Um blog do Ministério Fiel
A Cura Dupla
Um par de versos do hino “Rocha Eterna” que Augustus Toplady escreveu no século XVIII aborda o que a expiação de Cristo realiza na vida do cristão: “Seja a cura dupla do pecado, salve-me da sua culpa e poder”. Um olhar sobre a vida e ensinamentos de outra rocha, o Apóstolo Pedro (Petros significa “rocha”), nos mostrará uma visão sobre o significado desses versos comoventes.
Pedro, o Homem
A imagem que temos de Pedro nos evangelhos é de um discípulo que teve dificuldades em mudar seus hábitos. Às vezes ele era atrevidamente presunçoso (Mt 16.22; 17.3-4; Mc. 14.29) mas também era zeloso pela honra do Senhor (Lc 22.49-50). E, o seu pior defeito, ele foi um negador de Cristo (Jo 18.15-18, 25-27).
Entre os evangelhos e suas epístolas há uma mudança. Depois de Pedro ser restaurado em João 21.15-19, ele surgiu no cenário da igreja primitiva com intrepidez dando testemunho de Cristo. Além do mais, em suas cartas, ele não é mais o apóstolo hesitante, ele é um crente maduro chamando outros crentes à maturidade.
Que poder atuou em sua vida efetuando tal mudança? Claro, nós podemos apontar o Espírito Santo plantando sementes que produziram frutos cada vez mais visíveis na personalidade de Pedro. Mas há um critério objetivo que podemos apontar, para o qual o próprio Pedro apontou: o sangue de Cristo.
A mensagem de Pedro
Quando Pedro escreve sua primeira carta, ele se dirige a um grupo diversificado de Cristãos espalhados em toda Ásia Menor (atual Turquia) e celebra a obra do Deus triuno em suas vidas: o Pai os conheceu de antemão, o Espírito os santificou e Jesus Cristo os aspergiu com seu sangue (1.2).
A linguagem de aspersão relembra as imagens do Antigo Testamento que ligavam o sangue com o perdão do pecado. Três dessas passagens nos ajudarão a entender a mensagem de Pedro sobre o sangue da crucificação de Cristo.
Levítico 4 é permeado pela preocupação do pecado humano e sua culpa diante de Deus. No entanto, também é igualmente repleto da graça demonstrada por Deus ao providenciar a remoção da culpa através da oferta pelo pecado. O sacerdote abatia um novilho e aspergia seu sangue sete vezes diante do Senhor (vv. 6, 17). O resultado seria a expiação e perdão do pecado.
Êxodo 12 ocorre em meio às pragas do Egito, pela recusa do Faraó em deixar o povo de Deus partir. A praga final é a matança dos primogênitos em toda terra. O único jeito de evitar esse horror seria que o povo de Deus matasse um cordeiro imaculado e colocasse o seu sangue nos umbrais das portas (vv. 3-13)
O resultado: Deus em seu julgamento “passaria sobre” a casa marcada pelo sangue — o cordeiro, ao morrer, receberia o julgamento em vez dos que estavam dentro.
Êxodo 24 fornece uma imagem vívida da expiação de sangue. Moisés confirma a aliança entre o Senhor e seu povo escolhido, momento no qual o povo prometeu obedecer as palavras da aliança, e, em resposta, eles e o altar foram aspergidos com o sangue da aliança. (v.8). Isso simboliza que, apesar da promessa do povo em obedecer, havia uma provisão para a desobediência — uma cobertura de expiação.
Cada uma dessas três passagens são cumpridas em Cristo. Ele é a nossa única e definitiva oferta pelo pecado que remove eternamente a culpa de nosso pecado diante de Deus (Hb 9.11-12). Ele é nosso substituto (1 Pe 3.18), o cordeiro imaculado por cujo sangue nossa culpa é removida para que Deus passe sobre nós no julgamento (1 Pedro 1.19). E seu sangue é a provisão para nossa constante batalha de imperfeitamente mortificar o pecadoo e buscar a obediência a Jesus Cristo. Curiosamente, 1 Pedro 1.2 menciona “a obediência a Cristo Jesus” além da “aspersão”.
Quando Pedro fala, então, da “aspersão do sangue”, ele está dizendo aos cristãos que seu registro de culpa foi coberto pelo sangue. Deus não o vê mais, e portanto, em seu julgamento, ele passa por cima das acusações. Pelas feridas ensanguentadas de Cristo nós fomos “curados” (1 Pe 2.24). Essa é a primeira “cura” que Toplady quer que cantemos.
As implicações de Êxodo 24, no entanto, começam a apontar para a segunda “cura” da expiação de Cristo: por meio do seu sangue reconhecemos a provisão contínua para o pecado na vida cristã para que nossas transgressões não sejam apontadas contra nós. Na verdade, com a consciência lavada da culpa pelo sangue (Hb 9.14), nos é concedida uma liberdade poderosa para buscarmos a obediência.
Pedro aponta para essa direção quando ele escreve, “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados” (1 Pe 2.24). Por causa do sangue expiatório da cruz, buscamos justiça. Mas nós não fazemos isso de forma irreal, como se nós não necessitássemos do perdão contínuo pelos pecados que marcarão nossas vidas até que Cristo retorne. Não o fazemos com medo, como se os nossos esforços fossem construídos sobre nossa própria fundação em ruínas. Em vez disso, nós buscamos a justiça com esperança, sabendo que podemos resistir ao pecado pelos esforços construídos sobre o alicerce firme do sangue expiatório e capacitados pelo Espírito Santo. Assim como o sangue de Êxodo 24 constituiu o povo de Deus para que eles pudessem começar sua obediente peregrinação até a terra prometida, o sangue de Cristo da nova aliança nos constitui como um povo perdoado que anda em direção a Deus em santidade e obediência.
Pedro sabia que a crucificação tinha limpado sua culpa (1 Pe 5.1). Ele sabia que pelo poder do sangue ele poderia “resistir” ao diabo e buscar obediência (v.9). Aspergido com o sangue, Pedro cada vez mais morria para o pecado e vivia para a justiça. O resultado: o discípulo que antes era impetuoso e imaturo se tornou um discípulo arrependido e maduro — salvo da culpa e cada vez mais salvo do poder do pecado.