Apropriando-se dos meios de graça

Os meios de graça destacam a necessidade da igreja na vida cristã. O Senhor não nos criou para viver a vida cristã sozinhos. Tem sido observado que crentes são como carvões em brasa. Sozinhos eles se apagam, mas juntos eles mantêm viva a chama [1]. O culto público é o lugar onde nós entramos na presença especial do Deus onipresente (Sl 113.4; 139.7). Quando o Pai reúne sua família, Cristo fala a eles através da pregação da Palavra (Rm 10.11–17; Ef 2.17) conforme oferecemos nossas orações pelo Espírito e nos deleitamos na presença de Deus nos sacramentos. Não deixar de nos congregar (Hb 10.25) significa mais do que simplesmente estar com outros cristãos. As assembleias públicas da igreja sob seus oficiais são onde nós recebemos os meios para nos sustentar na salvação. Nós precisamos nos apropriar e usar os meios de graça pela fé, preparando-nos  para recebê-los e estudar suas naturezas e uso a partir da Escritura.

Os meios de graça são inúteis sem fé. É impossível agradar a Deus sem fé (Hb 11.6). A fé envolve crer nas promessas de Deus em Cristo e esperar suas bênçãos pelo Espírito. Os meios de graça não funcionam automaticamente; eles são instrumentos através dos quais nós recebemos graça, não máquinas que produzem graça. Usar os meios de graça para perseverar na salvação nos faz depender do Deus triuno. Nós confiamos no Pai que nos escolheu para salvação, no Filho que comprou nossa salvação, e no Espírito que aplica a salvação e nos leva para a glória. Nós fomos salvos (Ef 2.8), estamos sendo salvos (1 Co 1.18) e seremos salvos (1 Pe 1.5). O Espírito invencivelmente preserva a vida eterna que temos em Cristo (João 14.16; Fp 1.6). “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” [2] (Mt 24.13; ver também Ap 3.21). A vitória pela qual nós vencemos o mundo é a fé (1 João 5.4) porque pela fé nós recebemos Cristo (Cl 2.6), que é a nossa sabedoria de Deus, justiça, santificação e redenção (1 Co 1.30). Quem crê em Cristo será salvo (Joel 2.32; Atos 2.21), mas se não crermos então não permaneceremos (Is 7.9). Os meios de graça são valiosos porque nós temos comunhão com Deus através deles. Se formos à igreja para nos sentirmos religiosos ou reverentes, mas não tivermos nos encontrado com o Deus triuno, então nós devemos contar tudo como perda. Fé é o meio pelo qual nós nos aproximamos do Deus que se aproxima de nós nos meios de graça. Nós queremos conhecer melhor o Pai conforme nos deleitamos na comunhão com ele através de Cristo no poder do Espírito? Deus designou os meios de graça para criar uma via de mão dupla entre o céu e a terra. Deus se aproxima de nós pelos meios, e nós nos aproximamos dele pela fé.

No entanto, exercer a fé requer preparação e meditação. Fé envolve a pessoa inteira em nossas mentes, corações e vontades. Precisamos saber no que devemos crer e o que devemos fazer. Precisamos de corações que amam o Pai, que nos amou e nos deu seu Filho (1 João 3.16–18). Precisamos de afeição por Deus forjada pelo Espírito e precisamos submeter nossas vontades à dele. A fim de nos beneficiarmos ao máximo dos meios de graça, devemos preparar nossos corações para encontrar Deus neles no culto público. A Bíblia presume que cristãos meditam (Sl 1.2; 119). Isso significa pensar biblicamente, claramente, cuidadosamente e devocionalmente sobre a glória de Deus conforme ele revela a si mesmo em sua Palavra e obras. A meditação faz diferença na vida cristã. Nós vamos ao culto sabendo as promessas de Deus de nos encontrar lá? Nós sabemos o que o agrada e pensamos a respeito do que ele está fazendo e o que nós estamos fazendo quando vamos ao culto? Nós esperamos ouvir a voz de Cristo na pregação da Palavra? Nós nos deleitamos no amor do Pai que ressuscitou seu Filho dos mortos e que nos conduz a celebrar esse fato todo primeiro dia da semana? Apesar do Espírito ser soberano, operando em diferentes medidas em momentos diferentes, nós esperamos que ele seja fiel em nos levar a Jesus através dos meios de graça? Em suma, através da preparação e da meditação, nós tiramos o foco de nós mesmos quando usamos os meios de graça e o redirecionamos ao Deus triuno. O que poderia ser mais proveitoso para nossas almas? O preparo para receber os meios de graça nos ensina a viver como Deus quer que vivamos: para sua glória, com outras pessoas, para a salvação das nossas almas.

