A Bíblia permite mulheres diaconisas? Não, diz Alex Strauch (com uma resposta de Tom Schreiner)

Nota do editor: fizemos, a dois estudiosos – Tom Schreiner e Alex Strauch – a seguinte pergunta: “A Bíblia permite mulheres diaconisas?” Abaixo, você encontrará a resposta de Alex, bem como a resposta de Tom. (Você pode ler a resposta de Tom e a resposta de Alex neste link)

Para determinar a identidade das mulheres em 1 Timóteo 3.11, primeiro temos que identificar com precisão os diáconos do verso 8. Tudo, desde os que servem café na igreja ao corpo governante da igreja local, foi proposto.

Com base na mais recente pesquisa lexical, afirmo que devemos traduzir a palavra grega diakonoi em 1 Timóteo 3.8 não como “diáconos” ou “servos”, mas como “assistentes”.[i] Esta tradução nos diz imediatamente o papel do diakonoi e se encaixa bem com o contexto anterior sobre os supervisores (episkopoi). Esses funcionários são designados diakonoi, “assistentes”, por causa de sua relação próxima e dependente dos episkopoi.

Muito provavelmente Paulo pretendia este uso especial de diakonos porque, como Clarence Agan III explica sucinta e corretamente, o termo:

captura melhor a função intermediária que Paulo tinha em mente. Ele estava pensando em uma função que envolvia estar ao mesmo tempo dentro e sob autoridade – sob a autoridade dos presbíteros, mas tendo autoridade sobre a congregação para realizar as tarefas conforme necessário. Diakonos forneceu uma maneira clara de dizer isso, embora ainda deixando espaço para flexibilidade quanto à natureza das tarefas específicas que os diáconos podem realizar.[ii]

A visão de que diakonoi significa assistentes é construída sobre evidências linguísticas e contextuais mais objetivas do que as visões indefinidas, servo líder ou serventes de mesa. Os diakonoi trabalham em estreita colaboração com os superintendentes/presbíteros para liberá-los de muitos deveres para que os superintendentes/presbíteros possam se concentrar mais plenamente no ensino e na liderança da igreja. Como representantes/agentes delegados dos superintendentes, os diáconos exercem autoridade e supervisão dentro da congregação. Nossa visão da função e do papel do diácono será um fator significativo na compreensão dos gynaikes de 1 Timóteo 3.11.

Se as “mulheres” do versículo 11 são entendidas como assistentes formais dos supervisores, então existe um problema óbvio (gynē é o singular e gynaikes é o plural, e pode significar mulheres ou esposas, dependendo do contexto). A ideia de mulheres como assistentes dos superintendentes/presbíteros entra em conflito com o contexto anterior de 1 Timóteo 2.8–3.7, especialmente o versículo 12: “E não permito que a mulher [ginja] ensine, nem exerça autoridade de homem”. Paulo leva muito a sério os papéis apropriados que o Criador atribuiu aos homens e mulheres piedosos na família e na igreja.[iii]

As instruções de Paulo sobre homens e mulheres cristãos na igreja (1Tm 2.8-12) estão intimamente ligadas e governadas por suas instruções para os superintendentes e assistentes em 3.1-13. À luz das restrições explícitas de Paulo em 1 Timóteo 2.9-14, é duvidoso que as mulheres de 1 Timóteo 3:11 sejam mulheres assistentes no sentido de serem parceiras iguais dos assistentes masculinos dos supervisores/presbíteros. (Se as mulheres do versículo 11 são mulheres assistentes, o entendimento mais preciso delas é que elas são assistentes de pleno direito, e não auxiliares mulheres em algum sentido geral, ou diaconisas, um terceiro cargo separado, ou assistentes dos diáconos homens, ou mulheres solteiras ajudando viúvas. Todas essas opiniões são especulativas.)

Outra razão para ver as mulheres do versículo 11 como as esposas dos assistentes é a escolha de Paulo da palavra gynaikas (= mulheres/esposas) em vez de um título identificável específico, por exemplo, mulheres diaconisas (gynaikes diakonoi). Se essas mulheres são diáconos (= assistentes), chamá-las de gynaikes parece estranho, ambíguo e até inconsistente. Anteriormente, Paulo deu títulos específicos identificáveis ​​a dois oficiais – superintendente (episkopos, v. 2) e assistentes (diakonoi, vv. 8, 12). Mas para as mulheres no versículo 11, ele escolheu a designação geral gynaikas (= mulheres/esposas) sem qualquer palavra ou frase modificadora para explicar seu relacionamento com os assistentes do sexo masculino.

Se Paulo está destacando mulheres diaconisas em 1 Timóteo 3.11, por que ele usaria a palavra ambígua e geral gynaikas e não diakonous com o artigo feminino – tas diakonous (“diáconos femininas”), ou gynaikas diakonous (“mulheres diáconos”)? Paulo não teve problemas em usar o termo diakonos para Phoebe em Romanos 16.1.

Paulo não ficou, como alguns pensam, sem palavras ou títulos ao se referir a essas mulheres. Ele utilizou as palavras diakonoi e gynaikes de forma deliberada e precisa. Ele usou diakonoi para diáconos homens nos versículos 8-10 e novamente no versículo 12. Entre essas duas designações claras como diakonoi, Paulo intencionalmente empregou gynaikas para identificar essas esposas como as mais próximas dos assistentes homens. Visto que não havia mulheres assistentes para os supervisores, pelo que entendi, os leitores de Éfeso sabiam que essas gynaikes tinham de ser as esposas. Assim, não havia necessidade de nenhum tipo de modificador.

