Sim, a doutrina da igreja é importante para o ministério entre os pobres

Nossas comunidades são destruídas pelo vício e pela violência. Casas abandonadas alinham-se nas ruas. As crianças precisam de mentores. O desemprego e a pobreza são problemas reais. O ministério do dia a dia é difícil.

Para muitos que desejam alcançar essas áreas com o Evangelho, parece natural perguntar:

• Como a igreja pode ser mais relevante?
• De que forma podemos transformar a comunidade?
• Quais são as melhores práticas para o ministério entre os pobres?

No entanto, se você fizer as seguintes perguntas a essas pessoas, elas provavelmente pensarão que você perdeu o controle:

• Quem lidera a igreja?
• Que papel a congregação tem em termos de autoridade?
• Qual é o significado de ser membro da igreja?

Vários anos atrás, eu estava explorando a possibilidade de ajudar outro ministério em nossa cidade. O líder me disse desde o início: “Para plantar uma igreja entre os pobres, precisamos jogar fora tudo o que sabemos sobre a igreja e começar tudo de novo. Esqueça as discussões sobre a política da igreja, precisamos alimentar os famintos e vestir os nus”.

Eclesiologia é importante

Vou propor hoje o que expliquei a ele naquela época: a eclesiologia é importante para as igrejas em comunidades pobres. Apesar do que muitos cristãos que trabalham em lugares difíceis possam dizer, uma boa eclesiologia é vital para o ministério do Evangelho entre os pobres. Se quisermos ver comunidades empobrecidas alcançadas com o Evangelho, devemos priorizar a construção de igrejas saudáveis.

Mas espere, por que estamos falando sobre eclesiologia? Muitos de nosso pessoal nem sabem o que essa palavra significa. Puxa, muitos pastores nem sabem o que essa palavra significa. Isso realmente importa?

Para responder a essa pergunta, precisamos começar definindo eclesiologia. Simplificando, a eclesiologia é a doutrina da igreja. Essas perguntas (e muitas outras) constituem nossa eclesiologia: O que é a igreja? Quem a lidera? Quem pertence a ela? Qual é o propósito e missão da igreja?

Exemplo da história

Ler livros escritos por quem já faleceu me lembra das coisas que os cristãos no passado levavam a sério. No verão passado, li um livro de Charles Octavious Boothe chamado Plain Theology for a Plain People (Teologia Simples para um Povo Simples), publicado originalmente em 1890. Como um afro-americano, Boothe nasceu escravo em 1845. Ele se tornou o primeiro pastor da Igreja Batista da Avenida Dexter em Montgomery, Alabama. Posso imaginar, considerando seu contexto, as inúmeras dificuldades que Boothe enfrentou em sua igreja.

Portanto, pode nos surpreender descobrir que quando Boothe fala sobre ministério saudável, ele fala sobre a centralidade da igreja. Ele fala sobre a liderança da igreja, a congregação, a necessidade de servir aos pobres e a disciplina na igreja. Ao falar sobre o que os membros da igreja devem fazer, ele declara: “Ela deve fazer com que os membros assistam fielmente aos serviços públicos no santuário e observem devidamente a Ceia do Senhor. . .. Também é responsabilidade da igreja, na admissão dos membros, cuidar para que a ordenança do batismo seja administrada adequadamente.” (120).

Pausa.

Você pode imaginar alguém, hoje – servindo em um contexto de ministério de pobreza e opressão – dizendo: “Ok, igreja, aqui estão as duas coisas em que precisamos nos concentrar: batismo e comunhão”. É inédito. Por que Boothe enfatizou as ordenanças, disciplina da igreja, membresia e liderança da igreja? Porque ele sabia que a eclesiologia importava – não importa o contexto. Isso é tão verdade hoje quanto era na época de Boothe.

Então, por que a eclesiologia é importante nas comunidades pobres? Aqui estão três razões.

1. A eclesiologia ajuda as igrejas a refletir com precisão a glória de Deus

Na Bíblia, a igreja é referida como nação santa e sacerdócio real (1Pe 2.9). Jesus nos chama de sal e luz (Mt 5.13-15). Paulo se refere à igreja como o templo em que Deus vive (Ef 2.20-22). Também somos chamados de família (2Co 6.18). Talvez a analogia mais chocante seja esta: a igreja como o corpo de Cristo (Ef 1.22-23).

