Um blog do Ministério Fiel
Amante da graça, trabalhador diligente e feliz: resoluções cristãs para um novo ano
Ah, a semana depois do Natal. Dependendo da área em que você trabalha, esses podem ser os dias mais intensos do ano. Ou os mais desanimados.
Alguns fazem as malas em sua última folga antes que ela desapareça no final do ano. Outros se dedicam muito para atingir as metas de fim de ano. Todos nós vivemos nesse curioso intervalo de tempo, com a grande celebração do Natal tendo ficado para trás e a perspectiva de um novo ano, e suas redefinições mentais, logo à frente.
Por mais estranha que essa semana possa parecer no calendário, encontramos aqui um paralelo interessante à vida cristã que vivemos por décadas – com a alegria do ontem alimentando o presente e nos impulsionando para as resoluções e possibilidades do amanhã.
Passado o Natal, ano novo à frente
Para os cristãos, a alegria do dia de Natal não é a coisa em si, mas nosso lembrete anual coletivo de que a coisa em si realmente aconteceu, e é tão verdadeira todos os dias do ano, e em cada momento do dia, como era dois milênios atrás. Cristo veio. O próprio Deus, na pessoa de seu Filho, habitou entre nós, como um de nós, e então morreu, ressuscitou e ascendeu. A alegria do Natal não é um único dia dentre os 365 do calendário que terminam à meia-noite. A alegria do Natal é uma realidade fixa e objetiva para o cristão, tão verdadeira hoje quanto ontem.
E nós somos chamados a vivê-la. A história e nossas vidas nessa era ainda não terminaram. O evento decisivo aconteceu na vinda de Cristo, e a obra continua a ser feita, em nós e através de nós. Novos dias estão vindo. Novos anos também. E Deus nos chama para edificar nossas vidas – anos que ainda não se desenrolaram – na alegria do Natal; para trazer esse grande e imutável passado do Natal para o presente e viver um futuro diferente por causa disso.
Para uma semana como a nossa, é uma benção simples e obscura do Novo Testamento que une a alegria do Natal que ficou para trás a um catalisador para a ação nos dias à nossa frente. É uma benção fácil de ignorar, uma vez que ela está no meio da epístola, em vez de aparecer no final.
“Ora, nosso Senhor Jesus Cristo mesmo e Deus, o nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança, pela graça, consolem o vosso coração e vos confirmem em toda boa obra e boa palavra.” (2 Tessalonicenses 2.16-17)
Observe como uma decisiva ação divina no passado alimenta o motor do presente para energizar uma nova vida – nossas vidas – e produzir novas forças para os tempos vindouros.
O Pai amou e entregou
Enquanto a benção se estende ao futuro – para a vida ainda a ser vivida –, Paulo não pode deixar de falar sobre o que Deus já realizou no passado. A divina genialidade do Cristianismo, que o diferencia de todas as outras pretensas religiões, não começa com afazeres, nem com o ônus do nosso realizar, mas com os grandes e imutáveis feitos do passado. Para os cristãos, o passado não é apenas passado. O passado, conforme revela o Deus que é, é poder para o presente, como Deus é presente.
Paulo tem algo em particular para orar para que “o próprio nosso Senhor Jesus Cristo” faça por nós no presente, mas ele quer que saibamos que Cristo não agirá desonestamente. Ele e seu Pai estão trabalhando em conjunto e, ao mencionar “Deus, nosso Pai”, Paulo expressa o que está feito, consumado, realizado e é inalterável: ele “nos amou e nos deu conforto eterno e boa esperança através da graça”.
Sua posição correta diante de Deus não se deve a suas ações, mas às dele. Muito antes de chamar você para qualquer coisa, ele amou você e demonstrou isso na história, quase dois mil anos antes de você nascer. “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Há um feito inestimável para a fé cristã. “Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hb 10.14). Da cruz, Jesus declarou: “Está consumado” (Jo 19.30). Em sua obra consumada, nós entramos em um relacionamento com Deus somente pela fé, não por qualquer ação de nossa parte.
Eterna alegria, esperança sólida
Paulo menciona aqui dois feitos em particular que são nossos em Cristo: eterna alegria (“conforto”, em grego, paraklēsin) e boa esperança. A alegria que é nossa, pela graça, em Cristo, não é passageira. Não é temporal, pouca ou barata, mas real, forte, infinita e eterna. Sua fonte não está em nós, inconstantes como somos, mas segura, fora de nós, no próprio Cristo, que não é inconstante, mas infinitamente fiel.
E a esperança que é nossa, pela graça, em Cristo, não é uma esperança que vai mal ou que pode se revelar falsa. É uma esperança sólida, uma boa esperança – esperança de que Deus fará o bem. Em um mundo repleto de esperanças fracas, vazias, enganosas e ruins, a dele é boa. Não irá decepcionar.
