Um blog do Ministério Fiel
O moralismo não é o Evangelho (mas muitos cristãos acham que é)
Uma das declarações mais surpreendentes do apóstolo Paulo é a sua acusação aos cristãos da Galácia por abandonarem o Evangelho. “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho”, declarou Paulo. Como ele afirmou tão enfaticamente, os gálatas fracassaram no teste crucial de discernir o autêntico Evangelho de suas falsificações.
Suas palavras não poderiam ser mais claras: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” [Gal. 1: 6-9].
Esta advertência do apóstolo Paulo, expressa no choque e pesar do apóstolo, é dirigida não apenas à igreja na Galácia, mas a todas as congregações em todas as épocas. Em nossos próprios dias – e em nossas próprias igrejas – precisamos desesperadamente ouvir e considerar essa advertência. Em nosso tempo, enfrentamos falsos evangelhos não menos subversivos e sedutores do que aqueles encontrados e abraçados pelos gálatas.
Em nosso próprio contexto, um dos falsos evangelhos mais sedutores é o moralismo. Esse falso evangelho pode assumir muitas formas e emergir a partir de vários estímulos políticos e culturais. No entanto, a estrutura básica do moralismo se resume a isso: a crença de que o Evangelho pode ser reduzido a melhorias no comportamento.
Infelizmente, esse falso evangelho é particularmente atraente para aqueles que acreditam ser evangélicos motivados por um impulso bíblico. Muitos crentes e suas igrejas sucumbem à lógica do moralismo e reduzem o evangelho a uma mensagem de melhora moral. Em outras palavras, comunicamos às pessoas perdidas a mensagem de que o que Deus deseja para elas e o que Ele exige delas é que elas acertem suas vidas.
Em certo sentido, nascemos para ser moralistas. Criados à imagem de Deus, nos foi dada a capacidade moral da consciência. Desde nossos primeiros dias, nossa consciência destaca nossa culpa, nossas falhas e maus comportamentos. Em outras palavras, nossa consciência comunica nossa pecaminosidade.
Acrescente a isso o fato de que o processo de criação de filhos tende a incutir o moralismo desde os nossos primeiros anos. Rapidamente aprendemos que nossos pais estão preocupados com nosso comportamento. As crianças bem comportadas são recompensadas com a aprovação dos pais, enquanto o mau comportamento traz o castigo. Esta mensagem é reforçada por outras autoridades nas vidas jovens e permeia a cultura em geral.
Escrevendo sobre sua própria infância na zona rural da Geórgia, o romancista Ferrol Sams descreveu a tradição profundamente enraizada de ser “criado corretamente”. Como ele explicou, a criança que é “criada corretamente” agrada seus pais e outros adultos ao aderir às convenções morais e à etiqueta social. Um jovem que é “criado corretamente” emerge como um adulto que obedece às leis, respeita seus vizinhos, dá alguma atenção às expectativas religiosas e fica longe do escândalo. O ponto é claro – isso é o que os pais esperam, o que a cultura afirma e muitas igrejas celebram. Mas nossas comunidades estão cheias de pessoas que foram “criadas corretamente”, mas estão indo para o inferno.
A sedução do moralismo é a essência do seu poder. Somos facilmente seduzidos a acreditar que realmente podemos obter toda a aprovação que precisamos com nosso comportamento. É claro que, para participar dessa sedução, devemos negociar um código moral que defina um comportamento aceitável com inúmeras brechas. A maioria dos moralistas não afirmaria estar sem pecado, mas apenas longe do escândalo. Isso é considerado suficiente.
Os moralistas podem ser identificados como tanto liberais, quanto conservadores. Em cada caso, um conjunto específico de preocupações morais enquadra a expectativa moral. De forma geral, muitas vezes é verdade que os liberais se concentram em um conjunto de expectativas morais relacionadas à ética social, enquanto os conservadores tendem a se concentrar na ética pessoal. A essência do moralismo é aparente em ambos: a crença de que podemos alcançar a justiça por meio do comportamento adequado.
