O problema de acabar com o racismo

Até mesmo o fã de esportes casual não consegue mais ignorar o movimento Vidas Negras Importam. Essas letras sobressaíam às linhas de base da NBA e sufocavam as transmissões de jogos. Elas eram apresentadas nos aquecimentos dos jogadores e impressas na parte de trás das camisetas. A NFL tem sido menos notável, mas chuteiras, capacetes, apresentadores, comerciais e pessoas de joelhos ainda chamam atenção ao movimento.

Enquanto eu assistia a um jogo de futebol americano recentemente, uma frase curiosa chamou minha atenção: Acabe com o Racismo. Esse comando me encarava de todos os lados do campo, gravado nas zonas finais. Isso me surpreendeu. Assumindo o melhor a respeito das muitas pessoas envolvidas nessa decisão, elas realmente acreditavam que elas – ou qualquer um que estivesse assistindo – realmente poderiam acabar com o racismo?

Acabar com o Racismo?

Eu não tenho motivos para duvidar que aqueles envolvidos realmente desejavam fazer desse mundo um lugar melhor. Mas, enquanto eu os assistia tentar, eu não conseguia evitar o sentimento de impotência disso. O que apontar uma câmera para a zona final do campo tem a ver com direcionar pessoas para longe da luxúria de seus corações por superioridade étnica? O chamado, mesmo chegando a um coração aberto, não empoderou ninguém a ir e realizar tal façanha. O comando me parecia mais apropriado como “Acabe com a Inveja” ou “Pare a Luxúria.”

Esse sentimento gira tanto ao nosso redor nesses dias que eu me pergunto se o mundo verdadeiramente acredita em seu próprio mantra – que ele pode, de fato, acabar com o racismo. Para ser claro, o secularismo pode efetuar mudanças em relação a leis parciais, ou sistemas econômicos, ou prestação de contas por tiroteios policiais – e por trás de qualquer progresso nessas frentes está um Deus amoroso com graça comum. O secularismo também pode alterar o politicamente correto e incentivar (ou coagir) a uma conformidade exterior. Se isso é tudo o que o movimento significa, meu espanto diminui.

Porém, com a falta de clareza sobre as metas objetivas das várias marchas e protestos – um ponto muito diferente do movimento em prol dos direitos civis que objetivou garantir uma lei justa (ou seja, direitos civis) – alguém pode se perguntar se o propósito não é realmente eliminar inteiramente o mundo das luxúrias étnicas (e isso é compreendido como algo contra as minorias quase que exclusivamente). Algumas das demandas parecem ser demandas do coração; para se pensar e sentir de determinadas formas.

Se o mundo construísse um regime totalitário, com autoridade para punir severamente aqueles que não se curvam à doutrinação da diversidade, ainda assim, ninguém poderia ser forçado a amar o que deve amar e odiar o que deve odiar. Esse poder pertence a Outro. A mudança pela qual o mundo anseia, até nos seus melhores dias, pertence ao próprio Deus que o mundo rejeita todos os dias. Apenas ele tem o poder de mudar corações.

Cego Guiando Cego

Por que nós não podemos esperar que movimentos não-cristãos, até os melhores deles, acabem com o racismo do coração?

Por causa da pecaminosidade da humanidade. Com relação à cor da pele, a Bíblia diz que antes pode um etíope mudar sua pele ou um leopardo as suas manchas do que podem aqueles que estão acostumados a fazer o mal mudar para fazer o bem (Jr 13.23). Ou, como diz Paulo, a humanidade está escravizada no pecado, filhos da ira, alegremente seguindo o diabo (Ef 2.1-3). O racismo é apenas uma manifestação dessa rebelião contra Deus.

Nós pensamos que podemos escolher nosso mestre. Nós trocamos a verdade sobre Deus por mentiras, nos recusamos a reconhecer seu reinado universal e depois nos questionamos como alguém procuraria exaltar-se sobre seu semelhante baseado em algo tão banal como cor da pele, cultura ou nacionalidade. Quando pensamos que destronamos a Deus com sucesso, o que nos resta senão uma guerra de tronos?

Acabar com o racismo não é possível para o mundo. A religião humanitária pode mirar por algum tempo no problema sistêmico do racismo, mas ela se cansará e seguirá em frente para a próxima moda quando for conveniente. Nenhum político. Nenhuma lei. Nenhuma marcha ou protesto. Não há melhores resoluções ou medidas coercitivas. Nenhuma quantidade de escuta ou treinamento sobre diversidade pode acabar com o racismo. Por melhores que algumas dessas medidas possam ser, racismo é pecado e um mundo escravizado pelo pecado não pode vencer o pecado.

Você Deve Nascer de Novo

Isso torna o caminho de Jesus para “acabar com o racismo” revolucionário: “importa-vos nascer de novo” (Jo 3.7). Ele começa de dentro para fora. Você deve ter novos amores, uma nova natureza, um novo coração.