Então, primeiro, Paulo acentua a ação do Pai, ação que, no entanto, existe com, em e através de seu Filho. Ele amou. Ele entregou. E essas graças passadas têm claras implicações presentes.
Jesus alegra e fortalece
Paulo então ora pela ação presente de Cristo, que ainda não é nossa. Chegaremos lá, mas não se apresse. Afaste-se e deixe a Divindade liderar.
Assim como Cristo e o Pai agiram no passado, mas a ênfase anterior estava no Pai, agora, no presente, eles trabalham em conjunto com a ênfase no Filho. Agora, Paulo ora para que o próprio Cristo possa alegrar seus corações e fortalecê-los.
A alegria de Cristo em nossos corações não é apenas realizada no passado. Ela é presente. Ele faz isso agora pelo seu povo. Ele faz isso hoje. Ele fará amanhã. Jesus ama alegrar nossos corações. E, entenda, ele não apenas nos faz felizes – por mais maravilhoso que isso seja – e nos deixa fracos. Ele alegra e fortalece (“estabelece”, do grego stērizai). Ele faz nossos corações fortes, ou seja, prontos para agir.
Essa é uma oração notável: que o próprio Cristo nos encheria de ânimo e força. O próprio Cristo fornece o poder para sentirmos, resolvermos e fazermos o que Deus nos chamou para fazer.
O próprio Cristo como fortalecedor – estranho para alguns ouvidos – é, na verdade, um refrão muito usado pelo apóstolo Paulo. “Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério” (1Tm 1.12). Jesus lhe deu força, ele diz. E ele testificou que, quando estava sozinho, “o Senhor me assistiu e me revestiu de forças” (2Tm 4.17). Então Paulo diz a Timóteo: “Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus” (2Tm 2.1), e nos diz: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder” (Ef 6.10). E claro, Paulo declara de maneira memorável em Filipenses 4.13: “tudo posso naquele que me fortalece”. O apóstolo até fala de sua própria labuta “segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim” (Cl 1.29).
O próprio Deus-homem ressurreto e que reina fornece energia para o seu povo fazer o que ele os chamou para fazer. Ele está sentado à direita de seu Pai e não está inativo. Ele está pronto para animar sua alma e fortalecer seu corpo. E agora, com que finalidade?
Agora, temos dois confortos – duas alegrias. A alegria eterna que nos foi dada em Cristo pelo Pai; e, agora, um ânimo presente, em Cristo e vindo do próprio Cristo. Por fim, nossa ação, nossa parte, nosso chamado, nossas resoluções: “em toda boa obra e palavra”.
Trabalhe como um protestante
As ações passadas e presentes de Cristo e seu Pai são uma receita incrível para uma ética de trabalho cristã para o novo ano. A graça divina forma o fundamento e provê o poder pelo qual agora agimos, pela fé, através das palavras de nossas bocas e das obras de nossas mãos e pés. Impulsionados e alimentados por tal graça, também brilhamos a nossa “luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16).
Podemos chamar isso de “ética de trabalho protestante”. Esse termo tem sido mal interpretado por alguns como significando que os protestantes trabalham duro porque veem o sucesso como um sinal de que eles são eleitos. Isso é um sério mal-entendido. Em vez disso, a verdadeira “ética de trabalho protestante”, se assim vamos nos referir a ela, poderia ser um rótulo para colocar na perspectiva correta o que vimos aqui: a ação anterior e primária de Deus em Cristo, incluindo a alegria e força presentes, conduz a uma atividade ávida e enérgica em seu povo, para o bem dos outros.
Para toda obra e palavra
Em outras palavras, porque somos justificados diante de Deus somente pela fé em Cristo, estamos seguros o suficiente para gastar nossas vidas na causa de Cristo. O céu está garantido. E agora? Vamos mudar as coisas na terra. A obra consumada de Cristo e o aspecto completo de nossa justificação nos liberta para o trabalho contínuo de santificação e atos de amor em serviço aos outros. Saber que estamos seguros em Cristo e capacitados pelo seu Espírito nos liberta para falar o bem e fazer o bem no mundo, em vez de nos voltarmos para dentro para tentar, constantemente, nos consertar diante de Deus.
Enfaticamente, o cristianismo não torna as pessoas preguiçosas. Pelo contrário, transforma os preguiçosos em sérios trabalhadores. O evangelho, no poder do Espírito, nos torna cada vez mais “zelosos de boas obras” (Tt 2.14). Aqueles que são salvos em Cristo, “não por obras de justiça praticadas por nós” (Tt 3.5), são finalmente livres e divinamente capacitados “para toda boa obra” e para “dedicar-se às boas obras” (Tt 3.1, 8, 14).
Que o próprio Cristo faça isso nesse próximo ano. Que o Natal que ficou atrás de nós, verdadeiro tanto hoje como sempre – em sua certeza e alegria –, nos conduza com esperança e energia para as incógnitas do ano e da vida por vir.