Tanto a fé quanto a preparação requerem estudo. Muitas vezes, crentes querem estudar como entender melhor a Bíblia. Isso é bom, contanto que estudemos a Bíblia por causa de Deus ao invés de o fazermos para satisfazer nossa curiosidade e sede por conhecimento somente. O cristianismo pode facilmente se concentrar na minha justificação, minha adoção, minha santificação e minhas provações e alegrias. O cristianismo não é meramente entender corretamente uma lista de benefícios, mas sobre conhecer o Deus certo da forma certa (João 17.3). Os meios de graça nos lembram que tudo que importa na vida resume-se em ver a glória de Deus na face de Jesus Cristo (2 Co 4.6). Quando pensamos a respeito de pregação e sacramentos é fácil de pensar que estes são “serviços” do pastor e que eles não nos tocam pessoalmente. Se a pregação, os sacramentos e a oração pública são meios que o Deus triuno nos deu, então não deveríamos estudar os meios de graça e o seu papel na vida cristã e encorajar pastores a promovê-los em seus ministérios públicos? Outras instituições nos oferecem benefícios exteriores nessa vida. Apenas a igreja nos dá Deus, e Deus se revela a nós através dos meios de graça. O mundo oferece saúde, riqueza e prosperidade; Deus oferece ele próprio no e pelo ministério da igreja. Os meios de graça são caminhos nos quais nós devemos buscar e encontrá-lo. Quando foi a última vez que você leu um livro sobre a pregação da Palavra? Você estuda os sacramentos? Você cultiva a oração, em secreto, em família e no culto público?

Os meios de graça promovem a fé e vida cristã, e eles nutrem esperança cristã. O resultado final é amar a Deus e ao próximo. Assim como perecemos sem comida e água, perecemos sem receber Cristo como nossa comida e bebida espirituais (João 6.53). Ainda que os meios de graça sejam simples e por vezes aparentemente ordinários, Deus opera coisas grandiosas através deles. Na nossa santificação, nós devemos esperar progresso lento mas contínuo (na maior parte do tempo). Raramente há soluções rápidas para o pecado, e saltos gigantes na santificação são incomuns. Deus livra algumas pessoas instantaneamente de pecados que estão profundamente firmados em suas vidas, mas na maior parte do tempo nós precisamos lutar para destruir as obras da carne pelo Espírito (Rm 8.13). O Deus triuno usa os meios de graça para destruir o pecado em nós e nos conduzir em caminhos de justiça por amor do seu nome (Sl 23.3). Faltar na igreja é como pular refeições. Cada refeição pode não ser espetacular, mas todas elas juntas nos mantêm vivos. Nós muitas vezes não sabemos o quanto crescemos pelos meios de graça até que os negligenciamos ou os perdemos.

O Senhor usa os meios de graça para nutrir vida espiritual em Cristo. Pela fé, devemos esperar que o Espírito abençoe os meios que o Pai escolheu. Devemos nos preparar para receber os meios de graça através de estudo e meditação. Nós devemos confiar em Deus para usar os meios para nos levar ao Salvador ao invés de confiarmos nos meios e não no Salvador. Olhemos para o Senhor nos meios de graça para nutrir a obra da fé, o labor do amor e a paciência da esperança (1 Ts 1.3) conforme nós confiantemente perseveramos até o final da nossa carreira (Hb 12.1). Jesus é o pioneiro e o fim da nossa fé, e ele irá firmar nossos pés em lugares espaçosos (Sl 31.8) conforme nós usamos os meios que ele designou para andarmos com ele.

Por: Ryan M. McGraw. © Ligonier Ministries. Website: ligonier.org. Traduzido com permissão. Fonte: Appropriating the Means of Grace.

Original: Apropriando-se dos meios de graça. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Alex Motta. Revisão: Pedro Henrique Lima de Oliveira.