Thomas Jefferson Bowen

O primeiro missionário batista no Brasil

“Meus fracos esforços entre os milhões da África parecem como gota d’água na areia do deserto. Possa o Senhor convertê-los como uma centelha em restolho seco.” —Thomas Jefferson Bowen

A Primeira Igreja Batista no Brasil foi organizada em Santa Bárbara do Oeste, SP, em 10 de setembro de 1871. No contexto das celebrações do sesquicentenário dos batistas no Brasil, é oportuno honrar a memória de Rev. Thomas Jefferson Bowen. Ele foi o primeiro missionário enviado pelos Batistas do Sul à África. Bowen serviu na atual Nigéria, onde aprendeu a língua Yourubá. Ao que tudo indica, ele se tornou o primeiro missionário Batista do Sul a pregar em uma cidade muçulmana, Ilori. Escreveu algumas obras, destacando-se Grammar and Dictionary of the Yoruba People, reconhecidamente um feito acadêmico publicado pelo Smithsonian Institute. Por conta de problemas de saúde, retornou ao Estados Unidos. No entanto, seu trabalho na África não deixa dúvida de seu amor pelos povos africanos e seu ardente desejo de pregar o evangelho.

Muito provavelmente por influência do livro Brazil and brazilians, escrito pelos missionários metodistas Daniel Kidder e James Fletcher, Bowen se apresentou para servir no Brasil. Ele, a esposa Lurenna Henrietta Davis Bowen e a filha Lurenna Henrietta Bowen (mesmo nome da mãe), de apenas dois anos idade, foram enviados pela Junta de Richmond (Foreign Mission Board, atualmente denominada International Mission Board) como missionários ao país. Há 152 anos, a família chegou à cidade do Rio de Janeiro, em 21 de maio de 1860.

A família veio para o Rio de Janeiro a fim de começar o trabalho batista. Instalou-se no Grand Hotel White, no Alto da Boa Vista, Tijuca, onde o clima era mais ameno para a família de saúde frágil e havia um fluxo de estrangeiros na região com o qual poderiam conversar. T.J. Bowen tinha muitos planos. Na correspondência com a Junta de Missões, expressou o desejo de atuar entre os negros com os quais tinha a familiaridade da língua Yourubá, quiçá começar uma escola de formação. Bowen queria alcançar pessoas com o evangelho, mas enfrentou muitos obstáculos em sua missão. A elite aristocrata era um problema, sobretudo em uma sociedade que aprovava a escravidão. A oposição do clero romano, sempre hostil aos protestantes, bem como a indisposição da impressa, dominada por tradicionais famílias da cidade, eram barreiras humanamente instransponíveis. Acerca disso, Bowen escreveu: “Há um alto custo, muitas vezes oculto, em levar o evangelho a lugares difíceis”.

A pretensão de alugar uma casa na cidade, a partir da qual pudesse começar o trabalho, não se realizou. Depois de meses de tentativa, a família não conseguiu se estabelecer na cidade. A resistência a missionários evangélicos era uma realidade na cultura brasileira de formação católica romana, cuja abertura se daria, gradualmente, a partir do final século XIX. Limitações financeiras também pesavam, mas foram problemas de saúde que levaram Bowen a tomar a difícil decisão de voltar aos Estados Unidos. “A missão no Brasil não durou muito porque a saúde de Thomas piorou e o campo estava mais difícil do que ele esperava”, relata David Brady.

Da chegada ao Brasil, em 21 de maio de 1860, ao retorno à terra natal, em 9 de fevereiro de 1961, contam-se apenas oito meses e dezenove dias. Porém, Bowen e família fracassaram na missão entre os brasileiros? Creio que não. A graça soberana triunfou, usando caminhos misteriosamente perfeitos para fazer florescer a semente do evangelho por meio dos batistas no Brasil. Deus tinha planos maiores e seus desígnios nunca foram frustrados.