Muitos cristãos e igrejas acham difícil resistir à tentação teológica do moralismo. O perigo é que a igreja comunique por meios diretos e indiretos que o que Deus espera da humanidade caída é o aperfeiçoamento moral. Ao fazê-lo, a igreja subverte o Evangelho e comunica um falso evangelho a um mundo caído.A Igreja de Cristo não tem outra opção senão ensinar a Palavra de Deus, e a Bíblia revela fielmente a lei de Deus e um código moral abrangente. Os cristãos entendem que Deus se revelou através da criação de tal maneira que Ele dotou toda a humanidade com o poder restritivo da lei. Além disso, Ele nos falou em Sua palavra nos presenteando com regras específicas e uma instrução moral detalhada. A fiel Igreja do Senhor Jesus Cristo deve lutar pela retidão desses mandamentos e da graça que nos foi dada no conhecimento do que é bom e do que é mal. Também temos a responsabilidade de testemunhar esse conhecimento do bem e do mal para nossos próximos. O poder restritivo da lei é essencial para a comunidade humana e para a civilização.
Assim como os pais corretamente ensinam seus filhos a obedecer à instrução moral, a igreja também tem a responsabilidade de ensinar os próprios mandamentos morais de Deus e de dar testemunho sobre o que Deus declarou ser bom e correto para as criaturas humanas.
Mas esses impulsos, certos e necessários como são, não são o Evangelho. De fato, um dos mais insidiosos e falsos evangelhos é um moralismo que promete o favor de Deus e a satisfação da justiça de Deus aos pecadores se eles apenas se comportarem e se comprometerem com o aperfeiçoamento moral.
O impulso moralista na igreja reduz a Bíblia a um livro de códigos para o comportamento humano e substitui o Evangelho de Jesus Cristo pela instrução moral. Muitos púlpitos evangélicos são entregues a mensagens moralistas e não à pregação do Evangelho.
O corretivo para o moralismo vem diretamente do apóstolo Paulo quando ele insiste que “o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus”. A salvação vem para aqueles que são “justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado” [Gal. 2:16].
Pecamos contra Cristo e deturpamos o Evangelho quando sugerimos aos pecadores que o que Deus exige deles é crescimento moral de acordo com a lei. O moralismo faz sentido para os pecadores, pois é apenas uma expansão do que nos foi ensinado desde os nossos primeiros dias. Mas o moralismo não é o Evangelho e não salvará ninguém. O único evangelho que salva é o Evangelho de Cristo. Paulo lembrou aos gálatas: “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” [Gal. 4: 4-5].
Somos justificados somente pela fé, salvos apenas pela graça e redimidos de nosso pecado somente por Cristo. O moralismo produz pecadores que são (potencialmente) melhor comportados. O Evangelho de Cristo transforma os pecadores nos filhos e filhas adotivos de Deus.
A Igreja nunca deve fugir, acomodar, revisar ou ocultar a lei de Deus. De fato, é a Lei que nos mostra nosso pecado e deixa clara nossa inadequação e nossa total falta de retidão. A Lei não pode transmitir a vida, mas, como Paulo insiste, “nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé” [Gal. 3:24].
O perigo mortal do moralismo tem sido uma constante tentação para a igreja e um substituto sempre conveniente para o Evangelho. Claramente, milhões de nossos próximos acreditam que o moralismo é nossa mensagem. Nada menos do que a pregação mais ousada do Evangelho será suficiente para corrigir essa impressão e levar os pecadores à salvação em Cristo.
O inferno será altamente povoado com aqueles que foram “criados corretamente”. Os cidadãos do céu serão aqueles que, pela pura graça e misericórdia de Deus, estarão ali unicamente por causa da justiça imputada por Jesus Cristo.
Moralismo não é o evangelho.