Por que o excesso no discipulado é sempre uma má ideia

11h da noite. Foi um longo dia. Você acabou de trancar a porta, escovou os dentes e se arrastou para a cama. Você vai definir o alarme em seu telefone, e encontra uma chamada não atendida, de uma senhora que você está discipulando. O que você faz? Liga para ela de volta? Você sabe que se o fizer, o sono não virá tão cedo. Talvez você deva fingir que ignora isso? Desliga seu telefone para que ela não possa ligar de novo?

Talvez sua tendência seja de ligar de volta para ela ou, pelo menos, enviar uma mensagem de texto para ver se ela está bem. Você pode estar pensando: se eu não a ajudar, quem o fará? Ela precisa de mim. Eu tenho que estar disponível para ela. É aqui que precisamos examinar nosso próprio coração e verificar nossa motivação. Antes que nos demos conta, podemos acabar exaustos, correndo no vazio e tentando apagar cada fogo conhecido – tudo em nome do “discipulado”.

Complexo de salvador

Agora, deixe-me ser franca. Não quero, de forma alguma, descartar a importância do discipulado diário. A Bíblia nos diz claramente para tomarmos nossa cruz e seguir Jesus. Não há dúvida de que fazer discípulos de todas as nações envolve morrer para o eu diariamente (mesmo a cada hora). Mas, muitas vezes, à medida que amadurecemos em nossa fé e começamos a discipular outros, podemos lentamente perder a maravilha da cruz, esquecer as profundezas do nosso pecado e começar a pensar que “eu fiz isso”.

Acho que todos nós, envolvidos no discipulado de outro, (especialmente dos crentes mais jovens) precisamos pedir a Deus para sondar nossos corações e motivações para ver se adotamos sutilmente um “complexo de salvador”. Há uma linha muito tênue entre guiar outros para Jesus e guiar outros para nós mesmos.

Eu não sei sobre você, mas eu sou uma “consertadora”. Se vejo um problema, minha tendência é tentar encontrar uma maneira de corrigi-lo. Isso pode surgir de muitas maneiras diferentes. Por exemplo: se você me disser que está se sentindo mal, vou me transformar na doutora Emily, querendo fazer o diagnóstico imediatamente. Ou se estiver claro que você está chateado, vou tentar fazer o que puder para animá-lo.

Outro dia, um pacote que eu esperava não chegou. Então o que eu fiz? Gastei duas horas tentando caçá-lo, é claro. Telefonei para todos os números, fui à loja local, enviei vários e-mails e fiquei muito frustrada com o processo. O problema é que, quando começo uma tarefa, acho difícil parar. Eu quero consertar as coisas. Eu quero resolver as coisas e torná-las melhores.

Como isso afeta o discipulado? Em mais sentidos do que imaginamos. Temos esse desejo ardente de ver os novos crentes, que estamos discipulando, crescer e se transformar, mas frequentemente queremos acelerar o trabalho árduo e longo. Nossos encontros individuais podem rapidamente se transformar em sessões de aconselhamento, onde simplesmente tentamos e fazemos tudo o que podemos para “resolver o problema”. Já passou por isso? Antes que nos demos conta, podemos nos transformar em mini messias, tentando fazer o trabalho que somente o Espírito Santo pode fazer.

Mau conselho

Considere este exemplo. Uma senhora com quem você vai se encontrar abre seu coração para você, dizendo que ela tem estado com raiva e impaciente a semana toda em relação aos filhos. Conforme explica, ela parece sugerir que tudo isso é apenas porque as crianças estão simplesmente brincando. Ela está basicamente dizendo que tudo ficaria bem se ela pudesse apenas ter uma noite sem as crianças. Antes que você perceba, ela ganhou sua simpatia, você deu alguns conselhos desajeitados sobre como ser mãe e até se ofereceu para ser babá na próxima semana.

O que aconteceu aqui? Isso é um bom discipulado? Embora sua amiga vá amar você para sempre e aproveitar sua noite fora, você não ofereceu a ela nenhuma esperança bíblica ou a encorajou a examinar seu próprio coração. Talvez o pior de tudo, você se permitiu tornar-se sua “salvadora”, ao invés de direcioná-la para o Senhor, o verdadeiro Salvador.

Você já sentiu que não consegue descansar? Não consegue parar de trabalhar? Não consegue desligar? Esses podem ser alguns sinais práticos, de advertência, de que você está tentando ser o salvador no discipulado. Fui desafiada em como o trabalho árduo – embora nem sempre seja ruim – pode estar profundamente enraizado no orgulho. Subconscientemente, podemos acreditar na horrível mentira de que as pessoas precisam de nós. Talvez tenhamos até sucumbido à mentira de que Deus, o Criador do universo, precisa de nós!

Humilhada

Fui humilhada, recentemente, por uma nova crente que estou discipulando. Devido a uma série de circunstâncias, não conseguíamos nos reunir há várias semanas. Quando finalmente nos encontramos, esperava que ela me dissesse que sua vida estava desmoronando e que ela estava lutando espiritualmente. Em vez disso, ela compartilhou a obra que o Espírito Santo vinha fazendo em sua vida nas últimas semanas, ajudando-a a lutar contra o pecado e buscar a piedade.

Senti como se um enorme fardo tivesse sido tirado de meus ombros. Isso me ajudou a ver novamente meu próprio orgulho e desejo de controle. Na verdade, eu pensei que essa jovem não estaria sobrevivendo sem mim. Mas, graças a Deus, não foi esse o caso! Eu me lembrei da fidelidade de Deus. Isso não foi uma desculpa para eu fugir e desistir do discipulado, mas me fez lembrar que eu preciso tirar a pressão de mim mesma e confiar em Deus. Se alguém é genuinamente nascido de novo, então ele tem o Espírito Santo, que é seu maior e mais poderoso ajudador.

Confie em Deus

Agora, nada do que eu disse pretende levá-lo a se tornar preguiçoso no discipulado. Em vez disso, espero que isso o incentive e desafie a se arrepender de seu orgulho e correr para Jesus. Talvez hoje você esteja carregando o pesado fardo pastoral de seus discípulos. Talvez pareça um peso constante e esmagador. Provavelmente, isso ocorra porque você ama e se preocupa com as almas das pessoas com quem está caminhando. Mas nunca nos esqueçamos, Deus se preocupa mais do que nós jamais poderíamos. E só Deus pode transformar vidas confusas.

Portanto, lance suas preocupações sobre o Senhor hoje. Alivie sua alma enquanto joga todos os seus fardos aos pés de Jesus. Vamos ficar de joelhos e orar – orar de verdade – por aqueles que estamos discipulando. Lucas 22.31-32 nos mostra que Jesus estava orando, para que a fé de Simão Pedro não falhasse, momentos antes de ele negar Jesus. Quanto mais devemos orar e confiar em Deus para nos segurar, e aos outros, com firmeza durante as provações, tentações e batalhas que todos enfrentamos? Agarre-se às promessas de Deus e peça a ele para fazer o que você não pode.

“Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). Oremos para que Deus nos ajude constantemente a direcionar outros para ele, não a nós mesmos, para que aqueles que discipulamos se tornem dependentes de Deus, não de nós. Só então veremos frutos reais e duradouros, doce descanso e alegria em discipular outros. Tudo para a glória de Deus.

Por: Emily Green. © 20schemes. Website: 20schemes.com. Traduzido com permissão. Fonte: Why Over-Discipling is Always a Bad Idea.

Original: Por que o excesso no discipulado é sempre uma má ideia. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.