Sobre a Dieta de Worms e a fraqueza de um homem

Hoje completa-se um dia histórico na história da Reforma. Há exatos 500 anos o monge agostiniano Martinho Lutero comparecia diante da convocação feita pelo imperador do Sacro Império Romano Germânico, Carlos V, para defender-se diante da acusação de heresia. A chamada Dieta de Worms (Reichstag zu Worms).

Na realidade, a dieta já estava em andamento desde o dia 28 de janeiro de 1521, mas somente no dia 16 de abril Lutero foi chamado às defender-se das acusações. Diante dele estava o imperador, que presidia a reunião, bem como o seu porta voz, o alemão Johan Eck, que dirigiu-se ao reformador com as seguintes perguntas: 1. Se os livros sobre a mesa (talvez entre eles havia uma cópia das 95 Teses) pertenciam a ele, e 2. Se ele estava pronto a renunciar ao seus escritos.

Da resposta de Lutero, muita coisa dependia. Especialmente a sua vida. O monge agostiniano sabia que um século antes, em 1415, outro questionador da igreja havia sido executado por heresia: Jan Huss. E isso aconteceu mesmo tendo ele salvo conduto de que não seria morto na reunião em que havia sido convocado, o Concílio de Constança. Ou seja, caso sua resposta fosse contrária à esperada pelos seus questionadores, sua vida valeria muito pouco.

A foto acima fica na cidade de Worms, em um parque muito tranquilo e bonito, próximo ao centro da cidade, onde provavelmente estava o local onde a reunião aconteceu. Naquele dia 18 de abril de 1521, Lutero reafirmou a autoria dos escritos, mas não negaria o conteúdo deles. Ao lado esquerdo, no chão, é possível ver dois sapatos feitos de bronze, um memorial onde Lutero disse as suas famosas últimas palavras em resposta a Eck: “Hier stehe ich, und ich kann nicht anders. So Gott mir helfen”. (Aqui estou e não posso [falar] de outra forma. Que Deus me ajude.)

Embora essa frase tenha ficado tão firme na história como o bronze do monumento, não há nenhuma confirmação histórica de que Lutero realmente as tenha dito. Elas não constam nos registros da Dieta, nem mesmo nos relatos das testemunhas oculares do evento. Mas outro detalhe ainda é digno de nota nesta história: sempre quando vemos os filmes de Hollywood, ou as descrições de Lutero diante do Imperador, vemos-no de maneira imponente, com o dedo em riste, bradando as suas palavras em alta voz, enquanto o público ao redor aplaude o seu discurso inflamado. Nada mais longe da verdade. A realidade é que quando Eck encurralou Lutero na dieta de Worms, perguntando se ele iria negar os seus escritos, o grande reformador respondeu:

“Poderia me ser concedido, 24 horas para pensar?”

Frustrante não é mesmo? Entre o dia 16 de abril da pergunta fatídica, e o dia 18 de abril da resposta, houve o dia 17 de abril da angústia e do medo. E os sentimentos de pavor eram motivados pela possibilidade de que ele estivesse errado, e que sua vida estaria em risco por um equívoco.

O fato, é que Lutero era um homem comum. Suscetível aos mesmo sentimentos vacilantes que nos assaltam. A impressão que eu tenho, é que criamos esses heróis em nossas mentes, como se eles fossem uma projeção de quem queremos ser, ou o exemplo a quem devemos seguir. Mas Lutero era um homem do seu tempo, apenas um vaso de barro onde foi depositado o tesouro precioso do Evangelho de Cristo. Lutero por pouco não fraquejou, e sua batalha só teve o final que nós conhecemos, porque quem o sustentava era a verdadeira Força, o seu castelo forte, o SENHOR dos Exércitos.

Que o poder de Deus se aperfeiçoe em nossas fraquezas, assim como foi com aquele monge há exatos 500 anos.


Recursos relacionados

• Livro: O legado de Lutero – R. C. Sproul & Stephen Nichols
• Livro: Além das 95 teses: A vida, o pensamento e o legado de Martinho Lutero – Stephen Nichols
• Curso: Lutero e a Reforma – R. C. Sproul
• Curso: A Reforma em 5 Solas – Stephen Nichols
• Curso: Terras da Reforma – Franklin Ferreira, Jonas Madureira e Tiago Santos