No grego do Novo Testamento, não havia uma forma feminina distinta de diakonos. O substantivo diakonos, embora pareça masculino em seu padrão de inflexão, está entre uma série de substantivos de segunda declinação que podem ser masculinos ou femininos. Uma vez que o padrão flexional de diakonoi pode ser masculino ou feminino em gênero, ele pode se referir a homens e mulheres. Embora o diakonoi dos versículos 8-9 pudesse incluir assistentes homens e mulheres, a inserção de gynaikas no versículo 11 implica fortemente que Paulo está se referindo apenas a homens nos versos 8-9. Se as mulheres fossem assistentes como os assistentes do sexo masculino, teria sido desnecessário para Paulo inserir o versículo 11, que (de acordo com os proponentes das mulheres diaconisas) afirma qualificações semelhantes às dos versículos 8 e 9. Mas não há especificação de gênero sobre as qualificações listadas no versículo 11. Se Paulo estivesse destacando assistentes com uma menção especial, esperaríamos que ele acrescentasse algumas qualificações importantes para as assistentes, como “a esposa de um só marido”. Mas esse não é o caso.

Depois de avaliar os diferentes argumentos, e especialmente os ensinamentos de Paulo sobre os papéis adequados dos homens e mulheres cristãos na igreja local, concluo que 1 Timóteo 3.11 é mais bem compreendido como as esposas dos assistentes dos supervisores/presbíteros.

*****

Resposta de Tom:

Alex escreveu uma excelente defesa de sua opinião. Admito alegremente que o assunto não é tão claro quanto gostaríamos. Todos nós temos que fazer uma escolha sobre qual é a leitura mais plausível. Fico feliz em chamar os diáconos de “assistentes”, uma vez que sua principal tarefa era servir, mas acho que a palavra diáconos conota servir e ajudar em qualquer caso, então vou mantê-la. O principal problema com as mulheres servindo como diaconisas, para Alex, é que, em seu entendimento, diáconos não apenas servem, mas também lideram. Mas Alex não comenta sobre o fato de que liderança e ensino (veja meu primeiro artigo) são restritos aos presbíteros, e o texto bíblico nunca diz que os diáconos lideram. Alex presume que os diáconos exercem autoridade, mas não vejo no texto bíblico onde eles exerçam liderança. Em vez disso, como indiquei em meu primeiro artigo, ensinar e exercer autoridade separa os presbíteros dos diáconos.

Alex diz que se as mulheres fossem realmente diaconisas em 1 Timóteo 3:11, Paulo as chamaria de diaconisas. Mas não estou convencido. Primeiro, eu argumento que Paulo chama Febe de diaconisa em Romanos 16. 1, e por isso temos um exemplo de mulheres sendo chamadas de diaconisas. Em segundo lugar, temos que ter cuidado ao especificar como Paulo escreveria suas cartas. Se as mulheres já serviam como diaconisas, ele poderia ter passado pelas mulheres diaconisas sem usar o título porque os diáconos são o assunto do parágrafo (1Tm 3.8-13). Paulo frequentemente escreve de maneiras que nos surpreendem. Ele nem sempre segue os padrões que podemos esperar. Terceiro, Alex não responde por que as esposas dos diáconos são mencionadas, mas não as esposas dos presbíteros. Eu não entendo por que as esposas dos diáconos são mencionadas enquanto ignoramos as esposas dos presbíteros, já que os presbíteros lideram e ensinam a igreja e, portanto, as esposas dos presbíteros seriam mais importantes do que as dos diáconos. Claro, se ele está falando sobre mulheres diaconisas, como eu argumento, o problema desaparece.

Alguns disseram que as esposas são mencionadas porque ajudam os maridos que são diáconos. Esse é um argumento muito interessante, mas começa a soar como se as esposas fossem diaconisas junto com seus maridos diáconos, já que elas servem como seus maridos, as esposas devem atender ao mesmo tipo de qualificações de caráter que seus maridos. Em vez de resolver o problema para aqueles que acham que as mulheres não são diaconisas, isso só piora ainda mais. No final das contas, no entanto, não acho que Paulo descreve esposas que são diaconisas, mas mulheres diaconisas.

Finalmente, vemos muito cedo na história da igreja que as mulheres serviam como diaconisas. Na correspondência entre Plínio, o jovem, e o imperador Trajano (98-117 d.C.), uma parte da conversa se aplica à essa discussão que está diante de nós. Plínio se refere a duas mulheres cristãs, chamadas ministrae em latim. Em inglês, esta palavra significa “ministros”. “Ministros” é uma tradução latina da palavra grega diakonoi, que significa “servos” ou “ministros” ou “diáconos”. Vemos por esse relato que no início do segundo século as mulheres serviam como diaconisas. Concluo que a Bíblia e a história da igreja primitiva apoiam as mulheres diaconisas, e nós também devemos.


[i] BDAG, 230–231.

[ii] Correspondência pessoal com o autor, 7 de julho de 2016.

[iii] 1 Cor. 11:2–16; 14:33–38; Eph. 5:22–33; Col. 3:18–19; Titus 2:3-4; see too Acts 6:3, 5.

Por: Alexander Strauch & Thomas R. Schreiner. © 9Marks. Website: 9marks.org. Traduzido com permissão. Fonte: Does the Bible Allow for Women Deacons? No, Says Alex Strauch (with a Response from Tom Schreiner).

Original: A Bíblia permite mulheres diaconisas? Não, diz Alex Strauch (com uma resposta de Tom Schreiner). © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.