Um blog do Ministério Fiel
Como respondemos às crises culturais sobre raça
Podemos fazer algo proativo em resposta à crise corrente cultural envolvendo assuntos raciais? O que eu quero dizer com “crise cultural” é a enxurrada de eventos racialmente saturados que têm acontecido em nosso país recentemente. Eventos que trouxeram essas questões de outros lugares menos conhecidos e, pela providência de Deus, as trouxeram para o centro de atenção.
O Mike Brown em Ferguson, o Eric Gerner na cidade de Nova Iorque, o Walter Scott na Carolina do Sul, o Freddy Gray em Baltimore.
Eu quero começar com algo que é bastante óbvio, mas que ainda sim precisa ser dito: Nem todos os americanos negros são os mesmos e muitos americanos negros estão sofrendo muito.
Tendo dito isso, há uma variedade de pontos de vista mesmo dentro da comunidade negra – tem os de Voddie Bauchams e os de Thabiti Anyabwiles, e eles discordam em “como sentir”. Porém, tem sido a minha experiência que a maioria de nós tem sofrido de alguma forma, especialmente nesse último ano.
Então, o que a igreja deve fazer? O que a igreja pode fazer?
Eu quero olhar para uma passagem das Escrituras que pode nos ajudar a considerar essas perguntas difíceis. Em 1 Pedro 3.8, Pedro escreve para os eleitos da igreja e suas palavras também servem para nós. A passagem diz, “Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes.”
De igual ânimo
Eu ouvi dizer que “o evangelho cria ética.” Eu acho que é verdade, mas eu não escuto muitas pessoas aplicarem esse modelo para eventos racialmente saturados. Me perdoe pelas generalizações, mas eu as uso porque elas geralmente são verdadeiras. Me parece que as pessoas brancas sentem que os negros sempre falam sobre raça, e os negros sentem que os brancos nunca reconhecem o racismo.
Isso é desconcertante, e revela uma hermenêutica dividida nas nossas igrejas. Como que cristãos da mesma igreja, olhando para os mesmos eventos e para a mesma Bíblia, chegam a conclusões completamente diferentes? E essas conclusões parecem ser etnicamente divididas. Na sua maioria, os membros negros têm sentimentos diferentes que os brancos nas igrejas. Como que a nossa etnicidade está moldando a nossa ética ao invés da Bíblia ou do Evangelho fazerem isso? Por que discordamos baseado na nossa etnia?
Eu não tenho todas as repostas, mas eu acho que é algo que vale a pena considerar. No melhor cenário isso é estranho, especialmente quando vemos um texto que fala para sermos de “igual ânimo”.
No mínimo, devemos estar lutando por ter a mesma mente. Injustiças raciais são uma imensa parte da nossa história, e elas afetam a nossa vida atual. Mas a Palavra de Deus e o evangelho são relevantes porque existem coisas que a igreja deve sentir junto. Tem coisas que a igreja deve se opor junto, e tem coisas que ela deve apoiar e afirmar junto.
Eu não estou tentado dizer o que exatamente são essas conclusões, mas quero enfatizar a unidade nessas conclusões. E eu acho que pastores têm a responsabilidade de liderar nesse esforço.
Muitos brancos têm tido a liberdade de fingir que injustiça racial não é uma categoria. Os negros não têm essa Liberdade. E essas duas mentalidades estão presentes nas nossas igrejas. E queremos que ela seja unificada.
Escute ao Paulo em 1 Coríntios 1.10 “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer.”
Ou em Filipenses 4.2 “Rogo a Evódia e rogo a Síntique pensem concordemente, no Senhor.”
Irmãos, é importante suplicar e ajudar as nossas congregações a concordarem no Senhor. Eu sei que é mais fácil dizer do que fazer, mas conduzir nossas igrejas para ter a mesma mente em unidade é crucial. Nós não vamos concordar em tudo, mas devemos tentar estar de acordo com a mente de Cristo.
Compadecidos
A companhia necessária para “de igual ânimo” é algo que normalmente falta nessas situações: estar “compadecido”. Uma das coisas que mais me machuca, especialmente nas situações de Mike Brown e Eric Garner, foi a falta generalizada de compaixão e preocupação pastoral. Eu recebi várias ligações de meus irmãos e irmãs em Cristo que são negros e em igrejas de liderança branca sobre como eles estavam sofrendo pelo fato que esses problemas não foram abordados. Não falaram com eles sobre essa situação, e não os procuraram em seu sofrimento.
