Como não perseverar no ministério

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Já que estou ficando enorme em tamanho, decidi que é da maior importância perder peso. Então, eu tenho ido para a academia. Não vou aborrecer você com os detalhes da minha rotina, exceto para dizer que faço uma corrida de vinte e cinco minutos no início de cada sessão. Pelos primeiros trinta segundos, me sinto como Eliud Kipchoge. Mas logo após aqueles trinta segundos de êxtase contínuo, minha respiração está pesada e meus membros parecem pedaços de salame velho. Na marca de quinze minutos, minha cabeça está baixa e eu digo a mim mesmo: apenas supere isso.

Esta mentalidade, embora eficaz ao fazer exercícios, pode ser letal quando aplicada à implantação de uma igreja. Estamos há cerca de um ano e meio em nossa jornada de plantação da igreja, mas ainda não estamos prontos para o seu lançamento. A maioria dos plantadores de igrejas sabe que existe um desejo perigoso de lançar a igreja cedo. Queremos ter algo para ‘mostrar’ de todo o nosso trabalho. Mas é aqui que a mentalidade de “apenas supere isso” é inútil. Assim como minha cabeça abaixa quando fica difícil correr, eu também posso ser tentado a “superar” esta fase inicial do plantio e começar um culto de domingo. No entanto, existem (pelo menos) três grandes problemas com essa mentalidade.

1. As pessoas se tornam um obstáculo em vez de uma oportunidade

Este é o que eu mais temo em meu próprio ministério: ver as pessoas como obstáculos em vez de oportunidades do evangelho. Em nossa comunidade aqui em Inverness, as pessoas lutam contra vários problemas: desde problemas de saúde física e mental até vícios graves. Na verdade, nossa comunidade está nos últimos 0,2% em relação à saúde geral em toda a Escócia. Portanto, muitas pessoas em nossa comunidade são carentes.

E ainda, eu sinto minha tendência de ver as pessoas como obstáculos para a implantação de igrejas, em vez de pecadores que precisam de um Salvador. É fácil ficar preocupado comigo mesmo – concentrando-me no que preciso como um novo plantador de igrejas. Isso, por sua vez, pode levar ao aumento da frustração com Deus. Eu acabo orando: Senhor, dê-me apenas algumas pessoas ‘normalmente’ necessitadas para que possamos plantar esta igreja.

Meu coração deriva para essa disposição pecaminosa com muito mais frequência do que eu gostaria de admitir. Em vez de pregar o evangelho ou ver a alegria dos incrédulos lendo a Palavra de Deus, quero avançar em minha própria agenda. Isso revela um perigo sutil de uma mentalidade de “apenas supere isso”, podemos simplesmente perder as oportunidades do evangelho que Deus coloca à nossa frente.

A dureza do meu próprio coração é assustadora, e preciso me lembrar que também sou pecador e preciso da graça do evangelho todos os dias. Eu também preciso de um lembrete sério de que se eu – como plantador líder – der exemplo desse tipo de comportamento, é provável que ele permeie o resto de nossa equipe. Se isso não for contido, todos nós poderemos acabar vendo nossa comunidade como um obstáculo ao invés do campo missionário que ela realmente é.

2. O sonho de lançar a igreja esmaga a realidade

“Sonhos de lançamento” irrealistas esmagarão a realidade do grupo de pessoas que Deus lhe deu. Tornou-se comum em círculos de plantação de igrejas enviar igrejas para dizer coisas como: “vamos enviar dez dos nossos melhores” ou “vamos enviar essas quinze pessoas para plantar e lançar a igreja dentro de seis meses”. Eu tenho objeções à linguagem das “melhores pessoas”, e acho que definir uma data antes de um pé tocar o solo não é sensato, mas o perigo real é que o ‘sonho’ de plantar igrejas pode acabar esmagando as pessoas que você tem na sua frente.

Essa mentalidade pode se infiltrar na plantação de uma igreja a qualquer momento, e tenho que lutar contra isso constantemente. Por exemplo, recentemente começamos a levar crianças para nossa noite comunitária. Atualmente, os números variam entre cinco e onze crianças. Isso parece ótimo, e somos gratos pelo Senhor ter trazido essas crianças para nós. Ansiamos que elas conheçam Jesus. Mas, no ponto que nos encontramos hoje, simplesmente não temos a capacidade de dar um estudo bíblico para crianças – ou mesmo algo especialmente voltado para crianças – porque temos apenas oito pessoas em nossa equipe de plantação de igrejas. Claro, gostaríamos muito de fazer isso agora, mas temo que, se tentássemos, provavelmente iríamos queimar nos primeiros meses.

Esse é o mesmo problema em relação a definir uma data de lançamento público. Se não temos os recursos internos para começar a nos reunir publicamente aos domingos, devemos? Seria sensato fazer isso, sabendo que não cobrimos toda a missão ou temos pessoas suficientes para executar os blocos de construção básicos de um culto de domingo? Quando converso com outros plantadores, isso é, de longe, o principal arrependimento que ouço. Eles lançaram a igreja muito cedo – seja por desejo interno ou pressão externa – e os resultados tendem a não ser bons.

Embora não fale explicitamente sobre plantação de igrejas, Bonhoeffer aborda a visão idealizada que muitos têm da comunidade cristã em seu conhecido livro Life Together:

“Aqueles que amam seu sonho de uma comunidade cristã mais do que amam a própria comunidade cristã tornam-se destruidores dessa comunidade cristã, embora suas intenções pessoais possam ser sempre honestas, sinceras e sacrificiais. Deus odeia esse sonho ansioso porque torna o sonhador orgulhoso e pretensioso. Quem sonha com esta comunidade idolatrada exige que ela seja completada por Deus, pelos outros e por eles próprios. Eles entram na comunidade de cristãos com suas exigências estabelecidas por sua própria lei e julgam uns aos outros e a Deus. Não somos nós que a construímos. Cristo edifica a igreja. Quem quer que esteja tentando edificar a igreja certamente está a caminho de destruí-la, pois construirá um templo para ídolos sem desejar ou saber disso. Devemos confessar, é Deus quem edifica. Devemos proclamar, ele edifica. Devemos orar a ele, e ele a edificará.”

Não podemos apenas superar isso para realizar o “nosso sonho”. Na implantação de igrejas, precisamos ter tempo real para refletir e revisar nosso progresso, mesmo que isso signifique tomar a difícil decisão de adiar o lançamento público por mais um ano.

3. O lançamento não é um objetivo final, mas um começo

A mentalidade de “apenas supere isso” também abre um precedente ruim para quando você realmente faz o lançamento. Assume que lançar a igreja é o objetivo final. Mas simplesmente não é o caso. Sou lembrado disso por meus irmãos no 20schemes, quando nos reunimos para nossas reuniões mensais. Durante essas reuniões, posso ver como o trabalho que vem após o lançamento não é menos desafiador do que a fase de pré-lançamento. Claro, há muitas alegrias quando uma igreja começa a se reunir publicamente no domingo, mas também há provações de vários tipos.

Portanto, o simples fato de iniciar o lançamento perde de vista o fato crucial de que plantar igrejas não é reunir um grupo com o objetivo de ter uma reunião polida de domingo. Em vez disso, a plantação de igrejas visa criar uma comunidade de aliança cheia de pessoas que se discipulam e se treinam na retidão. Então, essa mesma comunidade leva o precioso evangelho de Jesus Cristo a um mundo perdido e moribundo.

Por: Chris Davidson. © 20schemes. Website: 20schemes.com. Traduzido com permissão. Fonte: How Not to Persevere in Ministry.

Original: Como não perseverar no ministério. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.