Um blog do Ministério Fiel
Racismo como favoritismo
Mesmo com a recente onda de atenção dada às questões de raça e etnia, qualquer tentativa de entrar em uma conversa sobre esses assuntos vem com certo grau de timidez: Posso dizer isso? Posso usar essa palavra? Como ele vai responder se eu perguntar sobre…? Nossa relutância em abordar sobre racismo e ceder ao silêncio “seguro” muitas vezes vem de um desejo de respeitar os outros, mas também de nosso próprio medo de sermos chamados de insensíveis, ofensivos ou, pior, racistas.
Esse termo vem com tanto peso e culpa que as pessoas não se identificam com ele. Existem poucos racistas assumidos, embora muitos em nosso país e em nossas igrejas realmente enfrentem o racismo. Se formos honestos com nós mesmos e avaliarmos nossas ações e coração, poderíamos ficar surpresos (ou talvez não tão surpresos) ao ver onde lutamos com os pecados do favoritismo, parcialidade e preconceito racial. Portanto, embora vamos definitivamente nos concentrar aqui no racismo, mantenhamos essas outras tentações em mente.
Pecado de parcialidade e favoritismo
Tiago desafiou os cristãos sobre seu pecado de parcialidade. Esses cristãos preferiam os ricos que vinham à congregação ao invés dos pobres. Eles prestavam atenção aos visitantes que chegavam com “roupas finas” e “anéis de ouro”, dando-lhes tratamento preferencial, enquanto essencialmente ignoravam aqueles que vinham com “roupas surradas.” Tiago os repreende, dizendo: “Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas… Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem; se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo arguidos pela lei como transgressores.” (Tiago 2.1,8-9).
O problema pra Tiago não era que esses visitantes eram ricos. A riqueza não é um pecado. O problema é que alguns na igreja achavam que os ricos eram melhores do que os pobres. Eles exaltavam esses homens acima dos outros. A preferência deles não era porque se sentiam honrados em receber convidados; sua preferência era motivada pelo orgulho. Eles preferiam os ricos presentes aos pobres, e o tratamento dado aos pobres refletia o que pensam deles.
No entanto Deus não vê o homem pelos padrões materiais, do mundo. Tiago explica: “Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam?” (Tiago 2.5). Deus é o Criador. Deus criou o homem igualmente, à sua imagem. E então ele enviou seu Filho para morrer por nós. Além do fato que Jesus amava os pobres, órfãos, viúvas, cobradores de impostos e prostitutas, ele morreu por aqueles que não eram seus amigos. Sua imparcialidade é absoluta, extrema. Sua morte não foi por seus amigos ou por aqueles iguais a ele. Jesus deu sua vida por seus inimigos. Isso é incrível.
Nossa aparência externa não tem relação nenhuma com o evangelho. Em Gálatas lemos: “Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gálatas 3.28). Esses versículos teem sido mal interpretados e posso ver por que. Paulo não está dizendo que esses vários papéis ou descrições (judeu, grego, homem, mulher, etc.) não existam mais. Em outras palavras, eles mantêm suas várias funções, mas em Cristo somos todos iguais. No evangelho não há superioridade. No evangelho não há cor. Somos iguais na criação e iguais na redenção. O evangelho introduz a nova aliança, não mais exigindo que os crentes se tornem judeus ou sigam a Lei Mosaica – porque os cerimoniais não salvam.
Assim sendo, ser judeu ou grego não tem distinção no evangelho. No entanto, sejamos honestos, nós fazemos acepção e julgamentos baseado nessas diferenças.
Preconceito racial e favoritismo
Já escrevi anteriormente que os cristãos devem avaliar seus corações para ver se o orgulho e auto-louvor tem alimentado o pecado do racismo ou do favoritismo racial dentro de si. Sei que essa forma de favoritismo está viva e bem, pois tenho encontrado pessoas que me dizem lutar contra isso. Durante o ano passado, estive envolvida com irmãos e irmãs que estão dispostos a enfrentar seus pecados, se arrepender e pedir a Deus força para mudar. Muitas dessas pessoas, eu acredito, continuariam a ser complacentes em seus pecados se algumas igrejas e organizações não tivessem se tornado mais claras sobre questões raciais. Quando estamos dispostos a ter conversas difíceis e às vezes desagradáveis, Deus age por meio delas. Agora, devemos avançar na conversa e mergulhar mais fundo no coração para poder construir o tipo de igrejas que exibem o tipo de ministério que transcende a raça, como encontrado no evangelho.
Então, o que é preconceito racial? O preconceito racial vem como uma questão de instinto. Qual é sua reação quando vê alguém que parece ser descendente do Oriente Médio embarcando em seu vôo? Se você está caminhando em uma área urbana e um grupo grande de negros se aproxima, o que você pensa? Você se sente um pouco inquieto quando alguém de sua etnia se casa com alguém de outra raça? Todos os seus amigos se assemelham a você? Você prefere que o garçom do restaurante, seu pastor, melhor amigo, as bonecas de sua filha, os cônjuges de seus filhos, o eletricista que chega à sua porta, ou o personagem principal de um filme tenham a mesma cor de pele que a sua? Esses preconceitos podem ser instintivos, e podem ser produto de nosso favoritismo racial. Somos facilmente influenciados pela cultura – o que lemos, vimos ou ouvimos mas não experimentamos – e pelas atitudes e sistemas de crenças de gerações passadas. Para ver a reconciliação e o progresso em nossa nação, comunidades e igrejas, devemos reconhecer que o favoritismo racial é de fato uma possibilidade para todos e cada um de nós. Devemos então lutar contra as suposições dos outros e aprender a fazer boas perguntas.
O problema do favoritismo racial é que muitas vezes acreditamos em nosso preconceito e reagimos de acordo. Isso pode levar a todos os tipos de erros e desafios dentro do corpo de Cristo. Se acreditarmos, por exemplo, que todos os jovens negros são “fora-da-lei”, como isso poderia afetar a maneira como nos relacionamos com um jovem negro que entra em nossa congregação? É verdade que os índices de criminalidade são altos na comunidade negra, mas não é verdade supor que todos os homens negros (ou pessoas negras em geral) pertençam àquela categoria. Se aceitarmos a suposição, mostramos preconceito e não tratamos esses homens como irmãos e homens feitos à imagem de Deus. Nós devemos combater essas generalizações, conhecendo verdadeiramente nosso semelhante que foi feito à imagem de Deus… ao invés de partir do pressuposto de que essa pessoa é um terrorista, bandido, etc.
Se tratarmos aquele jovem entrando na igreja como um estereótipo ou uma estatística, há algumas possibilidades: 1) nós poderíamos ficar com medo e não nos aproximar; 2) poderíamos começar a vê-lo como um projeto a ser consertado ao invés de um irmão a ser amado; e 3) poderíamos assumir nossa suposição e começar a tentar lidar com nossas idéias concebidas, em vez de formular boas perguntas para conhecer nosso semelhante feito à imagem de Deus*.
Cabe a nós reconhecer essas suposições problemáticas e abordar nossa ignorância. Embora a falta de compreensão por trás de muitos preconceitos raciais não seja necessariamente pecaminosa, ela pode levar a uma mentalidade antibíblica que nos favorece racialmente em detrimento do próximo. Uma vez que o preconceito causa julgamento injustificado, ansiedade ou medo, ele nos atormenta como um pecado. Arrependa-se deste pecado. Encontre liberdade da ansiedade e do medo, e celebre o poder unificador do evangelho e destruidor do favoritismo.