Essas metáforas nos ajudam a ver a centralidade da igreja nos propósitos de Deus. É a principal maneira pela qual ele pretende mostrar sua glória ao mundo. Portanto, a política da igreja – como a igreja é governada – é extremamente importante. Felizmente, a Palavra de Deus explica tudo para nós nessas coisas: desde quem lidera a igreja, até quem constitui a igreja, para questões de disciplina e responsabilidade, e até mesmo como devemos nos aproximar dele na adoração.

Portanto, a eclesiologia é a nosso esforço em entender e aplicar corretamente os princípios de Deus para a sua igreja. Aqui está o ponto: igrejas em comunidades pobres refletem com precisão a glória de Deus à medida que abraçamos a eclesiologia bíblica.

2. A eclesiologia ajuda as igrejas a se tornarem uma comunidade contra cultural

À medida que refletimos com precisão a glória de Deus, mostramos outra coisa: uma comunidade contra cultural. A boa eclesiologia deve levar uma igreja ao interesse bíblico uns pelos outros, ao uso correto e adequado da autoridade e a um governo onde todos sejam iguais perante Deus. Pense apenas em algumas diferenças entre a igreja e o mundo.

• Lá fora, temos divisões. Aqui, somos um.
• Lá fora, escondemos nossas falhas. Aqui, podemos confessar nossos fracassos uns aos outros.
• Lá fora, a autoridade é frequentemente abusiva. Aqui, aqueles em posição de autoridade sabem que responderão a Deus.
• Lá fora, há uma concorrência selvagem. Aqui, assumimos a responsabilidade uns pelos outros.
• Lá fora, os desacordos são horríveis e brutais. Aqui, seguimos a direção de Deus para dissensão, desacordo e reconciliação.
• Lá fora, ninguém se submete a ninguém (exceto talvez a si mesmo). Aqui, nos submetemos a Deus, à nossa liderança e uns aos outros.

A igreja é uma amostra do céu. Só uma amostra. E sim, é um sabor misturado com toxinas às vezes. No entanto, mesmo em nossas falhas, o Espírito faz algo sobrenatural e mostramos uma nova comunidade para aqueles que, de outra forma, perderam a esperança.

3. A eclesiologia guardam as igrejas do desespero

Uma compreensão correta da igreja nos levará a uma compreensão correta de nossa missão na comunidade. Nosso trabalho não é transformar um bairro, mas transformar um povo da comunidade que mostrará a glória de Deus para o bairro e as nações. Afinal, é isso que Jesus instruiu: “Portanto, ide e fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28.19).

Sem uma compreensão adequada da igreja, podemos pensar que nosso trabalho é acabar com a pobreza. Isso seria incrível! Mas e se formos fiéis por 30 anos e todos ainda continuarem pobres? Nós falhamos? Sem uma compreensão adequada da igreja, podemos pensar que nosso trabalho é tirar todas as pessoas da comunidade das drogas e colocá-las em empregos. Isso seria bom! Mas e se o desemprego continuar a ser um problema e a epidemia de drogas piorar? Nós falhamos?

Não me interpretem mal, eu sou totalmente a favor de empregos, ministério contra dependência e ajudar as pessoas a ganhar dinheiro. Essas são boas obras que precisamos discutir. Meu ponto é simplesmente este: apenas a volta de Cristo mudará completamente a comunidade. Um dia, Ele voltará, os ímpios serão julgados e seu Reino se tornará visível.

Até lá, a igreja será um grupo de estranhos e estrangeiros em uma terra estrangeira. Somos organizados e dirigidos por Deus por meio de sua Palavra. Vivemos como sal e luz. Como corpo de Cristo, testificamos ao mundo quem ele é e o que ele fez. Somos um farol de esperança para os perdidos. E somos uma família de crentes “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras[…] e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.” (Hb 10.24,25).

A eclesiologia é importante. À medida que desenvolvemos igrejas saudáveis, produzimos, implacavelmente e alegremente, comunidades contra culturais que exibem com precisão a glória de Deus. Um dia, Jesus voltará. Até aquele dia, lembremo-nos de que Jesus disse: “Edificarei a minha igreja” (Mt 16.18). É a sua igreja. Vamos construir e liderá-las da maneira que ele direcionar.