Um blog do Ministério Fiel
Para redimir a ciência
Adão foi o primeiro homem, marido, pai de família, agricultor e, não menos importante, o primeiro cientista da história, mais especificamente, o primeiro taxonomista – ramo da biologia que trata da classificação e descrição dos seres vivos. Ele recebeu diretamente daquele que criou todos os seres vivos um tema de pesquisa belo e até então inédito: observar e nomear os animais. O ato de nomear é um gesto de dominação, que se encaixa dentro do amplo mandato cultural entregue ao homem, o de ser subgerente da criação. Adão foi o único a fazer ciência sem a influência do pecado e completamente coram Deo, ou seja, na presença de Deus. Olhar para sua atividade pioneira é ver como a ciência e a busca pelo conhecimento devem ser praticadas de acordo com os propósitos do Criador. Diz Gênesis 2.19-20:
“Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves do céu, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. Deu o nome a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos…”
Essa primeira missão científica serve-nos como modelo não só por sua metodologia, seguida até hoje – observar, anotar e organizar dados, mas também por outros três motivos fundamentais. Primeiro, foi uma vocação dada pelo Criador para o ser humano; segundo, o pesquisador sabia que esse trabalho específico não era a única esfera de seu mandato; terceiro, o pesquisador também reconhecia que o seu objeto de estudo não era a integralidade da realidade.
Essas premissas foram deixadas de lado pela ciência moderna, pois guiada e dominada pelo naturalismo filosófico, cuja visão de mundo entende que tudo que existe é somente energia e matéria, ignora a existência da divindade (quanto mais de uma vocação divina!), e reiteradamente tenta submeter as demais esferas do mandato cultural (família, religião, Estado e outras instituições da vida em sociedade) à sua autoridade. Portanto, para redimir a ciência do cientificismo naturalista e seu consequente reducionismo, é preciso trazer as verdades das Escrituras de volta ao seu encontro.
Como isso pode ser feito? São premissas que não precisam ser declaradas com linguagem religiosa, mas que devem ser ensinadas no vocabulário próprio de cada campo do conhecimento, e aplicadas conforme. O importante é que o cristão, no âmbito de sua própria área de operação, atue com essas ideias em mente e tenha a ousadia necessária para transmiti-las até em ambientes hostis ao pensamento cristão.
Mesmo para aqueles que assim não reconhecem a existência de um Criador que está além do espaço-tempo, seu chamado divino ao conhecimento, bem como os limites da ciência humana são verdades que afetam cada campo de estudo. Quão mais profundo seria o conhecimento humano neste século se as seguintes palavras de Isaac Newton fossem exibidas e refletidas em cada laboratório, escrivaninha ou campo de pesquisa onde se busca melhor compreender o universo e a natureza:
“Gravidade pode ser muito bem explicada pelo movimento dos planetas, mas não pode explicar quem colocou os planetas em movimento. Deus governa todas as coisas e Deus sabe tudo que é ou tudo que pode ser conhecido”
A redenção do saber deve também ser guiada pelo amor ao próximo e a Deus, assim como pelo reconhecimento de sua limitação para a satisfação da alma. Paulo nos chama a atenção sobre esse primeiro aspecto em I Coríntios 13.2, quando diz: “Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei.” E Salomão, por sua vez, alertou em Eclesiastes 12.12 sobre o perigo do desgaste interior: “Demais, filho meu, atenta: não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne”.
É necessário lembrarmos, ainda, que por causa da queda, recaiu também sobre a ciência a maldição do pecado. O querer ser igual a Deus tem a ver em querer ser conhecedor tal qual somente Ele pode ser. Por isso, o estudar a criação vem agora acompanhado pela constante luta contra o orgulho, a vaidade e a tendência de substituir o Criador pelas coisas criadas, vez que, conforme a bastante citada frase de João Calvino, “o coração do homem é uma fábrica de ídolos”. Como também escreveu Vern Poythress, em seu livro “Redeeming Science: A God-Centered Approach“:
“Alguns destes pecados pertencem a toda uma cultura quando a cultura endossa uma prática particularmente pecaminosa e recusa-se a chamá-la de pecado. Nós temos um exemplo particular disto na prática científica de converter as leis científicas em um substituto impessoal para Deus.”
O cientista cristão tem, desse modo, o desafio de redimir a ciência. Ela precisa ser resgatada das garras do naturalismo filosófico, para que possa, assim, ser exercida coram Deo e submetida ao único Deus verdadeiro. Desafiar os pares à humilde posição de seres criados tentando compreender melhor a dimensão limitada de suas respectivas áreas é exercitar a apologética do evangelho no seio da comunidade científica, é um ato de amor e honra ao Criador, e, igualmente, uma postura de respeito à busca pela verdade que deve ser a condutora de todo estudo em cada campo de pesquisa.