Sabedoria e aconselhamento: Uso de provérbios para auxílio mútuo

*Este artigo é um resumo da palestra de Mauro Meister proferida na Conferência Fiel para Pastores e Líderes 2020 Online.

As Escrituras são muito claras em mostrar que somos um corpo e que devemos nos aconselhar mutuamente (Cl 3.16). Popularmente, as pessoas usam os provérbios populares, embora os usem inadequadamente ou os distorçam; e isso se estende também à Bíblia. Mas a Bíblia diz que, antes de partir para o aconselhamento, a palavra de Cristo deve habitar ricamente na pessoa. Além disso, o aconselhamento é mútuo; ele não é unidirecional nem parte apenas do pastor, embora comece a partir do próprio culto.

Veja esses dois provérbios: “Não respondas ao insensato segundo a sua estultícia, para que não te faças semelhante a ele” e “Ao insensato responde segundo a sua estultícia, para que não seja ele sábio aos seus próprios olhos” (Pv 26.4-5). Mas, antes de achar que há contradições, é preciso entender os provérbios em seu contexto, ler toda a passagem ao redor e entender bem o tipo literário presente no texto. O livro de Provérbios trata de vários temas cotidianos, desde o temor a Deus e diferenças entre o justo e o ímpio até questões sobre família, trabalho, emoções e finanças. E então descobrimos que somos mestres na manifestação de tais pecados.

Provérbios é necessário na nossa vida. O seu início traz o propósito do livro. O livro é “para” alguma coisa. Esse é um dos poucos livros que trazem o objetivo explícito, que é fundamentar a sabedoria no temor do SENHOR, o qual é fundamental para o entendimento e prática. Fora desse temor, qualquer ensinamento parecerá loucura. Esse temor não é apenas algo da mente, mas do ser como todo, com aspectos racionais, emocionais e volitivos. Ele deve estar enraizado no coração, na essência daquilo que somos, e assim aprenderemos a servir ao Senhor, a entregar nossa alma a Ele, e a obedecê-lo.

Os provérbios não são promessas, nem profecias, nem pragas de mãe ou sequer são partes desconectadas do todo. Veja um famoso provérbio: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele” (Pv 22.6). É comum entender esse provérbio como uma promessa, mas a passagem original é bastante difícil e complexa. Bruce Waltke traduz como “Consagra um jovem de acordo com o que seu caminho dita; e, mesmo quando ele se tornar velho, não se desviará dele.” Esse provérbio se fundamenta em duas constantes: tempo e trajetória. E ele está dentro de um conjunto de outros provérbios (de 22.1 a 23.9, no mínimo). Da mesma forma, não é possível separá-lo do v. 5, o seu par no texto.

Mas então, o que podemos fazer para usar a sabedoria do livro de Provérbios?

1. Peça sabedoria (Tg 1.5-8; cf. Pv 1.7), e peça sem indecisão ou dúvidas. Tiago escreveu sua carta a irmãos que passavam por tribulações e perseguições, e nela ele mostra que é preciso aprender a temer mais a Deus, o qual concede sabedoria generosamente e não “joga na cara”. Essa sabedoria deve estar presente em nós como um todo. Não é decorar a Bíblia ou dominar todo o conhecimento, e sim aplicar tal conhecimento de modo relacional. Se a sua leitura de livros não produz piedade em você, você está vivendo uma ilusão. Não existe aconselhamento mútuo sem oração, e devemos fazer isso em todos os momentos, e especialmente nos mais difíceis. Use a sabedoria com oração, com quebrantamento, com o reconhecimento de que você não possui sabedoria (Pv 2.1-6,10). Se você não possui tal relação com a Palavra de Deus, que este seja um alerta.

2. Busque sabedoria, e faça isso buscando a Cristo (Cl 2.2-3,9). Em Cristo estão os tesouros da sabedoria e do conhecimento, pois nele habita a plenitude da divindade. Cristo é a hermenêutica da nossa vida. Qualquer tentativa de olhar para a vida sem Cristo irá resultar em uma lente cheia de distorções. Precisamos desenvolver uma boa cristologia para lidar com o dia a dia e entender sua soberania não apenas de maneira intelectual, mas de uma forma que chegue a nós diretamente. A chave da sabedoria é a nossa confiança prática, ativa e relacional com a pessoa de Cristo. Ele nos dá identidade, sentido e propósito. Cristo possui o controle imanente da nossa vida; Ele é gracioso e essa fonte não seca e nós somos chamados a descansar nele; além disso, Cristo é digno de toda glória e isso nos ensina a viver para a glória dele em todos os aspectos. Ao confiar em Cristo, passamos a confiar em sua palavra e no corpo dele. Daí vem a importância da comunidade da fé no aconselhamento mútuo. Quando falamos de Cristo como nosso Senhor e Salvador, pregamos o poder e a sabedoria de Deus (1 Co 1.24).

3. Identifique o real problema: idolatrias (Pv 4.23; 12.20; 14.33; 28.26). Aquilo que somos possui inclinações, e estas precisam ser avaliadas e bem guardadas na pessoa de Cristo. É por isso que os mandamentos de Deus são ordenados para que sejam guardados no coração e, assim, sejam passados aos filhos. Esse conhecimento do coração é a antropologia bíblica: o que é o homem? Quais são seus anseios? Do que ela precisa? Assim, ao ouvir o relato de alguém, peça a Deus para entender quais são as idolatrias expressadas direta ou indiretamente. Perceba que nem tudo que é dito é verdade, uma vez que os reais anseios estão escondidos no coração.

4. Escute com sabedoria (Pv 18.13,15; 19.2). Frequentemente queremos responder antes de ouvir. Somos rápidos para falar, e frequentemente queremos ser os senhores da razão. Faça uma boa leitura do livro de Provérbios e depois leia o livro de Tiago. Perceba como Tiago faz dezenas de alusões ao livro de Provérbios, e uma delas é com relação ao ouvir (Tg 1.19).

5. Fale com sabedoria (Pv 12.22; 15.23). No final de uma discussão você deve querer ver a glória de Cristo e não estar certo a qualquer custo. Nosso coração reflete na nossa língua o desejo de vencer e convencer o outro. Isso frequentemente pode nos levar a mentir, inclusive (Pv 11.13). Uma versão popular da fofoca é a fofoca feita com a desculpa de que é para orar por aquele assunto.

6. Olhe para dentro, pois o exterior é enganoso (Pv 15.14-15). Por vezes encontramos pessoas que frequentemente estão azedas, descontentes, etc. Isso denota um coração que não se satisfez em Cristo ainda. Esses males vêm de dentro, do coração.

7. Detecte o insensato (e o preguiçoso! — Pv 26.3-5). Não se deve responder o insensato igual a ele, isto é, não se deve pagar o mal com o mal; ao contrário, deve-se responder a ele não dando espaço para a insensatez. Ele precisa ser respondido do jeito certo, na hora certa, senão você ficará igual a ele diante de todos.

8. Lembre-se: é sempre pela graça (1 Jo 1.16). Não faça nada na carne, pois você não conseguirá nada de bom. Que o Senhor nos ajude a viver em toda sabedoria.

Simples, Prático, Bíblico
Abordando temas como divórcio, suicídio, homossexualidade, transtorno bipolar, depressão, pais solteiros e outros, os livros da série Aconselhamento oferecem orientação bíblica para pastores e conselheiros que lidam com esses assuntos difíceis em seus ministérios, e para pessoas que experimentam essas situações de lutas e sofrimento em seus diversos contextos de vida. Leia-os, ofereça-os a um amigo e disponibilize-os em sua igreja e ministério.

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