Um blog do Ministério Fiel
Jesus, o verdadeiro e maior jardineiro
As Escrituras nos contam que o Filho de Deus começou seus sofrimentos em um jardim e os terminou em um jardim. Isso é uma demonstração absolutamente extraordinária da sabedoria de Deus. Afinal, Jesus é o segundo Adão desfazendo o que Adão fez e fazendo o que Adão falhou em fazer (Romanos 5.12-21, 1 Coríntios 15.47-49). Ele é o Noivo Celestial, entrando em seus sofrimentos em um Jardim para a redenção de sua noiva, a Igreja. Ele é o Jardineiro Celestial, se entregando ao cultivo das almas de seu povo por meio de seu sacrifício expiatório e intercessão contínua. Quando ele estava pendurado na cruz, ele falou da glória sob o nome “Paraíso” – uma alusão evidente ao paraíso no qual nossos primeiros pais viveram, o paraíso do qual eles caíram. Ele é o segundo Adão que ao derramar seu sangue garantiu a Nova Criação. À medida que consideramos os duplos sentidos do quarto evangelho, chegamos aos que tratam especificamente da teologia bíblica do segundo Adão no jardim. Considere o significado teológico dos dois seguintes jardins nos quais Jesus levou a cabo a obra da redenção:
1. Jesus começa seus sofrimentos em um Jardim para mostrar que Ele veio desfazer o que Adão havia feito. Em seu comovente livro “Olhando para Jesus”, Isaac Ambrose explicou o sentido teológico do tema ‘Jardim’ nos evangelhos — ambos se referindo ao início dos sofrimentos de Cristo no Jardim do Getsêmani e ao fim de seu sofrimento no jardim onde ficava a tumba que recebeu seu corpo.
Em relação ao primeiro destes jardins simbólicos, Ambrose sugere:
“Jesus saiu juntamente com seus discípulos para o outro lado do ribeiro Cedrom, onde havia um jardim” (João 18.1) Muitos mistérios são incluídos nesta palavra, e eu creio que não é sem razão que nosso Salvador entrou em um jardim… Porque um jardim foi o lugar onde nós caímos, portanto Cristo fez a escolha de um jardim para começar lá a maior obra da nossa redenção: no primeiro jardim foi o começo de todos os males; neste jardim estava o começo de nossa restituição de todos os males; no primeiro jardim, o primeiro Adão foi destronado por Satanás, e neste jardim o segundo Adão venceu, e o próprio Satanás foi derrotado por ele; no primeiro jardim o pecado foi contraído como uma dívida; e nós estávamos em dívida por nossos pecados contra Deus, e neste jardim o pecado foi pago pelo grande e precioso preço do sangue de Deus; no primeiro jardim o homem é consumido comendo o fruto proibido, neste jardim Cristo suava maravilhosamente, suando até mesmo sangue; no primeiro jardim a morte entrou no mundo; neste jardim a Vida entra para nos restaurar da morte para a vida novamente; no primeiro jardim a liberdade de Adão para pecar colocou a ele e a todos nós em cadeias; neste jardim, Cristo foi preso e amarrado e nós fomos libertos e restaurados à liberdade. Eu poderia assim descrever em relação a todas as circunstâncias, mas esta é a soma, em um jardim começou o nosso pecado, e neste jardim começou a paixão, essa grande obra e mérito de nossa redenção. [1]
Uma vez que “um jardim foi o lugar onde nós caímos… portanto Cristo fez a escolha de um jardim para começar lá a maior obra da nossa redenção”. Ele é o segundo Adão. Convém, portanto, que sua obra de desfazer tudo o que Adão fez deveria começar em um jardim. Charles Spurgeon fez a mesma observação quando disse: “Não podemos conceber que, assim como em um jardim a auto-suficiência de Adão nos arruinou, assim também no outro jardim as agonias do segundo Adão deveriam nos restaurar. O Getsêmani nos supre de um remédio para os males que vieram com o fruto proibido do Éden. Nenhuma flor que brotou nas margens daquele rio que se dividia em quatro foi tão preciosa à nossa raça quanto as ervas amargas que cresceram endurecidas pela corrente sombria e carrancuda do Cedrom.”[2]
2. Jesus terminou seus sofrimentos em um jardim para mostrar que ele conseguiu fazer tudo aquilo em que Adão havia falhado. Não é apenas o início da obra de redenção de Jesus que ocorre em um jardim, é também em um jardim que Jesus termina a obra de redenção. Nosso Senhor Jesus foi sepultado e ressuscitou em um jardim. Quando Ambrose começa a expor o relato de Maria Madalena no jardim, fora do sepulcro, chorando e pensando que Cristo era apenas “o jardineiro” no dia de sua ressurreição, ele nota:
“Da mesma forma que Adão, em seu estado de graça e inocência, foi colocado em um jardim e recebeu como primeiro ofício ser um jardineiro; assim também Jesus Cristo apareceu primeiro em um jardim, e se apresentou semelhante a um jardineiro: e assim como o primeiro jardineiro foi o pai do pecado, a ruína da humanidade e autor da morte; assim também este jardineiro é o resgate por nosso pecado, aquele que nos ergue de nossa ruína e o restaurador de nossa vida. De certa forma misteriosa, Cristo era um jardineiro; mas o erro de Maria estava em supor que ele fosse meramente o jardineiro daquele lugar; e não o jardineiro de nossas almas.”[3]
