Um blog do Ministério Fiel
Simplesmente Faça Algo
Depois de eu ter falado em uma universidade cristã sobre a doutrina da vocação, um estudante veio e me perguntou se eu poderia dar-lhe algumas orientações. Ele tinha ido à escola pensando que queria ser pastor, mas então se sentiu atraído por se tornar professor. “Como eu sei o que o Senhor quer que eu faça?” ele perguntou.
Eu dei-lhe alguns conselhos sobre como discernir seus talentos, mas então ele fez uma pergunta que revelou o problema mais profundo: “e se eu fizer a escolha errada?” E se eu decidisse ser professor, mas Deus na verdade quisesse que eu fosse pastor? Ou, se eu decidisse ser pastor, Deus na verdade não quisesse que eu fosse? Como eu vou ensinar ou pregar se ao fazê-lo posso estar fora da vontade de Deus? E como é que eu poderia descobrir?
E então me veio a resposta. “Você não é capaz de fazer a escolha errada,” eu disse. Se você decidir ir para o ministério — e, vale ressaltar, já que as vocações vêm de fora de nós mesmos, se você terminar o seminário e receber um chamado de uma congregação — você pode ter certeza que Deus te colocou nesse púlpito. Se você decidir ensinar e uma escola te contratar, você pode ter certeza que Deus te colocou nessa sala de aula. Deus pode até te colocar em uma sala de aula agora e então, mais tarde, te chamar para o ministério.
Muitas pessoas assumem que a vontade de Deus para as nossas vidas é algo que precisamos “descobrir” e que podemos perdê-la se fizermos a “escolha” errada. Mas já que elas não tem como saber com certeza o que é a vontade de Deus no seu caso específico, elas ficam paralisadas, sem saber o que deveriam fazer, então acabam sem fazer absolutamente nada.
Os cristãos reformados sabem que reduzir tudo à nossa “escolha” é um exagero. Sim, nós fazemos escolhas, mas para os cristãos, cuja confiança está no Senhor que governa o universo, nem nossa salvação nem a trajetória das nossas vidas “depende de nós.”
Será que realmente achamos que a vontade de Deus pode ser frustrada? É claro, nós podemos ir contra a sua vontade revelada, os seus mandamentos; isso é o que pecar significa. Nós precisamos estudar a Palavra de Deus para conhecer a sua justa vontade. Nós também precisamos perceber que a sua vontade frequentemente está em conflito com a nossa própria vontade caída. Nós devemos crescer na nossa fé, de modo que possamos orar com Jesus: “não se faça a minha vontade, e sim a tua.” (Lc 22.42). Mas, em última instância, no seu governo da criação, sua vontade soberana é feita.
Sem dúvida o estudante sabia que certas carreiras, como ser um traficante de drogas ou um pornógrafo, estavam fechadas para ele. Mas ser professor não é pecado. Tornar-se um pastor também não. Ele realmente tem escolhas a fazer, e tomar essas decisões demanda autoexame, angústia e oração. Ele precisa levar em conta todos os fatores comuns: finanças, tempo e família. Mas ele pode estar seguro, assim que a decisão estiver tomada, de que Deus o estava guiando.
Isso é o que a Escritura ensina: “O coração do homem planeja o seu caminho” — então devemos fazer planos —“mas o Senhor lhe dirige os passos.” (Pv 16.9 ACF). Deus é quem “dirige” o que fazemos. “O cavalo prepara-se para o dia da batalha, mas a vitória vem do Senhor.” (21.31). O Senhor traz o resultado, fazendo de você um cooperador em seus propósitos.
Ao contrário do que a teologia da prosperidade ensina, o sucesso terreno não é necessariamente um sinal do favor de Deus, e nem a falta de sucesso é sinal de que você está “fora da vontade de Deus.” A trajetória das nossas vidas frequentemente inclui não só oportunidades mas também fracassos, não só portas se abrindo mas também portas sendo batidas na nossa cara. Vocação certamente não é só sobre sua “realização pessoal.” Seguir Jesus na vocação requer auto-negação e auto-sacrifício diários pelos próximos a quem nossas vocações servem.
Dificuldades nas nossas várias vocações — na família, na igreja e na comunidade, tanto quanto no trabalho — testificam de um outro aspecto da vontade de Deus: seu desejo de que cresçamos em fé e santidade. “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1 Ts 4.3). Isso acontece conforme as lutas nas nossas vidas nos fazem depender ainda mais dele.
No presente momento, nós não sabemos o que acontecerá ou aonde nossas escolhas nos levarão. Mas quando olhamos para trás — especialmente quando o tempo já passou, quando estamos mais velhos — nós podemos ver o padrão e como Deus estava nos guiando ao longo de todas as etapas do caminho, mesmo que não estivéssemos cientes disso o tempo todo.
Nesse meio tempo, nós precisamos agir. Confiar na providência de Deus — não só no controle de Deus, mas no fato de que Deus “provê” para nós — é uma fórmula não para a passividade mas para a liberdade. Nós podemos avançar com ousadia em direção às oportunidades e relacionamentos que a vida tem para nós, confiantes de que ele estará conosco.