Tangendo ao Intangível: uma lição de humildade

Diante da pandemia de COVID-19, causada pelo coronavírus, precisamos repensar nossos hábitos e posturas diante do nosso próximo e diante da nossa própria vida, não é mesmo?

Curiosamente, o nome coronavírus é derivado do latim “corona”, que significa coroa ou halo, e se refere à aparência característica em torno das partículas virais, fazendo-nos lembrar imediatamente de alguns textos bíblicos, como por exemplo: “Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória” (1 Pedro 5.4).

A bela palavra “imarcescível”[1] também é utilizada em outro magnífico texto encontrado no primeiro capítulo da mesma carta, 1 Pedro 1.3-9. Não é interessante como, inspirado pelo Espírito Santo, o apóstolo Pedro expressa que mesmo que não consigamos “ver” o Senhor Jesus, podemos ama-Lo e exultar “com alegria indizível e cheia de glória”, “crendo” por meio da fé[2]. Se pararmos para pensar nesta situação com o coronavírus, também não conseguimos “enxergar” ou “ver” esta pequena partícula, pelo menos não a olho nú[3], e mesmo assim podemos verificar os efeitos da sua presença na humanidade, não é mesmo?

De forma interessante e coerente, o mesmo padrão se repete com a estrela[4] do nosso sistema solar (o Sol), com os elétrons[5], com o oxigênio necessário para a respiração dos seres vivos, por exemplo, pois apesar de não conseguirmos “enxergar” (pelo menos, a olho nú), ou então alcançar[6] algumas destas realidades físicas, químicas, biológicas  − que são, neste sentido e contexto, “intangíveis” − nós claramente as percebemos por meio dos seus efeitos indiretos, como por exemplo o calor e a luz do Sol, o choque elétrico proveniente de uma descarga de elétrons, a preservação da vida através da respiração do oxigênio presente não apenas no ar atmosférico, mas também na água (organismos aquáticos). E, infelizmente, também percebemos os efeitos indiretos do intangível no tangível dos sintomas apresentados por pacientes que desenvolvem a doença COVID-19, quando infectados pelo coronavírus.

É algo a se pensar, não é mesmo? Procurando aprofundar biblicamente este conceito de tangibilidade/intangibilidade, é absolutamente fascinante como a realidade intangível se revela no que é tangível, principalmente para quem trabalha em qualquer área da ciência e é, portanto, um estudante da natureza como obra da criação de Deus. O apóstolo Paulo esclarece bem esta questão em Romanos 1.19-22, particularmente no verso 20: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis”. Portanto, se os seres humanos são, de maneira geral, “indesculpáveis”, pois todos têm o conhecimento de Deus por meio das “coisas que foram criadas”, então o cientista, estudante dos detalhes magníficos da obra da criação de Deus, seria ainda mais indesculpável por não o glorificar como Deus, nem lhe dar graças (vv. 21). No primeiro verso do Salmo 19, o salmista parece fazer coro com esta declaração, e suas palavras estão em consonância com esta verdade.

Portanto, temos este efeito tutorial de aprendizado nas coisas tangíveis que nos conduzem, em última instância, ao Intangível, Eterno, Infinito, à Causa Primária… O Senhor Jesus Cristo! Assim, como se isto já não fosse uma tremenda lição de humildade, podemos aprender ainda mais diante desta situação de pandemia com coronavírus.

O diâmetro da partícula viral já foi medido em aproximadamente 120 nanômetros (0,000000120 m), ou seja, cerca de 1.000 vezes menor do que o diâmetro de um fio de cabelo. Além disso, o tamanho do genoma de vírus do tipo dos coronavírus tem aproximadamente 30 mil nucleotídeos. Para efeito de comparação, o genoma humano tem mais de 3 bilhões de nucleotídeos, portanto sendo cerca de 100.000 vezes maior do que o do coronavírus.

Não é impressionante como uma partícula tão pequena quanto esta pode ser uma ameaça tão GRANDE para o ser humano? Isto nos faz lembrar o livro de Jó, não somente pela provação que o Senhor permitiu acontecer ao seu servo Jó, mas pela lição de humildade pela qual ele passou, por exemplo, nos capítulos 40 e 41, quando contemplou animais magníficos e majestosos, que eram contemporâneos e bem conhecidos de Jó[7]: behemoth e leviathan[8].

Parece que nestes dias de pandemia que temos vivido, o Senhor tem nos mostrado que nem são necessários dinossauros vivos, ou seja, animais tão magníficos e majestosos como um behemoth ou um leviathan, para nos mostrar a Sua glória excelsa e majestosa, como Deus soberano, mas é suficiente apenas uma pequena partícula microscópica como um coronavírus, de um tamanho cerca de 1.000 vezes menor do que o diâmetro de um fio de cabelo!

De forma conclusiva, este texto tem o objetivo de despertar uma grande convicção de humildade diante da soberania e da providência de Deus, para que possamos responder, finalmente, como Jó 42.1-6:

“Então, respondeu Jó ao SENHOR:
Bem sei que tudo podes,
e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.
Quem é aquele, como disseste,
que sem conhecimento encobre o conselho?
Na verdade, falei do que não entendia;
coisas maravilhosas demais para mim,
coisas que eu não conhecia.
Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei;
eu te perguntarei, e tu me ensinarás.
Eu te conhecia só de ouvir,
mas agora os meus olhos te vêem.
Por isso, me abomino
e me arrependo no pó e na cinza.”

Soli Deo Gloria


[1] “Incorruptível” ou “que não desaparece”.

[2] Lembrando que o autor aos Hebreus (12:2) define o Senhor Jesus como “Autor e Consumador da fé”.

[3] Não conseguimos “enxergar” o vírus sem o uso de técnicas de microscopia, como por exemplo, a microscopia eletrônica de transmissão.

[4] Apocalipse 22:16b: “Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã”.

[5] Os elétrons estão relacionados diretamente ao fenômeno da eletricidade, com o qual nos deparamos diariamente, por exemplo.

[6] Atingir ou tanger.

[7] Baseado no que o Senhor diz a Jó: “que eu criei contigo” (Jó 40:15).

[8] Transliterações do hebraico para o inglês, na Bíblia KJV.