Afeganistão — O Cemitério de Impérios e o Reino de Cristo

No dia 15 de agosto deste ano, assistimos, espantados, a queda de Kabul, a capital do Afeganistão, e a rápida tomada de poder de praticamente todo território desta nação que ficou conhecida como “o cemitério de impérios”.

As imagens são espantosas e revelam a absoluta falta de preparo do então governo afegão e, principalmente, de seu principal aliado, os Estados Unidos, para lidar com a milícia fortemente armada e vigorosamente motivada do Talibã. Vimos as imagens assustadoras do povo afegão aterrorizado, se colocando em fuga desesperada, ao ponto de tumultuarem o principal aeroporto da capital e de agarrarem-se a aviões que decolavam sem coordenação de torres e autoridades. Há registros de pessoas que caíram desses aviões já no ar, em rota de fuga.

Esta enorme crise representa uma derrota humilhante ao povo afegão e aos seus aliados do Ocidente, como a OTAN e, especialmente, os EUA. Debaixo do apoio e evidente aprovação do governo chinês, o Talibã já é reconhecido como novo governo do Afeganistão. O agora presidente deposto afegão, Ashraf Ghani, publicou no Facebook, durante sua fuga, que “o Talibã venceu e agora é responsável pela honra, propriedade e autopreservação de seus compatriotas”.

Talibã significa “estudantes” e, embora suas origens possam ser remetidas ao fim da década de 1970, durante a ocupação soviética no Afeganistão, sua fundação aconteceu em 1994, no Afeganistão e Paquistão, com o propósito de se estabelecer sua interpretação extremada da Sharia, a lei islâmica. Fundada pelo Mulá Mohammed Omar em 1994, até o ano de 2001 o Talibã dominou 3/4 do Afeganistão e impôs um regime de terror e extremismo islâmico, banindo, entre outras coisas, o livre exercício da imprensa, o desenvolvimento e utilização de artes em geral, como fotografias e filmes e até instrumentos musicais, além da imposição de sua interpretação extrema da lei islâmica sobre a nação, a qual extinguiu liberdades individuais básicas e promoveu uma apavorante opressão contra mulheres, que foram proibidas de frequentar escolas, trabalhar e até mesmo de realizar consultas médicas. Ainda mais, era considerado um grupo terrorista pela maioria das nações, incluindo os EUA. Foi sob tutela do Talibã que o terrorista Osama bin Laden coordenou os ataques terroristas contra os Estados Unidos em setembro de 2001.

O Talibã caiu em 2001, com a intervenção dos EUA, tendo quase chegado à extinção. A presença militar dos EUA, Reino Unido e demais aliados da OTAN no Afeganistão garantiu relativa paz, o estabelecimento de um governo local e a possibilidade do exercício de direitos humanos fundamentais, especialmente para mulheres e crianças. Esse tempo de relativa paz no Afeganistão possibilitou o trabalho humanitário da igreja e de missionários cristãos – os quais agora serão exilados e perseguidos – que puderam, pela graça de Deus, plantar a semente do evangelho naquelas terras áridas. Fazemos bem em nos lembrar que os frutos vêm de Deus.

Mas toda essa conquista, por efêmera e frágil que fosse, foi destroçada em questão de poucos dias. Com a decisão do governo Biden de retirar as tropas americanas do país de uma só vez, adotando uma estratégia que evidentemente se mostrou equivocada, todos os esforços de 20 anos de sacrifício de soldados americanos e combatentes aliados e de mais de um trilhão de dólares investidos no país parecem ter sido completamente desperdiçados.

O Talibã ressurge, redivivo e, aparentemente, mais forte, mais organizado e com uma terrível sanha de poder e sangue, contando com mais de 200 mil combatentes, todos jovens, e assumindo rapidamente o controle da nação. Os relatos que chegam já dão conta da execução de homens apoiadores do então governo afegão e do sequestro de meninas de 15 anos, para serem dadas por esposas aos combatentes.

Como parte do povo de Deus que vive num país livre, devemos expressar nosso lamento pelo povo afegão, mais uma vez oprimido por um regime atroz, e suplicar a Deus que tenha misericórdia e venha ao seu socorro. Hoje mesmo troquei correspondência com um missionário que vive naquelas bandas do mundo. Ele escreveu o seguinte:

“Obrigado, irmão. Estamos vivendo uma temporada muito pesada. Estou muito triste por meus queridos amigos, irmãos e irmãs que agora estão escondidos – sem saber o que acontecerá a seguir [no Afeganistão]. Suas vidas mudaram drasticamente de maneiras que eles não poderiam ter percebido há não muito tempo. Por favor, ore para que o Senhor os proteja e cuide deles, espiritual e fisicamente. Ore por vistos e uma oportunidade de sair [da região]. Ainda mais, ore para que o Senhor confunda os planos malignos e restrinja os malfeitores. Faça tudo o que puder para mobilizar os irmãos e irmãs no Brasil para orar.”

O apelo deste querido irmão é o grito de socorro em favor da vida de irmãos nossos na fé e por incontáveis almas oprimidas, que não ouviram o evangelho e que são como ovelhas que não têm pastor.

Essa situação tão dramática serve como uma solene chamada ao povo de Deus de todo lugar para discernir nossos tempos e a entender que os poderes deste mundo podem trazer muito sofrimento, perdas, confusão e obstáculo para o avanço do Reino de Cristo, mas são, ao mesmo tempo, efêmeros e transitórios. Eles não durarão. Se o Afeganistão é o cemitério de impérios, o Reino de Cristo é a fonte da vida para todos os povos, línguas, tribos e nações.

Temos de remir o tempo e fazer uso de todas as oportunidades para fazer avançar o reino de Cristo na terra. Temos a certeza, pela fé nas promessas do Senhor, que o Reino dele avançará triunfante e que nem as portas do inferno poderão conter o reino de Jesus. E este reino avança porque seu governo é de amor, paz e libertação, e atua, sobretudo, no coração humano – por isso não tem barreiras geográficas e nem limites humanos.

Que os tempos difíceis vividos por povos perseguidos do mundo todo nos sirvam de estímulo à oração, à remissão de nosso tempo e ao emprego de nosso tempo e recursos para levar a mensagem da salvação do Reino de Cristo a todos os homens e estender nossa destra de misericórdia e cuidado para com refugiados e oprimidos por regimes malignos. É sempre revigorante lembrar que a graça de Deus sempre triunfa no final.