Um blog do Ministério Fiel
Três lições de uma recente transição pastoral
“Você é o pastor dos adolescentes ou o pastor dos universitários?”
Quando conheço alguma pessoa nova e ela descobre que sou um pastor, essa é a pergunta que mais recebo. E a pergunta faz sentido! Eu ministro em uma igreja com três congregações de línguas diferentes (Inglês, Chinês Mandarim e Chinês Cantonês) e num contexto cultural em que a idade é grandemente valorizada. Como um jovem de trinta e pouco anos, não me encaixo no perfil típico de pastor sênior. Contudo a história de como me tornei um pastor sênior também não foi nada típica.
No verão de 2015, eu estava terminando o seminário no estado de Kentucky quando o nosso antigo pastor da California nos ligou. Ele tinha servido como o pastor sênior por 20 anos e estava pensando sobre o seu futuro. A proposta: voltar para lá e servir na igreja, e transferir a posição de pastor sênior lentamente para mim. Minha esposa e eu nos sentimos muito honrados com a proposta, e depois de muita oração e conselhos, decidimos dizer sim.
Nós inicialmente planejamos para uma transição de 3 – 5 anos, mas o Senhor tinha outros planos. Em 2017, nosso pastor sênior recebeu uma oportunidade incrível de servir internacionalmente que requereria que ele saísse imediatamente. O resultado foi que com só quinze meses de experiência de pastorado, a igreja me chamou para substituí-lo como o pastor da igreja congregacional em Inglês. Um ano depois eles me chamaram para ser o pastor sênior.
Deus tem sido incrivelmente gracioso nessa transição toda. Eu não vou fingir que tenho todas as respostas ou que o meu ministério não tem nenhum erro. No entanto, na esperança de que a graça que recebi possa beneficiar a outros, ofereço algumas das lições que aprendi nessa transição.
Para o pastor que está chegando: assuma suas incompetências
Um amigo meu me deu esse conselho quando entrei no ministério pastoral. Como pastores, nós devidamente reconhecemos o dever sagrado com o qual fomos confiados (1 Tm 3.1-7). Todavia, o peso dessa responsabilidade pode nos tentar a fingir que está tudo certo. No contexto cultural chinês, a tentação de esconder nossas fraquezas para salvar nossa cara pode ser particularmente difícil.
Quando assumi o papel de pastor sênior, eu queria provar que a confiança que a igreja tinha posto em mim não tinha sido em vão. Mas a verdade é que ninguém – incluindo a mim – é competente por si só para administrar os mistérios de Cristo (2 Co 2.10). Além do mais, é o Cristo ressurreto, não um pastor, que é a pedra angular da igreja (Ef 2.20). Por lembrar disso, eu sou livre da pressão de ter que me desempenhar bem e ao invés disso posso livremente admitir que sou inexperiente, falho e fraco. Eu estou livre para pedir ajuda para que o poder de Cristo esteja sobre mim (2 Co 12.9).
Pastor, se você se encontrar em uma posição como a minha, lembre-se: assuma suas incompetências e aponte a igreja à Cristo.
Para a igreja em transição: ofereça oportunidades reais
As igrejas as vezes são relutantes a dar muitas responsabilidades para novos pastores. Num contexto de imigrantes, juventude e inexperiência são normalmente vistas como um obstáculo. Portanto, muitas igrejas imigrantes preferem trazer um pastor mais velho e com experiência para pastorear o rebanho. Todavia, se é esperado que os pastores progridam em seu ministério (1 Tm 4.15), eles devem começar em algum lugar. Eu não consigo pensar em nada melhor para o crescimento de um pastor inexperiente do que uma igreja que vem ao seu lado com amor e suporte.
Antes mesmo de me tornar pastor sênior, tive oportunidades reais de pastorear (1 Pe 5.2). Eu preguei no púlpito dominical, me encontrei com membros, e ensinei em vários contextos. Ao decorrer do caminho, a igreja encorajou a mim e minha família e graciosamente suportou alguns erros crassos. E por fazer isso, nossa igreja me ensinou que em última instância eles não confiavam nas minhas habilidades ou experiências, mas em Cristo (2 Co 4.7).
Então igreja, se você se encontrar na mesma posição que nós, lembre-se: ofereça oportunidades reais e continue a apontar a igreja à Cristo.
Para o Pastor de Saída: Abra Suas Mãos
A idéia de passar a sagrada responsabilidade de pastorear uma igreja local para um pastor jovem e inexperiente pode parecer inimaginável, especialmente no contexto imigrante. Como resultado, o pastor de saída pode ser tentado a segurar a sua posição firmemente e resistir ajudar o pastor que está a ocupar seu lugar. Ele pode sutilmente comunicar à igreja que ele não confia muito no novo pastor, o que pode resultar em uma batalha desafiadora para o novo pastor logo de início.
Graças à Deus, nunca senti nada disso do nosso pastor sênior. Eu poderia escrever vários artigos expressando minha gratidão e admiração por ele. Em respeito a essa transição, são a sua mentoria e afirmação que se destacam. Nós tivemos reuniões todas as semanas e ele me ajudou a crescer como pastor. Ele me convidou a fazer perguntas e até a discordar dele. Ele me encorajou e sempre me elogiou na frente da igreja. Quando ele saiu, ele me entregou tudo o que tinha e não levou nada consigo. Ele foi um exemplo dessa verdade: a igreja não é sobre nenhum pastor, mas sobre Cristo (Ef 3.21).
Pastor, se você estiver numa posição em que você pode compartilhar de si mesmo para investir em outro pastor, lembre-se: abra suas mãos e aponte a igreja para Cristo.
Conclusão
Transições não são fáceis, e seu contexto cultural pode trazer desafios únicos à sua igreja. As transições nos lembram que a igreja fundamentalmente pertence a Cristo. Somente ele é seu Salvador. Ele se entregou por ela em amor (Ef 5.25). Um pastor, então, é nada mais do que um instrumento de graça usado por Cristo para pastorear o rebanho à si mesmo. É por isso que devemos lembrar de nossos líderes, aqueles que compartilharam a palavra de Deus conosco. E é por isso que devemos considerar o resultado de sua vida e imitar sua fé. E mesmo assim, quando líderes saem e entram, como de fato deve acontecer, nós devemos nos lembrar disso: Jesus Cristo é o mesmo – ontem, hoje, e para sempre (Hb 13.7-8).