Convertido aos 26 de idade (1840), Bowen começou a pregar e logo foi ordenado ao ministério da Palavra. A família Ratcliff foi uma das primeiras que ele ganhou para Cristo antes de servir como missionário na Nigéria. Richard Ratcliff, à época adolescente, converteu-se ouvindo a pregação de Bowen. Seis anos depois de seu pai na fé ter regressado aos EUA, em 24 de janeiro de 1867, Richard chegou ao Brasil. Ele viria a ser o pastor da primeira Igreja Batista em solo brasileiro, fundada em 10 de setembro de 1871, na cidade de Santa Bárbara do Oeste, SP. Ele veio ao Brasil como colono, mas, dez anos antes, havia se apresentado à Junta de Richmond para servir na África. Os planos foram interrompidos por conta da Guerra Civil Americana (1861-1865), mas aprouve a Deus que Richard atuasse como peça importante no mosaico da Providência em favor do trabalho batista no Brasil. Embora houvesse outros pastores entre os colonos americanos, coube a Ratcliff a honra de organizar a igreja que solicitaria à Junta Missões de Richmond o envio de missionários para evangelizar o país. A troca de correspondências entre os batistas de Santa Bárbara do Oeste e a referida organização são um tesouro da historiografia batista e servem como um grande encorajamento para continuarmos a obra que os pioneiros começaram.

A igreja Batista em Santa Bárbara fez um histórico apelo à Junta de Missões em Richmond, Virgínia. O pedido era para que fossem enviados “missionários para este país”. Eles eram colonos que haviam vindo para o Brasil depois da Guerra Civil Americana. No interior de São Paulo, juntaram-se a outros americanos em uma crescente comunidade que daria origem à cidade de Americana. Esses primeiros batistas em solo brasileiro amavam o Brasil e oravam a fim de que o evangelho da graça florescesse na terra que os tinha acolhido. A Convenção Batista do Sul já havia empreendido esforços no sentido de promover o evangelho no país, mas não via a possibilidade de renová-los por conta de outras demandas e da limitação de recursos.

Aprouve a Deus usar uma pessoa para mobilizar os batistas a levantar os olhos para o Brasil: Alexander Travis Hawthorne. Advogado e general do exército americano, Hawthorne havia passado alguns anos no Brasil. De volta à sua pátria, foi um dos batistas mais entusiasmados com a possibilidade de retomar as atividades missionárias no país. Ele estivera pessoalmente com o Imperador Dom Pedro II, de quem havia obtido carta branca para viajar por todo país. Hawthorne tinha bons impressões do governo imperial em relação aos protestantes. Ele disse: “O governo é justo e estável, sabiamente administrado, oferecendo ampla segurança de vida, liberdade e propriedade, governo que reconhece o mérito, e pune prontamente os criminosos”. Em 1880, durante a Convenção Batista do Sul, em Lexington, Hawthorne foi designado como relator da Comissão que apresentaria um parecer sobre a reabertura do trabalho no Brasil. Com a eloquência de um habilidoso advogado, argumentou a favor de enviar novos missionários e convenceu os batistas reunidos naquela assembleia a tomarem a seguinte decisão: “Que seja autorizada a Junta de Missões Estrangeiras nomear outros missionários para o trabalho no Brasil”. Nos dois anos seguintes, os missionários William e Anne Bagby (1881), Zachary e Kate Taylor (1882) foram enviados ao Brasil para recomeçarem o trabalho batista no país. Z. C. Já no Brasil, Taylor encontrou-se com Ratcliff e foi por este encorajado a aprofundar seus estudos teológicos no Southern Baptist Theological Seminary (presidido pelo Rev. James P. Boyce). Richard Ratcliff voltou aos EUA onze anos depois, após a morte da esposa.

Thomas Bowen faleceu nos EUA em 24 de novembro de 1875, aos 62 anos de idade. Ele deve ter ficado contente por saber que o Rev. Richard Ratcliff, seu filho na fé, foi um instrumento nas mãos do Senhor para organizar a Primeira Igreja Batista no Brasil e convocar os batistas do Sul a enviarem missionários para evangelizar os brasileiros. “Embora a tentativa inicial de T.J. Bowen no Brasil possa ser considerada por alguns como um fracasso, sua inspiração e influência, especialmente sobre Richard Ratcliff, foram fundamentais para estabelecer um dos maiores sucessos missionários dos Batistas do Sul”, afirma Jim Hardwicke). Thomas Jefferson Bowen lançou as sementes dos batistas no Brasil. O pequeno grão de mostarda se transformou em uma árvore frondosa. Suas lágrimas e provações não foram em vão. O que havia dito sobre o trabalho na África cumpriu-se no Brasil. Seus esforços pareciam uma gota de água no deserto, mas Deus os transformou em centelha em restolho seco. Como afirmou David J. Brady, “Thomas Jefferson Bowen deve ser lembrado com grande gratidão porque viveu, não para trazer glória para si mesmo, mas para Jesus Cristo”.

“A memória dos justos é abençoada…”. Pv 10.7a

Seja Deus glorificado entre os batistas do Brasil.