Um blog do Ministério Fiel
A igreja na Europa
A Europa foi o berço da Reforma. Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero colocou as Noventa e Cinco Teses na porta da Schlosskirche – a Igreja do Castelo – em Wittenberg, Alemanha. Na providência de Deus, isso se tornou um catalisador para a Reforma que Deus estava preparando, a Reforma que mudou o mundo.
Por muito tempo, a Europa foi o centro da força e influência cristã. No entanto, nos últimos dois séculos, o cristianismo viu um declínio na Europa, à medida que o continente entrou em uma fase pós-cristã. O ano de 2017 marcou o quingentésimo aniversário da Reforma. Então, vamos dar uma olhada no contexto da igreja na Europa hoje.
Os números
Quando você sobrevoa a Europa, pode ver muitos belos edifícios históricos da igreja. Assim que estiver no solo e visitar algumas dessas igrejas, você descobrirá que alguns desses edifícios foram transformados em museus; já não são lugares onde o Cristo crucificado e ressuscitado é proclamado.
Considere meu próprio país, a Alemanha. Em 1951, logo após a Segunda Guerra Mundial, mais de 96% de todos os alemães eram membros da Igreja Protestante do Estado ou da Igreja Católica Romana. Hoje, a Alemanha é um país de oitenta e dois milhões de pessoas, e o número de membros na Igreja Protestante estatal diminuiu para vinte e dois milhões de pessoas (cerca de 27% da população total) e na Igreja Católica Romana diminuiu para vinte três milhões e meio, (cerca de 29%). Portanto, de 1951 a 2017, o número de membros nas duas maiores igrejas da Alemanha diminuiu de 96% para 56%. Se essas tendências continuarem, em 2030 esse número terá caído para menos de 38%.
A frequência total nos cultos de adoração, de todas as igrejas estaduais protestantes em um domingo normal, é de menos de oitocentas mil pessoas – o que significa que menos de 4% dos membros das igrejas realmente vão à igreja aos domingos. Na Igreja Católica Romana, a frequência é de cerca de 2,5 milhões de pessoas – então, cerca de 10,5% de seus membros vão à igreja em aos domingos.
O número de membros em igrejas protestantes livres na Alemanha hoje é de cerca de trezentos mil. No entanto, estima-se que em um domingo normal, cerca de um milhão de pessoas adoram na igreja protestante livre na Alemanha.
Devido à atual crise de refugiados, o número de muçulmanos na Alemanha aumentou substancialmente nos últimos anos. Em 2017, havia cerca de 5 milhões de muçulmanos na Alemanha (cerca de 6% da população total). Cerca de um terço de todos os muçulmanos na Alemanha são ortodoxos em sua fé islâmica. Os outros dois terços são mais liberais e não tão comprometidos com o Alcorão.
As tendências gerais que descrevi na Alemanha são semelhantes em outros países europeus, como Grã-Bretanha, Holanda, França e Áustria.
Forças e fraquezas
Além dos números, quais são alguns dos pontos fortes e fracos da igreja na Europa?
Primeiro, deixe-me dizer que não importa o quão liberal a igreja em geral na Europa tenha se tornado nos últimos duzentos anos, o Deus Todo-Poderoso ainda tem seus servos fiéis em diferentes partes da Europa que claramente proclamam Jesus Cristo como o único Senhor e Salvador. Um desses servos fiéis era Julius von Jan, que servia como pastor na igreja protestante do estado em minha cidade natal, Oberlenningen, perto de Tübingen, no sul da Alemanha. Na providência de Deus, Jan serviu como pastor durante o reinado dos nazistas na Alemanha. Após o Reichskristallnacht em novembro de 1938, Jan pregou seu famoso sermão Bußtagspredigt em Jeremias 22.29: “Ó terra, terra, terra! Ouve a palavra do Senhor!” Nesse sermão, Jan chamou o povo alemão a se arrepender e a não seguir os nazistas, mas seguir o Deus vivo e obedecer à sua Palavra. Jan pregou esse sermão enquanto os homens da Schutzstaffel (SS) estavam sentados na congregação e, alguns dias depois, ele foi enviado para um campo de concentração. Jan é um exemplo da força da igreja na Europa, um pregador que não apenas pregou fielmente a Palavra de Deus, mas foi incrivelmente ousado em meio a uma tremenda oposição. Um dos verdadeiros pontos fortes da igreja na Europa é que muitos cristãos, aqui, seguem claramente a Jesus Cristo como seu verdadeiro Deus – ou, como Tim Keller gosta de dizer, seu “Salvador funcional”. A maioria desses cristãos está em congregações bastante pequenas e sabem que seu amor e compromisso com Jesus Cristo não são estimados ou valorizados pela cultura. No entanto, eles seguem Jesus Cristo com alegria por causa de quem ele é e por causa do que ele fez por eles em sua vida sem pecado, em sua morte na cruz e em sua ressurreição.
