Natal: a glória de Deus retorna

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória.” – João 1.14

No artigo anterior, vimos o significado do uso de João do termo “habitou” em João 1.14. Eu argumentei que, ao usar uma palavra peculiar para “erguer uma tenda”, João estava chamando nossa atenção para o Tabernáculo de Israel, onde Deus condescendeu para se revelar a Israel para adoração e comunhão. O clímax da história do Tabernáculo aparece em Êxodo 40.34-38, onde a glória do SENHOR encheu o Tabernáculo, significando que Ele iria habitar – que Ele estabeleceria residência – com Seu povo.

Essa cena lança luz sobre o relacionamento entre as duas frases de João 1.14: “e [Ele] habitou entre nós” se encaixa perfeitamente com “e vimos Sua glória”. Há uma conexão inseparável entre (a) o lugar de habitação de Deus e (b) Sua glória enchendo este lugar. A habitação de Deus é inseparável da glória de Deus.

A jornada da glória do Senhor no Tabernáculo

A glória do Senhor estava com Israel no Tabernáculo – uma nuvem de dia e fogo de noite (Êxodo 40.38). E os liderava em todas as suas jornadas pelo deserto e na terra de Canaã. Para onde quer que fossem, eles desmontavam o Tabernáculo e, quando se fixavam novamente, ergueriam o Tabernáculo novamente (Êxodo 40.37). E isso ocorreu por 450 anos, mesmo após entrarem na terra de Canaã.

Se avançarmos cerca de 450 anos a partir de Êxodo 40 e a jornada da glória de Deus com Israel no deserto, chegamos em 1 Reis 8.

A Glória de Deus enche o templo

Nesse período, a construção do templo de Salomão havia terminado. E o templo era magnífico. Tinha o dobro do tamanho do tabernáculo, que já era impressionante por si só. Sem incluir o pátio, o templo tinha 30 metros de comprimento, 9 de largura e 13 de altura. Por dentro, tudo era coberto de ouro. Quando a construção foi encerrada, os sacerdotes e os Levitas trouxeram a Arca da Aliança para o Santo dos Santos (1 Reis 8.4-6) e a repousaram sob as asas de dois querubins de ouro de 4,5 metros de altura.

Então, 1 Reis 8.9-11 diz:

Nada havia na arca senão as duas tábuas de pedra, que Moisés ali pusera junto a Horebe, quando o SENHOR fez aliança com os filhos de Israel, ao saírem da terra do Egito. Tendo os sacerdotes saído do santuário, uma nuvem encheu a Casa do SENHOR, de tal sorte que os sacerdotes não puderam permanecer ali, para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do SENHOR enchera a Casa do SENHOR.

Isso soa familiar?

É exatamente o que aconteceu em Êxodo 40, ao final da construção do tabernáculo. O SENHOR está declarando que agora não irá mais habitar no tabernáculo, mas que Ele estaria com Seu povo no templo. A glória do SENHOR desce e estabelece residência em Seu templo. Ele habita no meio de seu povo.

Até que…

A glória de Deus abandona o Templo

Até a tragédia do exílio babilônico.

Mais de 350 anos depois da glória de Deus encher o templo de Salomão, a perversidade do reino de Judá crescia além da conta. 2 Crônicas 36 nos dá o contexto. Judá está sob seu último rei, Zedequias. Falta apenas 6 anos para a última deportação para a Babilônia.

Zedequias […] endureceu a sua cerviz e tanto se obstinou no seu coração, que não voltou ao SENHOR, Deus de Israel. Também todos os chefes dos sacerdotes e o povo aumentavam mais e mais as transgressões, segundo todas as abominações dos gentios; e contaminaram a casa que o SENHOR tinha santificado em Jerusalém. O SENHOR, Deus de seus pais, começando de madrugada, falou-lhes por intermédio dos seus mensageiros, porque se compadecera do seu povo e da sua própria morada. Eles, porém, zombavam dos mensageiros, desprezavam as palavras de Deus e mofavam dos seus profetas, até que subiu a ira do SENHOR contra o seu povo, e não houve remédio algum. (2 Crônicas 36.11-16)

Deus deu a eles todas as oportunidades para se arrependerem. Mas o povo preferia seus ídolos.

