Consolando os que choram

Texto-base: 2Tm 4.6-18

Paulo escreveu esse trecho no corredor da morte. Ele, que foi o grande desbravador do Evangelho no primeiro século, esteve preso em Roma duas vezes. Na primeira ocasião, os judeus estavam nos bastidores, e foi preso por ser um apóstolo de Cristo. Na segunda, o império romano, ocasião em que esteve em uma masmorra, foi preso sob acusação de ser um malfeitor, e saiu apenas para seu martírio.

Após o grande incêndio da cidade de Roma, no ano 64, os cristãos foram amplamente perseguidos, uma vez que o imperador Nero neles pôs a culpa de tal tragédia. Foi então que Paulo, um dos grandes líderes do cristianismo, foi caçado e preso como malfeitor, segundo ele mesmo relata a Timóteo no texto lido. Além disso, ele teve de lidar com o abandono dos que diziam estar do seu lado, daqueles que conheciam sua vida irrepreensível, mas que o deixaram por medo. Timóteo era filho na fé de Paulo, seu colaborador mais próximo.

Paulo implora para que Timóteo não se envergonhasse dele. Em sua primeira defesa, ninguém apareceu para testemunhar a seu favor (2Tm 4.16). Paulo sai condenado, e condenado à pena de morte. Mas o que Paulo, após passar por tantos sofrimentos e ser sentenciado à morte, tem a dizer para nós? Vejamos alguns princípios consoladores a partir da atitude de Paulo.

Primeiro, quando a crise chega bate à porta, é preciso ter humildade e coragem de pedir ajuda. Paulo pediu que Timóteo fosse ter com ele depressa (4.9). A solidão é uma péssima companhia. Em geral, os pastores cuidam de pessoas, mas não recebem nenhum cuidado. Nós precisamos de amigos, pessoas que nos confrontam em particular e nos defendem em público, pessoas para quem abrimos o coração sem medo, pessoas que estão conosco seja na alegria ou no choro.

Segundo, quando as pessoas nos decepcionam, não devemos fazer registros de mágoas (4.10). A questão não é o que as pessoas farão, mas como reagimos a isso. Não é fácil ser abandonado quando mais se precisa de ajuda. Ao nutrir mágoas, perde-se o sentido da própria vida.

Terceiro, se na sua caminhada você se lembrar que alguém ficou ferido por causa de suas palavras, tenha a humildade de procurar restaurar o relacionamento (4.11). Marcos, que antes havia deixado Paulo e Barnabé em uma de suas viagens, e que, por causa disso, fora rejeitado por Paulo em uma viagem posterior a ponto de haver uma briga com Barnabé, mais tarde foi o escritor do primeiro Evangelho. Quando Paulo escreve a Timóteo, solicita a presença de Marcos. É preciso construir pontes de reconciliação onde antes foram cavados abismos de mágoas. Pastores também são ovelhas que possuem falhas e fraquezas, e o Senhor não desiste de cada um de seus filhos.

Quarto, por mais dolorosa que seja a situação da sua vida hoje, nunca perca o entusiasmo de estudar a Palavra de Deus (4.13). Paulo está com um pé na sepultura, aguardando o dia de sua execução, mas solicita sua cópia das Escrituras. Mesmo prestes a morrer, Paulo deseja gastar seu último fôlego lendo a Bíblia. Precisamos voltar a ter deleite no Santo Livro.

Quinto, se alguém deliberadamente lhe fizer mal, tome a decisão de perdoar e entregar a causa a Deus (4.14). Pastores não devem fazer inimigos, mas eventualmente eles surgem contra a vontade. Ao Senhor pertence a vingança. Nosso papel é vencer o mal com o bem.

Sexto, ainda que todos abandonem você, saiba que Deus nunca o desampara (4.16-17). O Senhor o assistirá e o revestirá de forças, assim como capacitou Paulo a enfrentar toda essa situação tendo o Senhor ao seu lado.

Sétimo, há coisas na vida que ou você faz hoje, ou nunca terá mais chance de fazê-las novamente (4.21). Há coisas no ministério que não podem esperar. Há visitas, ajudas, confrontos e socorros que são urgentes. Se você tem que fazer algo por alguém, faça-o em vida, enquanto é possível.

Por fim, a melhor maneira de fechar as cortinas da vida e encerrar o ministério é dando a Jesus toda a glória que lhe é devida (4.18b). É possível que Paulo tenha sido o obreiro que mais trabalhou na Terra, mas em momento algum ele procura glória para si. Antes de fechar os olhos, ele faz um balanço de seu ministério e diz que combateu o bom combate (4.7). Logo, há combates que nada produzem para o Reino de Deus. Mas se o combate é bom, combata-o.

Paulo termina dizendo que guardou a fé, apesar de todas as tentações de modificar a mensagem do Evangelho. Mas ele sabia que, na verdade, se oferecia como oferta ao Senhor. Além disso, não morreria, mas partiria para estar com o Senhor, assim descansando de suas fadigas. No verso 8, Paulo avalia seu futuro. Ele sabia que o reto Juiz que a todos julgará já o justificou, de modo que a ele bastava receber a coroa da justiça. Assim, este bandeirante da fé deixa esta vida, deixando-nos estes princípios. Que nosso ministério e nossa vida sejam para a glória de Cristo. Amém!