“Graças a Deus a perseguição está chegando”

Devemos mesmo desejar perseguição?

“Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.” (Mt 5.11-12)

À medida que o mundanismo e a afronta contra tudo que se chama Deus cresce, nós, como igreja, percebemos que o cerco se fecha, sentimos que a perseguição está às portas.

É certo que mais cedo ou mais tarde, em maior ou menor escala, todo cristão verdadeiro sofrerá com perseguição, fomos advertidos sobre isso por Jesus, portanto, não é nenhum segredo para quem lê a Bíblia.

Entretanto, tenho visto, cada vez mais, crentes e até mesmo pastores, que parecem estar ansiosos ou torcendo pela chegada dessa perseguição. Cheguei até a ouvir, um dia desses, alguém dizer, “Graças a Deus a perseguição está chegando”.

Entendo, até certo ponto, essa postura que, para mim, soa mais como um desabafo. Alguns, observando o passado, principalmente pela ótica de Atos dos Apóstolos, se sentem frustrados em ver a frieza da igreja de nossos dias e, apaixonadamente, julgam que se a perseguição vier, a Igreja será fortalecida.

Duvidando um pouco dessa postura, fui buscar na Palavra o que ficou registrado para nós, da postura dos crentes antepassados.

O que pude verificar é que parece existir uma grande diferença entre suportar (até com alegria) a perseguição e desejar a perseguição. (At 5.41; Fp 1.29; 1Pe 4.16).

Portanto, ainda que em alguns exemplos bíblicos possamos ver crentes se alegrando pelo privilégio de estarem sendo perseguidos pela fidelidade ao Senhor. Não verifiquei em nenhum momento crentes orando por, ou desejando a perseguição.

Na verdade vemos, por exemplo, em Atos 4.29, a Igreja pedindo intrepidez em meio à perseguição, isso é legítimo e um grande exemplo para nós quando passarmos por perseguições.

Mas em Atos 9:31 lemos: “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número.”

Aqui está um exemplo de que a Igreja de Atos (que crescia durante as perseguições), também crescia durante os tempos de paz.

Portanto, crer que a perseguição seja a solução imediata para o fortalecimento da Igreja é um equívoco, pelo menos sob dois aspectos.

Primeiro, alguém que pensa dessa forma, muito provavelmente nunca tenha sofrido verdadeiramente uma grande perseguição e não tenha nem ideia do que isso representa, apesar das notícias que lê sobre perseguição aos cristão em vários lugares do planeta. Se possível, pergunte a um cristão que vive em um dos cinquenta  países perseguidos (você pode ver a lista no site do “Portas Abertas”), se ele deseja tempos de paz ou prefere continuar sendo perseguido.

Segundo, a Bíblia não nos dá base alguma para desejarmos a perseguição como forma de experimentarmos o fortalecimento da Igreja.

É certo que na perseguição existe um “peneirar” da igreja visível, e que aqueles que permanecem, apesar da perseguição, dão realmente verdadeiro testemunho. Mas nem isso deve ser argumento para que desejemos a perseguição.

E então? Até onde devemos desejar a perseguição, devemos orar para que o Senhor nos envie a perseguição?

A mim me parece mais sensato orar para que esses tempos de relativa paz sejam prolongados tanto quanto possível dentro da soberania e providência de Deus.

E enquanto oramos, e em vez de ficarmos trancados dentro de nossas Igrejas discutindo se alguém está aproveitando a pandemia para atacar a Igreja, deveríamos sair e aproveitar a liberdade que ainda temos para pregar o Evangelho ao máximo de pessoas possível no menor tempo disponível.

Se em Atos 4.29 a Igreja pediu, em meio a perseguições, mais intrepidez, será que não deveríamos pedir ao Senhor a mesma intrepidez para anunciar a Palavra em tempos de Paz?