Esse novo coração, entronizado pelo próprio Deus, inspira um amor contracultural pelos cristãos que são diferentes de nós: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (1Jo 4.7).

Esse novo coração é incompatível com qualquer prática contínua de preconceito racial:

Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus. (1Jo 3.8-9)

Esse novo coração nos prepara para o céu, onde experimentaremos a paz inviolável uns com os outros: “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo 3.5-6).

Esse novo coração, diferente de um velho coração ordenado a agir em novidade, é realmente, genuinamente novo: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas. Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação” (2Co 5.17-18).

Onde existe injustiça sistêmica nesse mundo, começando por Margaret Sanger e Paternidade Planejada, nós preferimos novos corações com nova fidelidade ao Rei Jesus, não velhos corações ainda alinhados a satanás, para assumir a liderança. Apenas corações refeitos e capturados por Deus podem entender a justiça como deveriam: “Os homens maus não entendem o que é justo, mas os que buscam o SENHOR entendem tudo” (Pv 28.5). Novos nascimentos pelo Espírito de Deus nos capacitam a viver novas vidas de amor, um amor forte o suficiente para superar velhos preconceitos.

Onde Termina Nosso Racismo

Nossa história, nosso momento atual, pode parecer tão importante, tão aterrorizante, tão fragmentado, tão urgente. O antigo evangelho pode parecer pequeno em comparação a isto. Agora pode parecer realidade, a expiação pode parecer menor no horizonte. Mas não.

Os fundamentos do racismo – e de todas as outras perversidades da nossa cultura – serão quebrados quando nos reunirmos sob uma fraternidade que não está debaixo da bandeira de um amanhã melhor, mas de uma eternidade melhor. Uma fraternidade universal dos homens para com os homens – independente de Cristo – não é uma meta do cristão. Jesus orou pela unidade entre o seu povo para que o mundo possa se maravilhar com isso do lado de fora e concluir que Jesus deve ser o enviado de Deus (Jo 17.20-21).

Cristo ainda é e sempre será a resposta.

Na cruz de Cristo eu me glorio,

Elevando-me sobre as ruínas do tempo;

Toda a luz da história sagrada

Reúne-se em torno de sua face sublime.

A cruz ainda se ergue sobre os destroços do tempo, brilhando como um farol que auxilia a navegar através da escuridão e costas irregulares. Quando a cruz diminui, o mundo escurece. Quando a igreja perde influência em uma cultura, a cultura se deteriora. Quando nos distanciamos do Calvário, quando seguimos em frente e tentamos fazer o trabalho de Deus sem dar primazia a obra de Deus e ao Espírito de Deus, nós jamais brilharemos com a luz que o mundo desesperadamente precisa ver. Em outras palavras, possuindo algo maior que nos une, além da própria unidade, demonstraremos o fruto de justiça de Deus estando entre nós.

Tendo Tentado de Tudo

Nosso clima hoje é análogo ao da mulher que sangrou por doze anos.

Enquanto ele [Jesus] ia, as multidões o apertavam. Certa mulher que, havia doze anos, vinha sofrendo de uma hemorragia, e a quem ninguém tinha podido curar [e que gastara com os médicos todos os seus haveres], veio por trás dele e lhe tocou na orla da veste, e logo se lhe estancou a hemorragia. (Lc 8.42-44)

O mundo está cheio de médicos que não podem curar. O seu candidato político favorito não pode acabar com o racismo. Novas legislações – com todo o bem que podem conquistar – não conseguem acabar com o racismo. E mensagens colocadas nas áreas de zona final do campo não podem acabar com o racismo. Nenhuma dessas coisas pode mudar corações.

Historicamente, na América, muitas igrejas não têm sido porta-vozes nessa área, pelo contrário, já tiveram a sua cota de indulgências e compromissos com sociedades racistas ao invés de serem luz dentro delas. Ainda assim, a igreja hoje é a única instituição no planeta, a única “raça escolhida”, que se apresenta na autoridade de Cristo e efetua uma mudança genuína enquanto “fazemos discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho [Jesus] ordenado a vocês” (Mt 28.19-20).

Ironicamente, o mundo livre do racismo pelo qual a humanidade caída tanto anseia, está se aproximando. O racismo acabará logo – mais cedo do que a maioria desejará – quando nosso Rei finalmente vier para julgar. E não apenas o racismo, e todos os outros pecados, serão lançados no lago de fogo, mas o seu povo será unificado de formas que agora só conseguimos imaginar – tudo isso em Cristo.

Por: Greg Mors. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: The Problem with Ending Racism.

Original: O problema de acabar com o racismo. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Juliane Peixoto. Revisão: Julia Schmalz.