O profeta Ezequiel profetizou durante esse tempo. E é a visão dele que nos dá uma ideia mais interessante do que estava acontecendo durante o tempo do exílio. Em Ezequiel 8, vemos as grandes e perversas abominações dos filhos de Israel:

A imagem do ciúmes, no pátio de dentro (Ezequiel 8.3,5)
Pinturas de toda forma de répteis e animais abomináveis (8.10,12)
A oferta de incenso estranho (8.11)
Mulheres chorando por Tamuz, deus dos Fenícios (8.14)
Homens com as cotas pra o templo, adorando o sol (8.16)

Essas abominações, essa idolatria em massa, está acontecendo no lugar da habitação do SENHOR. No lugar onde sua glória habita. No lugar onde ele condescende e se encontra com Israel e provê expiação pelos pecados deles.

Assim, o SENHOR os visita em Sua ira e destrói tantos israelitas que Ezequiel pensa que Ele vai aniquilar a nação inteira (Ezequiel 9.8). E, enquanto isso acontece, a glória do SENHOR começa se retrair. Se levantou da Arca da Aliança, dos querubins de ouro (10.4), para o átrio do templo. Então saiu da entrada do templo até os querubins (10.18) e os querubins que guardavam o portão leste (10.19), a última saída do templo. Então, em Ezequiel 11.22, o profeta nos diz:

Então, os querubins elevaram as suas asas, e as rodas os acompanhavam; e a glória do Deus de Israel estava no alto, sobre eles. A glória do SENHOR subiu do meio da cidade e se pôs sobre o monte que está ao oriente da cidade.

Por fim, a glória do SENHOR deixa o templo, se coloca sobre o Monte das Oliveiras, e então sobe aos céus com os querubins. Pela primeira vez na história de Israel – pela primeira vez em 850 anos – Israel estava longe da presença de Deus. O SENHOR já não habitava com seu povo. Essa é a última vez que a glória do SENHOR é vista na terra.

Até que…

A glória de Deus retorna

Até, nos diz o apóstolo João, agora. Até que o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a Sua glória.

Na próxima vez que a glória do SENHOR é vista, é perante os pastores, para proclamar o nascimento de Jesus (Lucas 2.9). A mensagem dos anjos é que a glória do SENHOR retornou a Israel, na cidade de Davi. É o Salvador! É Cristo, o Senhor! (Lucas 2.11).

E essas palavras são enormes para descrever o contexto aqui. “Cristo” quer dizer “Messias”. Esse Salvador que nasceu é O Ungido DO SENHOR! O cumprimento da promessa tão aguardada! E “o Senhor” não é apenas um título. É a tradução para o grego de um nome divino: Javé (que os judeus substituíam por Adonai, “o SENHOR”). Com a glória de Deus que ninguém havia visto por 600 anos brilhando ao seu redor, o anjo está anunciando: “Javé está aqui!”. No nascimento de Jesus, Deus está declarando o cumprimento da grande promessa da Nova Aliança que tantos esperaram por milhares de anos: “O meu tabernáculo estará com eles; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”. (Ezequiel 37.27).

Assim, quando João nos diz que o Verbo Eterno se fez carne e tabernaculou entre nós, e que vimos Sua glória, ele está proclamando a sua audiência que, da mesma forma com que a glória enchendo o tabernáculo e o templo eram manifestações da presença de Deus, o mesmo está acontecendo quando Ele revela Sua glória ao mundo em Jesus.

O Verbo se fez carne. A imagem do Deus invisível. Sua glória radiante e a representação exata de Sua natureza.

Esse é o bebê Jesus, caros amigos. Esse é o seu Salvador. Ó vinde, adoremos.

Por: Mike Riccardi. © The Cripplegate. Website: thecripplegate.com. Traduzido com permissão. Fonte: Christmas: God’s Glory Returns.

Original: Natal: a glória de Deus retorna. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados.