centro de quem somos. Nós podemos fazer perguntas superficiais ou factuais, mas o que quero é fazer perguntas ao coração.

6. O quadro geral: uma cultura de discipulado e cuidado. As ovelhas têm uma capacidade extraordinária de consumir o tempo do pastor, especialmente as mais fracas. Elas querem seu tempo. Você está levantando presbíteros e investindo em potenciais líderes? Tenha muito cuidado para não deixar os fardos de ovelhas feridas e confusas caírem exclusivamente em seus ombros. Levante outros para trabalhar com você no cuidado das ovelhas. Você deve ser proativo no treinamento e na ajuda.

Sabemos que Deus designou a igreja como instituição-chave na promoção do Reino. Fomos feitos para nos relacionarmos em comunidade. Não fomos designados para viver isolados, o cristianismo individual é uma anátema. É preciso estabelecer o discipulado e investir nos outros como prioridade da igreja. Não deveria ser uma opção ser anônimo ou um cristão nominal na igreja. Na Escritura, há a obrigação de cristãos investirem na vida do outro. O DNA da igreja deve ser fazer discípulos e investir uns nos outros.

7. Nossa perseverança: ir até o fim. Alguns de vocês estão exaustos. Você está lutando ou até deprimido. Alguns de vocês estão tristes, confusos, desencorajados. Não se entregue! Jesus sabe. Isso é admirável, pois Cristo não é só o Salvador deles, é o seu também! Cristo não veio resgatar apenas eles, Ele veio resgatar você também! Ele está aqui para amar você, e ajudar-lhe dando a força para perseverar. Além de ser um pastor, você também é uma ovelha! E você também precisa da graça de Deus! Como perseverar? Mantenha seus olhos na eternidade. Mantenha seus olhos na glória que será sua quando estiver diante do Salvador e não haverá mais pecado nem sofrimento, e tudo que você fará será adorá-lo por toda eternidade!

Seu trabalho é o de um sub-pastor para o Supremo Pastor, o próprio Jesus Cristo. O pastorado é um trabalho árduo. Mas ele traz alegria, e é um trabalho que Deus confiou a você. Irmãos, perseveremos!

O aconselhamento, em sua forma simples, é uma pessoa procurando andar ao lado de outra que perdeu seu caminho e precisa de direção. Neste livro, Jeremy Pierre e Deepak Reju irão ajudá-lo com uma estrutura básica para abordar esse problema. O alvo é deixá-lo confiante de que as Escrituras têm tudo de que você precisa para lidar pastoralmente com o aconselhado, não importando quão complexo seja o problema, e que, mesmo não sendo capaz de resolver cada aspecto, você esteja apto a mostrar-lhe como andar pela fé em Cristo.

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