Spurgeon depois explorou a ideia de que as Escrituras querem que nós vejamos Jesus como o Jardineiro das almas de seu povo quando o vemos aparecendo a Maria no Jardim onde seu corpo havia sido sepultado. Em seu sermão “Supondo Ser Ele o Jardineiro” ele explica:
“Se formos apoiados por um tipo, nosso Senhor toma o nome de “o Segundo Adão”, e o primeiro Adão era um jardineiro. Moisés nos diz que o Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para o cultivar e o guardar. O homem em seu melhor estado não deveria viver neste mundo em um paraíso de luxo preguiçoso, mas em um jardim de esforço recompensado. Veja, a igreja é o Éden de Cristo, regada pelo rio da vida e tão fértil que todo tipo de fruto é trazido para Deus; e ele, nosso segundo Adão, anda em seu Éden espiritual para o cultivar e o guardar; e dessa forma por meio de um tipo vemos que estamos certos em ‘supor ser ele o jardineiro’. Assim também Salomão pensou a respeito dele quando descreveu o Noivo real indo com sua esposa para o jardim quando as flores apareciam na terra e a figueira apresentava seus figos; ele foi com sua amada para o retiro dos jardins, dizendo ‘Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que devastam os vinhedos, porque as nossas vinhas estão em flor’. Nem a natureza, nem a Escritura, nem tipos, nem cânticos nos proíbem de pensar em nosso adorável Senhor Jesus como alguém que se importa com as flores e frutos de sua igreja.” [4]
Adão foi chamado a cultivar e guardar o Jardim. Isso certamente incluía a necessidade de ele proteger sua noiva das tentações do maligno. Quando Jesus entrou em seus sofrimentos na cruz, ele o fez com sua noiva — a igreja — com ele ali no jardim. Da mesma forma que Adão deveria ter avisado Eva a “vigiar e orar para não cair em tentação”, assim Jesus avisa sua noiva — a igreja — a fazer a mesma coisa. Existe um paralelo impressionante entre os eventos dos dois jardins — Éden e Getsêmani.
Também ocorrem paralelos impressionantes entre a árvore do conhecimento do bem e do mal e a árvore da qual Jesus deve beber do cálice que é colocado sobre ele. No jardim do Éden Deus diz a Adão que ele pode comer de todas as árvores exceto uma. No jardim do Getsêmani, Deus o Pai essencialmente disse a Jesus para comer de uma árvore, e só uma. “O Cálice” simboliza o fruto do pecado de Adão — a ira de Deus. A ira de Deus era o fruto do qual Jesus tinha que participar como nosso Redentor. Quando a luta da alma aperta no Getsêmani e abre caminho para os sofrimentos do Gólgota, Jesus está mostrando que ele é o segundo Adão que veio vencendo e para vencer — vencer Satanás, o pecado e a morte. Agora, todos os que confiam nele poderão comer livremente da Árvore da Vida.
Sinclair Ferguson condensa tudo isso para nós quando escreve:
Adão era para o “jardim” o mundo inteiro para a glória do seu Pai. Mas ele falhou. Criado para fazer o pó frutífero, ele mesmo tornou-se parte do pó. O jardim do Éden tornou-se o deserto deste mundo. Mas você também lembra como o Evangelho segundo João registra o que aconteceu na manhã da ressurreição de Jesus? Ele era “o princípio [da nova criação], o primogênito dos mortos”. Mas Maria Madalena não o reconheceu: em vez disso, ela falou com ele “supondo ser ele o jardineiro”. Bem, quem mais ele seria, àquela hora da manhã?
O Jardineiro? Sim, de fato. Ele é o Jardineiro. Ele é o segundo Homem, o último Adão, que agora começa a restaurar o Jardim.
Mais tarde naquele mesmo dia Jesus mostrou aos seus discípulos onde os cravos e a lança haviam derramado sangue em suas mãos e do seu lado. A Serpente havia de fato esmagado sua cura. Mas ele havia esmagado a cabeça da Serpente! Agora ele estava planejando fazer o deserto voltar a ser um jardim. Logo ele iria enviar seus discípulos ao mundo com as boas novas de sua vitória. Toda a autoridade na terra — perdida por Adão — agora havia sido recuperada. O mundo agora deveria ser reclamado por Jesus o conquistador.
Nas cenas finais do livro de Apocalipse, João viu a nova terra descendo dos céus. Com o que ela parece? Um jardim no qual está a Árvore da Vida! [5]
Meditar nestas verdades costuma fazer nossas almas cantarem. Essas verdades devem incitar dentro de nós um maior amor ao Cristo que nos amou primeiro. Devem nos fazer desejar ir para Aquele que cultiva e guarda o solo de nossas almas. Somos um jardim para nosso Deus e Pai, e Jesus nosso Jardineiro Celestial que cultiva o doce fruto do Evangelho em nós.
[1]Looking Unto Jesus (Olhando para Jesus) de Isaac Ambrose (Pittsburgh: Luke Loomis & Co., 1832) páginas 337-338;
[2]Um trecho do sermão de Spurgeon, “A agonia no Getsêmani”;
[3]Looking Unto Jesus, página 442;
[4]Um trecho do sermão de Spurgeon, “Supondo ser ele o Jardineiro”;
[5]Name Above All Names (O Nome Sobre Todo Nome), de Alistair Begg e Sinclair Ferguson (Crossway, 2013), página 34.