Pastor, ser você não comentou publicamente em sua igreja sobre o tornado de Ferguson, eu acho que isso foi pastoralmente irresponsável. Por quê? Porque a providência divina fez desse um tema de todos. Ele tem tirado circunstâncias de cantos obscuros onde não sabíamos de nada e as colocou na frente de todos, repetidas vezes. E irmãos, só porque vocês estão calados não quer dizer que todos também estão.
E pastores, tem algumas respostas aos que sofrem que infligem mais do que o silencio.
Em várias dessas situações, há uma incrível falta de compaixão. Nós somos chamados por Deus para sofrer com os que sofrem. Nós somos chamados a ver a situação dos outros, entender, sentir e compartilhar. Eu não quero dizer que o pastor vai até esses membros e fala para eles não sofrerem, eu sugiro que o pastor vá até eles e aprenda a sofrer com eles. Talvez você não tem nada a ensinar nesse cenário. Tudo bem. Mas a principal coisa que você pode fazer é modelar como é ser lento para falar e rápido ao ouvir.
Nesses últimos meses, você tem escutado aos negros da sua congregação? Você tem tido conversas com eles? Você tem dito “Me conte, como você está sentindo?” Você os reuniu e conversou com eles?
Diversidade sem compaixão resulta em assimilação. Diversidade com compaixão é a chave para união. O primeiro diz, “Fiquei aqui conosco – mas não nos importamos muito como você está. Só fique aqui.” E o último diz algo muito diferente: “Venha aqui, e nos afete.”
Fraternalmente amigos, misericordiosos
Às vezes, eu não entendo qual é a confusão toda em termos de como responder às diferenças raciais. O amor fraterno é para ser simples. Devemos amar uns aos outros como se fossemos uma família – porque somos. Não há somente negros nas nossas igrejas, há irmãos e irmãs negros nas nossas igrejas. Eles são nossa família. Em Cristo, nos tornamos a própria família de Deus. E em Cristo, a nossa qualidade de sermos da família de Deus é maior, mais íntima e mais permanente do que a nossa identidade étnica.
Nós somos co-herdeiros uns com os outros, membros uns dos outros. Isso é importante porque assuntos raciais especialmente tendem a nos separar e dividir. E a forma como você ama o seus irmãos negros pode confrontar essa mentira, tentando superá-la com o evangelho, ou pode espalhar a mentira e tentar separar o que Deus uniu.
Você é um irmão ou irmã para aqueles que sofrem? Você tem um coração moldável? Você se comove? Você se importa? Você é afetado quando as pessoas estão sofrendo? Você se importa pelo que eles estão passando? Você se irrita quando alguém fala de justiça social? Quando você escuta “racismo sistêmico” você fica bravo? Eu entendo que você pode se sentir acusado, mas eu não acho que esse é o objetivo.
Tem um motivo pelo qual as pessoas estão falando que vidas negras importam, e não é porque todos os brancos odeiam vidas negras. Você se importa por que as pessoas falam coisas desse tipo, por que eles sentem que suas vidas têm menos valor? Há compaixão por elas? Quando nossos irmãos e irmãs compartilham sobre a experiência deles nesse país ou em sua igreja, o seu coração se compadece deles?
Uma conversa simples e amorosa tem muito impacto, especialmente em moldar corações.
Humildes
Nós estamos falando sobre amor aqui – Cristianismo básico e fundamental. Claro, o cenário ao redor está repleto de desafios raciais, mas as instruções de amor são as mesmas.
Escute como Paulo conecta a nossa humildade com a de Cristo: “Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,” (Filipenses 2.1-5)
Em outras palavras, Paulo está dizendo, “Seja como o Senhor Jesus!” Como pastores, vocês devem liderar nesse quesito. Devem liderar em imitar àquele que não estava na nossa situação, mas se sentiu compelido a vir até nós. Ele sofreu como nós, e sofreu conosco. Tem poucos encorajamentos que são mais valiosos que o fato de que não temos um sumo sacerdote que não é capaz de se compadecer com a nossa fraqueza, mas um que foi tentado assim como nós.
Então, de várias formas, eu só estou pedido aos pastores para amarem as pessoas que Deus os deu como Jesus. Ame como Jesus ama.
Nota do Editor: Este texto foi publicado pelo autor considerando o contexto americano, porém nós, do Ministério Fiel, cremos que seu ensino geral é importante também para o nosso contexto.