Uma segunda força da igreja na Europa – nas igrejas onde Jesus e o evangelho são proclamados – é um profundo senso de comunidade e comunhão. É uma grande alegria para mim, como pastor da Gospel Church München em Munique, Alemanha, ver quão profundamente as pessoas se amam e se preocupam umas com as outras, e como elas passam tanto tempo juntas com alegria, tanto aos domingos quanto durante a semana. Pela graça de Deus, temos muitos não-cristãos que visitam nossos cultos de adoração, e frequentemente ouço deles que ficam maravilhados com a alegria e o amor que as pessoas da Gospel Church München têm por Deus e uns pelos outros. Não é incomum que um desses visitantes me diga que nunca viu uma comunidade mais amorosa. Louvado seja Deus, isso não é verdade apenas em Munique, mas em muitas outras igrejas que visitei por toda a Europa.
Uma terceira força da igreja na Europa é sua disposição de cuidar das mínimas coisas. Só a Alemanha acolheu mais de 1,25 milhão de refugiados em 2015. Muitos deles vieram de áreas devastadas pela guerra na Síria, Iraque e Afeganistão. Um grande número de igrejas, na Alemanha, ajudou muitos desses refugiados e, pela graça de Deus, centenas ou possivelmente milhares de refugiados passaram a ter fé em Jesus Cristo. Eu sei de um grupo de refugiados no centro de Munique, a maioria dos quais são ex-muçulmanos, que se reúnem todos os domingos à tarde para estudar a Bíblia, e o grupo continua crescendo e crescendo, tanto numérica quanto espiritualmente.
Quando se trata das fraquezas da igreja na Europa, o primeiro pensamento que vem à mente é que a teologia liberal tem ferido tremendamente a igreja. Se você tem pastores que não estão pregando a Cristo crucificado e ressuscitado e que não falam sobre o pecado, então não é de se admirar que as pessoas não sejam convertidas e que essas igrejas morram. Em minha própria experiência em Munique, ouvi de vários pastores que na Bíblia não existe verdade. Isso está em contradição direta com as palavras de Jesus em João 8.31-32: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
Uma aparente fraqueza da igreja na Europa é que algumas igrejas são centradas no homem em vez de em Deus. Em vez de se preocupar com a glória de Deus e seu reino eterno, o foco mudou para a preocupação de como Deus pode me dar uma vida melhor agora.
Uma terceira fraqueza é a falta de conhecimento de uma boa teologia sistemática. É raro, especialmente nas igrejas livres, que qualquer catecismo ou confissão seja usado na igreja. Infelizmente, mas não surpreendentemente, muitos cristãos na Europa não conhecem sua doutrina; eles não sabem no que sua igreja realmente acredita. Como consequência, alguns protestantes na Europa chegaram ao ponto de pensar que a Igreja Católica Romana ensina e prega basicamente as mesmas coisas que as igrejas protestantes. Eles se esqueceram – ou nunca foram realmente ensinados – porque a Reforma foi prioritariamente necessária.
O caminho a seguir
O caminho a seguir na Europa é mais uma vez abraçar, pregar e viver os cinco solas da Reforma Protestante: sola Scriptura (somente as Escrituras são nossa autoridade infalível), sola fide (somente a fé é o instrumento pelo qual somos justificados), solus Christus (a salvação é encontrada somente em Cristo), sola gratia (somos salvos apenas pela graça, não pelas obras) e soli Deo gloria (nossa glória e louvor são somente para Deus).
As pessoas, na Europa, precisam desesperadamente da Bíblia. Elas precisam desesperadamente da verdade para que possam encontrar pessoalmente o Rei dos reis e serem transformadas por ele e por sua Palavra. Elas também precisam ser libertas do peso da justiça pelas obras por saber e compreender que sua justificação é somente pela fé. Em meio ao analfabetismo espiritual generalizado na Europa, é de extrema importância que as pessoas sejam claramente ensinadas que Jesus Cristo é o único mediador por cuja obra somos redimidos. Louvado seja Deus porque a salvação é somente pela graça e somente para a glória de Deus.
Sim, a igreja na Europa precisa de muita oração e, ao mesmo tempo, nos regozijamos porque Deus está trabalhando na Europa. Nos lugares onde Jesus Cristo e o evangelho são proclamados, vemos as pessoas chegarem à fé e se tornarem seus adoradores. Na França, um dos países com menos igreja do mundo, o número de igrejas evangélicas se multiplicou dez vezes desde 1945. E pela graça de Deus, vimos Deus plantar e amadurecer a Igreja Evangélica em Munique em apenas cinco anos, à partir de uma igreja pioneira, uma igreja vibrante e centrada em Deus. Soli Deo gloria.